Por Memória Globo

Renato Velasco/ Memória Globo

Era julho de 1995 quando o jornalista Luiz Eduardo Garcia leu uma reportagem que dizia que a Globo ia criar um canal exclusivo de jornalismo na TV a cabo. Na época, Ledu, como é chamado pelos colegas, tinha 27 anos e era repórter do Jornal do Brasil, mas o interesse mesmo era trabalhar em televisão. “Eu vi que quem ia dirigir a GloboNews era a Alice-Maria. Entrei em contato, e ela me falou para vir conhecer o canal, que estava bem no início. Eles faziam os primeiros pilotos. Falei com a Alice o que eu queria, contei minhas experiências, e ela falou: ‘Se integra com o pessoal.’ E eu fiquei." 

Uma coisa que a gente aprendeu é nunca ficar confortável com o formato de um jornal. Nunca ficamos parados no mesmo lugar.

Bastidores da entrevista de Luiz Eduardo Garcia ao Memória Globo, 2016. Renato Velasco/Memória Globo — Foto: Renato Velasco/Memória Globo

Ledu foi contratado como editor de texto e, antes do canal entrar no ar, ele e a equipe passaram por meses de preparação até a exibição das primeiras reportagens. “A gente fazia muitos pilotos de programas. Foi um momento de usar a criatividade, dar ideias, errar, criar. Todo mundo queria que aquilo desse certo, muita gente jovem, mas todo mundo unido. Um espírito de companheirismo bem legal.”

Até que chegou o 15 de outubro de 1996. Dia da estreia.

“Todo mundo nervoso, não podia ser diferente. Editei uma matéria sobre a seleção brasileira e conferi umas duzentas vezes para ver se estava tudo certo. Pedi para outras pessoas conferirem também, e entramos no ar. Era o primeiro jornal às nove horas, bem diferente do que é hoje: dois apresentadores, escalada com as manchetes, previsão do tempo, as cotações, indicadores econômicos e, aí sim, começava o jornal. Mas deu tudo certo. Eu lembro até que o [escritor] Jorge Amado estava doente e tinha passado por um procedimento, e colocamos essa notícia na escalada, e o [apresentador Eduardo] Grillo leu. Tinha uma palavra que era cineangiocoronariografia. Começamos o jornal com essa palavra, com o apresentador nervoso, mas ele leu certinho, sem gaguejar, e o jornal das nove foi perfeito, sem erro, sem problema nenhum.”

Início da carreira

Luiz Eduardo de Amorim Garcia é filho do jornalista Luiz Antônio de Amorim Garcia e da produtora de arte Neuza Maria Garrido de Amorim Garcia. Ledu morou parte da infância em São Paulo. Voltou ao Rio para concluir o ensino médio e fazer faculdade de comunicação social, opção em Jornalismo.

Foi durante a graduação que atuou pela primeira vez na Globo. “O meu primeiro emprego foi no arquivo de imagem do Centro de Documentação, em 1988. Eu aprendi a editar e fiquei trabalhando, por dois meses, com a Vera Albuquerque, que era chefe do arquivo na época. Depois continuei no Cedoc como estagiário. Em janeiro de 1989, fiz estágio na sinopse, com a Rita Marques e, no final, fui contratado, em janeiro de 1990, para ser pesquisador de texto.”

A experiência não durou muito. No final de 1990, Luiz Eduardo saiu da Globo e foi trabalhar como assessor de imprensa. Depois, prestou serviços para o Governo do Estado do Rio de Janeiro. “Fui trabalhar na Secretaria Extraordinária de Projetos Especiais, no segundo governo [Leonel] Brizola, cujo secretário era o Darcy Ribeiro e, lá, voltei a trabalhar com vídeo.” Ledu foi produtor de uma série de entrevistas com grandes personalidades da história brasileira. Eles contavam a história do Brasil com o olhar de quem testemunhou importantes acontecimentos do país. A série foi dirigida pela cineasta e jornalista Lúcia Murat. “Foi bom porque aprendi um pouco de tudo, de direção, edição, produção. Fazíamos outros programas também, que eram exibidos nos CIEPs, e havia muita gente boa trabalhando ali, como o [cineasta] Walter Lima Júnior”. Em 1995, Luiz Eduardo foi para o Jornal do Brasil. “Fui ser repórter do JB Niterói, sem nunca ter ido a Niterói na minha vida. Era um caderno semanal bem interessante. Fui conhecendo a estrutura do jornal, conheci bastante gente que hoje trabalha aqui, pessoas que vieram do JB para a Globo.”

Na GloboNews

De 1996 para cá, Ledu participou de coberturas importantes no canal de notícias 24 horas. Uma delas foi a do sequestro do ônibus 174, em 2000.

