Memória Globo

Dedicação, persistência e sorte são características que impulsionaram o jovem Marcos Losekann, natural da pequena cidade de Independência, no Rio Grande do Sul, a ganhar o mundo. Em 2000, cruzou o Atlântico para se tornar correspondente da Globo em Londres. Cobriu as guerras do Iraque e do Afeganistão da capital inglesa. Quatro anos depois, inaugurou o posto de correspondente no Oriente Médio. De Jerusalém, fez reportagens sobre os conflitos entre Israel e Autoridade Palestina, a morte de Yasser Arafat (2004), o sequestro e assassinato no Iraque do engenheiro brasileiro João Vasconcellos (2007) e a guerra entre Israel e Líbano (2006). Em 2007, voltou a Londres para assumir a coordenação do escritório, permanecendo até 2013. A partir de agosto daquele ano, na Globo de Brasília, fez reportagens especiais até o Distrito Federal se tornar base para a cobertura de sucessivos escândalos políticos. Assumiu as reportagens sobre o poder judiciário, especialmente o Supremo Tribunal Federal.

Depoimento - Marcos Losekann: Amazônia - memoriaglobo/video-8114813.jpg — Foto: Memória Globo

Ser correspondente é uma fase importante na vida do repórter, do ponto de vista da grandiosidade do que se faz. Temos o mundo para cobrir”.

Trajetória

O filho único da dona de casa Elaine Ciechowicz Losekann, e do caminhoneiro Ary Losekann, morou em tantas cidades que até perdeu a conta de quantas. Ele cresceu em Três Passos, Rio Grande do Sul, ingressou na faculdade de Direito em Cruz Alta, transferiu-se para o jornalismo, passou por redações de jornal e televisão em Cruz Alta, Porto Alegre, Caxias do Sul e Florianópolis. Em 1990, convidado pela Globo, mudou-se para Brasília. Dois anos depois, foi enviado à Amazônia para ocupar um posto de repórter na região, período que considera o “mais importante, decisivo e incomparável” de sua carreira.

Em 2000, Losekann cruzou o Atlântico para se tornar correspondente internacional. Ficou fora do Brasil até 2013, quando foi para a Globo de Brasília participar da cobertura política. Assumiu as reportagens sobre o poder judiciário, especialmente o Supremo Tribunal Federal.

O jornalista conta que a sorte o colocou nos trilhos do jornalismo. Na época em que cursava a faculdade de Direito, em 1984, foi convidado por amigos para comer uma pizza. “Eu já tinha jantado, não tinha sede, não tinha fome, não havia razão para estar lá. E nem dinheiro eu tinha para pagar a pizza, caso me coubesse uma parte. Mas fui. Logo na entrada, uma pessoa passou mal, teve um mal súbito e desmaiou. Essa pessoa se chama Flavio Damiani. Ele era o chefe de reportagem da televisão local”, recorda.

Essa TV era uma afiliada da Rede Globo, a RBS Cruz Alta. Losekann começou a fazer visitas ao novo amigo e se ambientou à rotina da redação. Foi contratado e virou repórter. Com poucos meses de profissão, ainda em 1984, emplacou sua primeira matéria na Globo. Por causa do grande sucesso da minissérie O Tempo e o Vento, os olhos do Brasil estavam voltados para o Rio Grande do Sul. A obra era baseada no romance de Érico Veríssimo, cidadão de Cruz Alta, e Losekann contou, em reportagem exibida no 'Jornal Hoje', passagens da vida do escritor na cidade.

Após essa experiência, ele trabalhou na Rádio Gaúcha, em Porto Alegre, e também nos jornais Zero Hora e Diário Catarinense. “Foi uma grande experiência, mas depois de um período navegando pela mídia impressa e pelo rádio tive a certeza de que o meu caminho era a televisão”, conta. Trabalhou na RBS TV Pelotas, RBS TV Caxias e RBS TV Florianópolis – quando entrou pela primeira vez no Fantástico e no Jornal Nacional, com uma reportagem sobre um desastre ecológico que acontecia na região de Criciúma (SC). Ele tinha apenas 22 anos.

