Por Memória Globo

Acervo Globo

Nuno Leal Maia pode se considerar, de fato, um ator de muita sorte. Tem dezenas de novelas, filmes e peças teatrais em seu currículo, e se dá ao luxo de não apontar um ou outro papel que tenha gostado mais de fazer. Mas o grande público não vai esquecer sua atuação como o jogador de futebol Bertazo, em 'Vereda Tropical' (1984), como o bicheiro Tony Carrado, em 'Mandala' (1987), como o surfista veterano Gaspar Kundera, em 'Top Model' (1989), ou, mais recentemente, como o professor Paulo Pasqualete, em 'Malhação – Múltipla Escolha' (2001). “Gosto de todos os personagens que fiz. É como se cada um deles fosse um pouquinho de mim. Também, nunca peguei um personagem de que não gostasse”, garante.

Talvez esse seja o segredo da sua bem-sucedida carreira de ator, aliado ao jeito bonachão, naturalmente engraçado e de grande identificação com o público jovem. Isso ajuda a explicar o fato de Nuno Leal Maia dificilmente passar mais do que um ou dois anos fora da telinha. Isso desde 'Estúpido Cupido', de Mário Prata, em 1976 – sua primeira novela na Globo.

Adora-se novela, não só no Brasil, mas em quase todos países latinos, e hoje até nos Estados Unidos. Nós, aqui, já convivemos com novela há muito tempo: primeiro, no rádio, depois na televisão. Enfim, é o nosso arroz com feijão. Acho que a novela faz parte da vida do brasileiro; é o dia a dia do brasileiro.

Nuno Leal Maia em 'Agora é que São Elas', 2003. — Foto: Jaq Joner/Globo

Início da carreira

Nuno Leal Maia é filho de um despachante aduaneiro e uma comerciante. Cursou os quatro anos de comunicação na Universidade de São Paulo, mas a dependência em uma matéria o fez desistir de buscar o diploma. Chegou a dar aulas de história, para se sustentar, mas sua carreira no teatro e, depois, no cinema e na televisão, era uma questão de tempo. Pouco tempo.

“Em 1969 houve um teste para a peça 'Hair'. Todo mundo da minha turma da faculdade foi fazer, e eu também. Sônia Braga estava lá, mas a gente não se conhecia. Passei em todos os testes, menos no último. Nessa época eu cursava história junto com comunicação, e comecei a me preparar para fazer outra coisa na vida. Inclusive, arrumei trabalho em uma escola”, conta.

Acontece que o ator Carlos Alberto Riccelli, então amigo de faculdade de Nuno, apareceu duas vezes em sua vida, transformando-a para sempre. Primeiro, porque ele atuava em 'Hair', mas teve que sair, e sua vaga acabou caindo no colo de Nuno. Depois, o mesmo Riccelli o indicou para um programa na TV Tupi, 'Dom Camilo e Seus Cabeludos', com direção de Benjamin Cattan. Já dedicado ao teatro, com algumas peças no currículo, Nuno Leal Maia contracenou com nomes como Ney Latorraca, Tereza Sodré e Walter Stuart, e se apaixonou de vez pela televisão, encontrando definitivamente seu lugar no mundo: desde que fosse em um palco, um estúdio ou em uma locação, era onde ele queria estar.

Entrada na Globo

Walter Avancini convidou Nuno para trabalhar na Globo, mas na época ele estava mais interessado em viajar pelo país com a peça 'Greta Garbo, Quem Diria, Acabou em Irajá', que fazia muito sucesso. Recusou o convite para fazer novela, mas, em 1976, participou de um comercial institucional da emissora, intitulado 'Mexa-se', que estimulava a prática de exercícios físico – e teve ótima repercussão. Acabou convidado para trabalhar em 'Estúpido Cupido', a última novela da fase preto e branco da Globo, quando viveu um engenheiro trapaceiro. Ao final da novela, identificada sua veia histriônica, foi convidado a trabalhar no humorístico 'Planeta dos Homens', onde contracenou com nomes como Jô Soares, Agildo Ribeiro, Miele e Lúcio Mauro: “Foi uma escola maravilhosa. Foi onde aprendi a trabalhar esse lado da comédia, porque não sabia lidar muito bem com isso. Foi uma das épocas mais gostosas”.

Do humorístico, Nuno Leal Maia se transferiu para a TV Bandeirantes, convidado para protagonizar a novela 'Pé de Vento', de Benedito Ruy Barbosa. Voltou para a TV Globo em 1983, para atuar na minissérie 'Bandidos da Falange', de Aguinaldo Silva, e emendou com a novela 'Champagne', de Cassiano Gabus Mendes. Nuno viveu seu papel de maior sucesso até então, o jogador de futebol Bertazo, em 'Vereda Tropical' (1984), primeira novela de Carlos Lombardi na Globo. No ano seguinte, ganhou um papel de maior destaque, o professor Fábio Coutinho em 'A Gata Comeu', de Ivani Ribeiro, na qual seu personagem viveu um romance tórrido com a personagem de Christiane Torloni.

