Por Memória Globo

Frame de vídeo/Globo

“O Fantástico foi a minha vida.” Para o jornalista José-Itamar de Freitas, sua trajetória profissional se confundia com a história do programa em que trabalhou durante 20 anos. Ele integrou a equipe de criação da revista eletrônica, em 1973, que saiu do papel para ser uma atração da linha de Shows da Globo. Nos três primeiros anos de 'Fantástico', José-Itamar foi responsável por coordenar a área de jornalismo, ajudando a pavimentar o caminho que tomaria depois. Foi também pauteiro, editor, responsável por escrever os famosos “boa noites” lidos por Cid Moreira todo domingo à noite. Assumiu como diretor-geral do programa em 1977, com o compromisso de explorar cada vez mais a reportagem, mas sem perder uma característica que ele considerava essencial em televisão – o espetáculo. 

Acabou sendo a minha vida. Um amor enorme, convivência, amizade, tudo. Eu olho o 'Fantástico' como sendo da família

Observação: Praticamente todas as falas em texto e vídeo deste perfil foram retirados do DVD 30 anos do 'Fantástico', de 2003. Quando não for, estará indicado.

Trajetória

O tímido José-Itamar de Freitas nasceu em Miracema, 4 de agosto de 1934. Começou a carreira como jornalista na revista Fatos & Fotos, nos anos 1960. Em 1965, ganhou o Prêmio Esso com o trabalho 'Os filhos proibidos', uma série de reportagens que abordava o uso da pílula anticoncepcional, que marcaria uma revolução mundial de costumes.

Em 1973, foi contratado pela Globo para atuar no Jornalismo, pautando e editando assuntos nacionais na redação. Chegou a ser, durante alguns meses, chefe de criação no 'Jornal Nacional', mas seu envolvimento com a criação do mais novo programa a estrear na grade da Globo passou a sugar todas as suas energias. O 'Fantástico' estreou em agosto daquele ano, como uma atração da linha de Shows, com espaço para o jornalismo. José-Itamar de Freitas, portanto, passou a coordenar essa área. Na época, os assuntos que mais interessavam ao público diziam respeito a mudanças tecnológicas e saúde. Semanalmente, José-Itamar editava matérias com essa temática, muitas vezes enviadas pelos correspondentes da Globo no exterior Hélio Costa e Cidinha Campos.

O jornalista, apaixonado pelo que fazia, sempre se preocupou em evitar linguagem excessivamente acadêmica nos assuntos sobre ciência. Sob sua coordenação, as matérias eram ricas em imagens e traziam texto com forte apelo emocional. Era importante para ele aliar a capacidade de emocionar com a informação precisa. O jornalismo de televisão, em suas palavras, precisava ser feito de espetáculo.

José-Itamar de Freitas conta sobre a criação do 'Fantástico' em 1973, em contraponto a programas 'personalistas', como Flavio Cavalcanti. Entrevista não exibida, concedida a Glória Maria e Geneton Moraes Neto, DVD 30 anos do 'Fantástico', 2003.

José-Itamar de Freitas conta sobre a criação do 'Fantástico' em 1973, em contraponto a programas 'personalistas', como Flavio Cavalcanti. Entrevista não exibida, concedida a Glória Maria e Geneton Moraes Neto, DVD 30 anos do 'Fantástico', 2003.

A gente estava numa Ditadura, então também havia a conveniência de se fazer um programa escapista que pudesse ter uma colcha de retalhos, uma... Um resumo do, do que é uma emissora de televisão, uma mini emissora, com todos os assuntos de uma emissora, desde o teatro, a música, notícia, tudo
'Meu medo era que eu acabasse o Dr. Fantástico', brinca José-Itamar. Entrevista não exibida de José Itamar de Freitas a Glória Maria e Geneton Moraes Neto, DVD de 30 anos do Fantástico, 2003.

'Meu medo era que eu acabasse o Dr. Fantástico', brinca José-Itamar. Entrevista não exibida de José Itamar de Freitas a Glória Maria e Geneton Moraes Neto, DVD de 30 anos do Fantástico, 2003.

Em 1977, Boni, então diretor-geral da Programação da Globo, o convidou para ser diretor-geral do 'Fantástico'. A partir daquele momento, o programa migraria também da linha de Shows para o Jornalismo. Durante 15 anos, José-Itamar trabalhou sem parar e brincava sempre ao dizer que quase nunca tirava folga. Sob seu comando, o 'Fantástico' reforçou seu compromisso com a atualidade e com a notícia, característica que acompanha o programa até hoje.