Assassinato de Chico Mendes (1990)

Assassinato de Chico Mendes (1990)

Em 1990, Losekann recebeu uma proposta da Globo de Brasília. Mobilizado pela sucursal, viajou ao Acre para dividir com Ernesto Paglia a cobertura do julgamento dos assassinos do líder ambientalista Chico Mendes, em Xapuri. Nessa época, Losekann conseguiu dar um furo jornalístico com sua reportagem sobre um avião com garimpeiros brasileiros que foi derrubado na Floresta Amazônica, pela guarda nacional da Venezuela. Enviado ao local, o repórter conseguiu filmar o avião crivado de balas e contestou com as imagens a versão oficial do governo da Venezuela sobre o caso. “Eu tinha desvendado a história e ainda provava que eles tinham feito uma maquiagem”, ressalta.

Depoimento - Marcos Losekann: Caso Chico Mendes

Depoimento - Marcos Losekann: Caso Chico Mendes

Desbravando a Amazônia

Por conta da Rio-92, a conferência que reuniu no Rio de Janeiro líderes mundiais para discutir a questão do desenvolvimento sustentável, Losekann foi o escolhido da Globo para ser correspondente na Amazônia. Aproveitou o período para produzir um leque variadíssimo de reportagens, que abordaram temas como tráfico de drogas, pesca predatória, apreensão de tartarugas, a vida dos moradores de regiões ribeirinhas e o festival de Parintins. O repórter ainda guarda o número exato de sua produção naquele período: “Foram 336 matérias, em três anos, cinco meses e 11 dias. Em todos os ângulos, a gente encontrava uma imagem que valia uma matéria”. A experiência na Amazônia rendeu seu primeiro livro: O Ronco da Pororoca, Histórias de um Repórter na Amazônia, lançado em 1999 pela Editora Senac.

Do Norte, o jornalista também participou, com Pedro Bial, da cobertura das eleições presidenciais de 1994. “Nesse episódio da eleição, primeiro mandato do Fernando Henrique Cardoso, a parceria foi uma coisa impressionante. E o resultado foi maravilhoso, porque a Globo tinha notícia, informação, fato; e tinha matéria de alma, da alma do caboclo, em um momento de eleição, votando”, lembra.

Eleições Presidenciais - 1994

Eleições Presidenciais - 1994

Marcos Losekann trocou a Amazônia por São Paulo, em 1995. No ano seguinte, fez parte da cobertura do acidente do avião da TAM que caiu perto do aeroporto de Congonhas. “Subi em um prédio, na cabeceira da pista, e de cima desse prédio mostrei o quanto era iminente um acidente”. Na época (1996), foi enviado à Maceió, AL, onde cobriu o caso do assassinato de Paulo César Farias. Na capital paulista, ele também cobriu o caso do assassinato de Paulo César Farias, o tesoureiro da campanha do ex-presidente Fernando Collor de Mello. Em 1998, com uma entrada ao vivo para o Fantástico, participou da primeira transmissão digital em alta definição da TV brasileira: ele falava de um shopping em São Paulo com o repórter Pedro Bial, que estava na França.

Correspondente em Londres

Em 2000, Losekann foi convidado para ser correspondente da Globo em Londres, após uma passagem de seis meses pelo Rio de Janeiro. Para ele, o convite representou a coroação de sua trajetória como jornalista. “Ser correspondente é uma fase importante na vida do repórter, do ponto de vista da grandiosidade do que se faz. Temos o mundo para cobrir”, analisa. Da capital britânica, Losekann repercutiu as principais notícias sobre as guerras do Iraque e do Afeganistão. “Estar em Londres não era estar no front, mas numa das sedes de governo de um dos países em guerra. Teve uma importância muito grande, e, ao lado dos colegas que estavam nos Estados Unidos, acho que foi feita uma cobertura histórica”.

repórter Marcos Losekann estréia no Jornal Nacional como correspondente de Jerusalém, em Israel, cobrindo o acirramento do conflito entre palestinos e israelenses na Faixa de Gaza - memoriaglobo/repórter-Marcos-Losekann-estréia-no-Jornal-Nacional-como-correspondente-de-Jerusalém-em-Israel-cobrindo-o-acirramento-do-conflito-entre-palestinos-e-israelenses-na-Faixa-de-Gaza.jpg — Foto: Memória Globo

Marcos Losekann se mudou para Jerusalém, “uma cidade do mundo”, em 2004 e inaugurou o posto de correspondente no Oriente Médio. Permaneceu ali durante três anos. Nesse período, cobriu a morte do líder da Autoridade Palestina Yasser Arafat, a retirada dos colonos israelenses da Faixa de Gaza e o sequestro e assassinato do engenheiro brasileiro João Vasconcellos. Em 2006, quando estourou mais uma guerra entre Israel e Líbano, transmitiu as notícias in loco: “Por eu já estar em Israel, que era um dos países em guerra, consegui chegar ao front no primeiro dia da guerra. Só saí de lá no 33° dia, quando o conflito acabou”.