'A Gata Comeu': cena em que Fábio (Nuno Leal Maia) premia seus melhores alunos

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Em 1986, o diretor Herval Rossano foi para a TV Manchete e convidou Nuno para acompanhá-lo, para atuar em 'Novo Amor', de Manoel Carlos. Mas depois de viver justamente um bicheiro no cinema, em 'O Rei do Rio', de Fábio Barreto, o ator retornou para a Globo e viveu outro personagem marcante: o bicheiro Tony Carrado, em 'Mandala', de Dias Gomes. Na trama, o bicheiro fazia par com a personagem de Vera Fischer, a quem só chamava de “minha deusa”, expressão que caiu no gosto popular. "Eu queria fazer um bicheiro mais colorido, não digo cafona, mas colocar mais cor nele, sabe? Um cara todo verde e amarelo. Eu comecei a falar errado algumas coisas, e a personagem começou a crescer, e tomou uma dimensão que escapou do meu controle. Em novela das oito, quando o personagem começa a fazer sucesso, é um negócio terrível: você não tem sossego", diverte-se.

Dois anos depois veio mais um personagem muito querido do público, principalmente da juventude: o surfista veterano Gaspar Kundera, da novela 'Top Model', de Walther Negrão e Antonio Calmon. “Até hoje as pessoas lembram, principalmente os surfistas, e me chamam de Gaspar Kundera. Até hoje eles acham que eu surfo maravilhosamente, mas nunca surfei”.

Gosto de todos os personagens que fiz. É como se cada um deles fosse um pouquinho de mim. Também, nunca peguei um personagem de que não gostass

EXCLUSIVO MEMÓRIA GLOBO

Webdoc sobre a novela Top Model com entrevistas exclusivas do Memória Globo.

Webdoc sobre a novela Top Model com entrevistas exclusivas do Memória Globo.

Nuno fez minisséries, participou de especiais como 'A Grande Família', em 1987, vivendo Agostinho, e, em 1991, atuou em 'Vamp', outra novela de Antonio Calmon. Fez uma participação especial em 'Pedra sobre Pedra', de Aguinaldo Silva, Ana Maria Moretzsohn e Ricardo Linhares, atuou em 'Pátria Minha', de Gilberto Braga (onde viveu um paraplégico), 'O Amor Está no Ar', de Alcides Nogueira, 'Suave Veneno', de Aguinaldo Silva, 'Meu Bem Querer', de Ricardo Linhares, algumas minisséries, como 'Meu Marido', de Euclydes Marinho e Lula Torres, e 'Contos de Verão', de Domingos de Oliveira. Entre 1999 e 2001, assumiu o papel do professor Paulo Pasqualete, no seriado 'Malhação – Múltipla Escolha', um sucesso de público. "Chegava de manhã para gravar, passava creme de barbear na cabeça inteira e fazia uma barba só, de cima a baixo. Um ano e tanto fazendo isso! Aí, pedi ao Emanuel Jacobina: ‘Pelo amor de Deus, manda o Pasqualete fazer um implante. Eu não aguento mais raspar a cabeça’. Era divertido fazer", lembra. O personagem retornou ao Colégio Múltipla Escolha em 2003 e permaneceu na novela até 2006.

'O Clone', de Gloria Perez, 'Agora é que São Elas', de Ricardo Linhares, o remake de 'O Profeta', de Ivani Ribeiro, 'Caras & Bocas', de Walcyr Carrasco, e o remake de 'Ti-Ti-Ti', escrito por Maria Adelaide Amaral a partir do original de Cassiano Gabus Mendes, completam a lista de novelas do currículo do ator. Em 2012, estreou no elenco de 'Amor Eterno Amor', de Elizabeth Jhin. De 2017 a 2019, integrou o elenco da série original Disney Channel 'Juacas'.

Nuno Leal Maia em 'Malhação', 1999-2001 — Foto: Acervo Globo

Cinema

No cinema, além de um sem número de filmes de pornochanchada, nos anos 1970, Nuno Leal Maia também atuou, entre outros, em 'A Dama da Lotação' (1978), de Neville de Almeida, 'O Bem Dotado – O Homem de Itu' (1978), de José Miziara, 'Perdoa-me Por me Traíres' (1980), de Braz Chediak, 'O Beijo da Mulher Aranha' (1985), de Hector Babenco, 'O Escorpião Escarlate' (1990), de Ivan Cardoso, e 'Tainá 3' (2011), de Rosane Svartman.

Eu fiz vários filmes de sucesso também, mas como a televisão não há comparação. A TV é o veículo mais poderoso que existe. E é a minha vida.

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