Na entrevista a Glória Maria, gravada em 2003, ele explicou, com o bom humor:

O Boni amadurece a ideia de que o jornalismo comandava de fato o 'Fantástico' nos primeiros anos. Sempre tinha um gancho jornalístico, então ele achava: o diretor deve ser um jornalista. E a vítima fui eu
José-Itamar de Freitas conta como foi escolhido por Boni para dirigir o 'Fantástico'. Entrevista não exibida de José Itamar de Freitas a Glória Maria e Geneton Moraes Neto, DVD 30 anos do 'Fantástico', 2003.

José-Itamar de Freitas conta como foi escolhido por Boni para dirigir o 'Fantástico'. Entrevista não exibida de José Itamar de Freitas a Glória Maria e Geneton Moraes Neto, DVD 30 anos do 'Fantástico', 2003.

Ainda assim, em defesa de um bom espetáculo, José-Itamar investiu na produção de musicais. Um projeto de sucesso, que tornou o programa o principal palco de lançamento de músicas e de revelação de artistas e bandas no início dos anos 1980. Naquela época, ter uma canção produzida e exibida de forma inédita no 'Fantástico' automaticamente a alçava ao topo das paradas de sucesso.

No final dos anos 1980, a produção monumental de musicais se tornou insustentável – cada vez mais o público exigia diversificação no conteúdo dos videoclipes, que passaram a ser produzidos pelas gravadoras dos artistas e reproduzidos, em tempo menor, no programa. Para o então diretor-geral, era necessário aumentar a produção de quadros e séries para suprir a lacuna deixada pelo formato. A solução deu certo. “O musical é modismo; os gêneros vão mudando. E o jornalismo não muda, não é modismo. Reflete o que está acontecendo.”

Com as mudanças introduzidas pelo incansável jornalista, o 'Fantástico' assumiu a liderança absoluta na audiência do horário e se tornou um dos principais programas da Globo. Em entrevista concedida à revista Imprensa, em 1988, ele faz uma avaliação do trabalho nos anos mais duros de ditadura militar:

Não somos alienados. Sempre fizemos reportagens sobre o Brasil. E se no passado fomos esotéricos ou escapistas, foi porque sofríamos uma censura muito mais rigorosa e irracional do que jornais e revistas. Dei nascimento de borboleta, mas não dei comunista arrependido, como fizeram muitos jornais

Neste trecho do DVD de 30 anos do 'Fantástico', José-Itamar conta como era a atuação da Censura Federal no programa:

Entrevista - José Itamar de Freitas: censura no 'Fantástico'. Entrevista não exibida de José Itamar de Freitas a Glória Maria e Geneton Moraes Neto, DVD 30 anos do 'Fantástico', 2003.

Entrevista - José Itamar de Freitas: censura no 'Fantástico'. Entrevista não exibida de José Itamar de Freitas a Glória Maria e Geneton Moraes Neto, DVD 30 anos do 'Fantástico', 2003.

José-Itamar de Freitas deixou a direção-geral do 'Fantástico' em junho de 1991, para se tornar diretor de reportagens da Central Globo de Jornalismo, cargo em que permaneceu até 1995. Nesse último período na Globo, o jornalista contribuía com a supervisão de alguns programas da casa.

José-Itamar morreu no dia 1° de julho de 2020 por complicações derivadas da Covid-19.

No 'Fantástico' de 5 de julho, Boni, Glória Maria, William Bonner, Cid Moreira e Sérgio Chapelin prestaram suas homenagens ao diretor:

'Fantástico' faz homenagem a José-Itamar de Freitas, ex-diretor do programa, 5/7/2020

'Fantástico' faz homenagem a José-Itamar de Freitas, ex-diretor do programa, 5/7/2020

FONTES:

Entrevista de José-Itamar de Freitas a Gloria Maria para o DVD de 30 anos do Fantástico, 2003. /Acervo Globo. | “Um debutante imbatível”. Entrevista à Revista Imprensa, agosto de 1988. | https://memoriaglobo.globo.com/jornalismo/jornalismo-e-telejornais/fantastico/historia/
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