Losekann sente orgulho de ter participado da cobertura desses conflitos, muitas vezes produzindo as matérias do início ao fim: filmando, editando e gerando, sozinho. As condições eram adversas, mas ele estava a serviço da informação. “Eu queria ter sido correspondente da paz. Infelizmente, saí dessa minha experiência no Oriente Médio sem ter vencido isso e é lamentável. Não há vencedores em nenhuma trincheira, os dois lados são perdedores”.

Yasser Arafat - Morte (2004)

Yasser Arafat - Morte (2004)

Em dezembro de 2006, Losekann voltou para Londres, dessa vez para assumir a coordenação do escritório da Globo. Logo no início de sua gestão, comandou uma grande reforma na redação, que permitiu que o ambiente de trabalho fosse utilizado também como cenário para entradas ao vivo em telejornais da Globo e da GloboNews.

Mas o trabalho do jornalista não se restringiu ao dia a dia no escritório. Losekann viajou o mundo para variadas reportagens. Em 2008, durante uma cobertura no Líbano, ele viveu uma experiência radical. Com o repórter cinematográfico Paulo Pimentel, e o produtor/tradutor freelance, Tariq Saleh, foi sequestrado e interrogado por militantes do grupo extremista Hezbollah. Os três estavam trabalhando em uma reportagem, no centro de Beirute, quando foram abordados: “Enquanto fazíamos a matéria, chegaram os caras do Hezbollah, nos obrigaram a entrar em um carro com vidro fumê, inicialmente. Depois, nos mudaram para um carro com cortina preta, e a coisa foi se complicando. Eles nos levaram para um lugar, botaram cada um de nós dentro de uma sala, e vinham em rodízio fazer o questionamento, comparando as respostas”. Depois de mais de cinco horas, acabaram sendo libertados, ilesos.

Grandes coberturas

Também em 2008, realizaria novo feito jornalístico, dessa vez sem sobressalto. Naquele ano, a ex-candidata à presidência da Colômbia Ingrid Betancourt foi solta após seis anos em poder de guerrilheiros das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). Logo depois de libertada, a franco-colombiana seguiu para Paris, onde concederia apenas três entrevistas exclusivas – acabou concordando em conversar também com Losekann e Sergio Gilz, os únicos repórteres da América Latina a conseguir entrevistá-la.

Marcos Losekann viajava frequentemente pela Europa e outros países da região em busca de histórias relevantes para os telejornais da Globo. Em 2010, cobriu a greve geral na França; em março de 2011, foi a Chernobyl, na Ucrânia, para registrar os 25 anos do acidente nuclear. Antes mesmo de terminar essa reportagem, manifestações populares pela democracia tomaram conta de países no norte da África e no Oriente Médio: era a Primavera Árabe. Os repórteres deixaram Kiev e, com escala em Londres, rumaram à Líbia.

Primavera Árabe (2011)

Primavera Árabe (2011)

Também em 2011, Losekann ajudou a organizar a cobertura do escritório de Londres para o casamento do príncipe William com Kate Middleton; dias depois, voou a Abbottabad, no Paquistão, para repercutir a morte de Osama Bin Laden. Esta cobertura foi uma das mais marcantes de sua carreira.

Isso porque Losekann e Gilz foram dois dos primeiros repórteres da imprensa ocidental a pisar no Paquistão. Durante uma semana – o período em que estava vigente seu visto de trabalho – chegaram chegaram à casa onde o terrorista foi morto. O jornalista entrevistou vizinhos de Bin Laden e passou, ao vivo, informações exclusivas sobre as investigações aos telejornais da rede. “Nessa cobertura, sem falsa modéstia, não houve nenhuma genialidade, apenas agilidade: chegar antes de todos, montar nosso próprio equipamento, filmar rapidamente, escrever e gravar sem delongas… E o Gilz, justiça seja feita, sempre foi um cinegrafista incomparável, imbatível: ele tem a malícia, tem jeito para falar com a população local e, ao mesmo tempo, paciência, não perde a calma nunca em momentos de tensão. A gente caía numa blitz e, quando eu via, ele estava lá tentando nos tirar do problema, conversando, fumando um cigarro com os guardas. E quando tudo falhava, bastava puxar assunto de futebol. Os orientais adoram nossa Seleção”