“Essa cobertura começou no início da tarde e a gente entrou no ar e não saiu mais. Eu estava na redação, ajudando na cobertura. A [repórter] Vanessa Riche foi enviada para lá e ficou narrando, brilhantemente, o tempo todo, durante várias horas. Eram imagens horríveis, do cara ameaçando matar as pessoas, e teve uma hora que ele chegou a atirar. Foi uma coisa muito tensa, podia haver um massacre ao vivo. E aí, teve o desfecho. Eu lembro que chegou na minha mão uma fita que veio da rua, aí eu botei numa máquina para ver, e era o sequestrador entrando no carro da polícia, sem ferimento nenhum, provando que ele tinha entrado no carro da polícia vivo ainda. Ele morreu ali. Essa imagem, com ele entrando no carro, foi um cinegrafista nosso quem fez e foi ao ar na hora, bem marcante.”

Repórter Vanessa Riche acompanha ao vivo para o Em Cima da Hora o momento em que chega ao fim o sequestro do ônibus 174 no Jardim Botânico, 'Em Cima da Hora', 12/06/2000.

Repórter Vanessa Riche acompanha ao vivo para o Em Cima da Hora o momento em que chega ao fim o sequestro do ônibus 174 no Jardim Botânico, 'Em Cima da Hora', 12/06/2000.

Experiências bem mais alegres também estão registradas na memória do jornalista. Foram diversas as participações em Copas do Mundo e Olimpíadas, trabalhando não só na redação, mas também viajando para cobrir in loco os eventos internacionais. “Participar da cobertura da Olimpíada de Sidney foi uma experiência inesquecível. Passei a amar Olimpíadas depois disso.” Luiz Eduardo integrou uma equipe grande e passou um mês na Austrália. E lá aconteceu uma novidade, conta: “a gente fazia transmissão ao vivo usando videoconferência. Estava bem no início, não era uma imagem muito estável, era bem cortada. De hora em hora, fazíamos um boletim para cada jornal e tínhamos que fazer tudo. Existia uma tapadeira que montávamos e botávamos o microfone. Era uma caixinha com uma câmera que ficava no meio da redação. A redação toda trabalhando em volta e ninguém sabia que a gente estava entrando ao vivo ali. O Jô Soares estava lá, porque ele estava apresentando um programa dele lá, e não percebia que nós estávamos ao vivo e ia conversar com o [apresentador Eduardo] Grillo, que estava dando notícia: ‘Ô, Grillo, fala comigo, pô, você não me dá atenção.’ E o Grilo, ao vivo, não podia fazer nada e tinha que puxar o Jô Soares. Aí ele sacava e queria sacanear, entrava, abraçava o Grilo, dava beijo: ‘Deixa eu participar do jornal também’, ele dizia.”

'Jornal das Dez'

O trabalho de Luiz Eduardo Garcia na GloboNews inclui também a participação em programas como o Starte e o GloboNews Especial. “O GloboNews Especial era um programa que não tinha nenhum apresentador fixo, ele podia ser sobre qualquer tema relevante. Eu buscava escolher um tema importante da semana para criar um programa em cima disso, mas nem sempre tinha um tema que merecesse tanto destaque. Muitas vezes tinha que fazer tudo muito rápido, porque o programa fechava na sexta-feira e ia ao ar no domingo. Eu passava a semana inteira editando, fazendo roteiro e era muito difícil, porque era, praticamente, eu sozinho, mas era bom. O primeiro grande desafio desse programa foi na morte do Michael Jackson. Foi uma correria danada. O programa tinha esse espírito assim de correr para fazer, de ficar em cima do fato. Teve um outro programa, que foi sobre o massacre de Realengo, que a gente botou no ar o primeiro bloco e o segundo estava editando ainda, com todo mundo trabalhando ali.”

Em 2012, Luiz Eduardo assumiu o cargo de editor-chefe adjunto do 'Jornal das Dez', telejornal do qual ele participou desde o surgimento. “O Jornal das Dez estreou depois de muitos pilotos, de ajeitar a comunicação com os apresentadores e comentaristas, quem fala sobre o quê, a que horas. Fomos indo, ajeitando com o jornal no ar, até chegar ao que ele é. Hoje ele é bem diferente, foi evoluindo, acho que a gente sempre tem que mudar. Uma coisa que a gente aprendeu foi nunca ficar confortável com o formato de um jornal, estar sempre pensando em mudar, porque isso vai dando um frescor, vai dando uma cara nova, e a gente tem tentado fazer isso sempre. Nunca ficamos parados no mesmo lugar.”

Desde 2019, Ledu faz a coordenação e a curadoria dos documentários na GloboNews.

FONTES:

Entrevista concedida por Luiz Eduardo Garcia ao Memória Globo, em 30/05/2016. Perfil de Ledu no LinkedIn.
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