Renúncia do Papa Bento XVI (2013)

Renúncia do Papa Bento XVI (2013)

Em 2013, ele fez a cobertura da renúncia do Papa Bento XVI para o Jornal Nacional: foi enviado em um jatinho de Londres diretamente à capital italiana, também acompanhado de Sergio Gilz. Após um voo cheio de turbulências, sob um temporal, que quase impediu o pouso, deu tudo certo: conseguiu fazer entradas ao vivo para o JN com a Praça São Pedro ao fundo, trazendo as principais informações sobre a renúncia. Ainda em 2013, depois de mais de dez anos como correspondente internacional, Marcos Losekann voltou para o Brasil.

Centro da política

No dia 13 de agosto de 2013, exatamente 13 anos após sua chegada em Londres, Marcos Losekann entrava no Jornal Nacional , como repórter em Brasília. Sua primeira reportagem foi sobre a mudança de regras para os beneficiários da tarifa social da conta de luz. Durante alguns meses, o repórter fez matérias especiais para o Fantástico, como a série Brasil, quem paga é você (2013); e para o Jornal Nacional: Transplantes (2014); Menores Infratores (2015); Acessibilidade (2015). Para o Bom Dia Brasil, a série Analfabetismo (2016). Quando as notícias sobre a operação Lava-Jato se intensificaram , Brasília se tornou centro da polêmica envolvendo os poderes Executivo, Legislativo e o Judiciário; acentuado pelo processo de Impeachment da presidente Dilma Rousseff (2015/16).

Naquele momento, Losekann passou a fazer as reportagens envolvendo principalmente o Supremo Tribunal Federal. Até voltou a cursar a faculdade de Direito para se especializar no assunto.

Literatura

A dedicação de Marcos Losekann à literatura, que começou com o livro que escreveu sobre sua experiência na Amazônia, deu origem também à trilogia de ficção 'Entrevista com Deus', que reúne os livros 'O Dossiê Iscariotes', 'O Segredo do Salão Verde' e 'Entre a Cruz e a Suástica'. As obras foram publicadas respectivamente em 2006, 2007 e 2009, pela Editora Planeta.

Fonte:

Mais do memoriaglobo
Projeto Fragmentos

A cidade mineira de São João Del Rei virou palco de romance vivido em meio a discussões sobre a divisão de terras

'Voltei Pra Você' no Globoplay: seis capítulos estão disponíveis  - Foto: (Nelson Di Rago/Globo)
Escrita por Gilberto Braga

Busca de ascenção social, sede de vingança e discussão sobre racismo conduziam as principais tramas da novela

'Corpo a Corpo' estreia no Viva; novela foi exibida há 40 anos - Foto: (Memória Globo)
Show da Vida

Programa em forma de revista eletrônica, o 'Fantástico' é um painel dinâmico do que é produzido na TV Globo. Criado em 1973, é exibido aos domingos, à noite. Confira algumas reportagens que fazem parte da história de 'O Show da Vida'.

Relembre grandes reportagens exibidas pelo 'Fantástico'  - Foto: (Arte/Globo)
Projeto Resgate

Ambientada no ensolarado Rio de Janeiro, Água Viva trazia a disputa de dois irmãos pela mesma mulher.

Escrita por Gilberto Braga e Manoel Carlos, 'Água Viva' chega ao Globoplay - Foto: (Ayrton Camargo/Globo)
Perfil da semana

A atriz Isabela Garcia nasceu no Rio de Janeiro. Estrou na Globo aos quatro anos de idade, em 1971. Com mais de quatro décadas de carreira, participou de novelas de sucesso nos anos 1970 e 1980.

Isabela Garcia estreou na Globo aos quatro anos  - Foto: (Memória Globo)
O amor está no ar

O amor está no ar e o que não falta é casal apaixonado na história da teledramaturgia da Globo. Confira alguns dos mais marcantes!

Relembre casais marcantes no especial 'Namorados da Dramaturgia'  - Foto: (Arte/Globo)
Luto

A atriz Ilva Niño nasceu em Floresta, Pernambuco, em 1933. O primeira trabalho na Globo foi em 1969. Brilhou em Roque Santeiro (1985), quando interpretou a Mina, a empregada doméstica e confidente da viúva Porcina (Regina Duarte). Ela morreu em junho de 2024.

Atriz Ilva Niño morre aos 90 anos  - Foto: (Renato Velasco/Memória Globo)