Por Memória Globo

Nelson Di Rago/Globo

Ítalo Rossi e Miguel Falabella em 'Toma Lá, Dá Cá', 2008 — Foto: Frederico Rozário/Globo

“É maaaara!” O bordão do irreverente Seu Ladir, interpretado por Ítalo Rossi no humorístico 'Toma Lá, Dá Cá' (2008), caiu no gosto popular e se tornou gíria. Seu Ladir, que “tinha certos vícios de linguagem”, como gostava de justificar, foi o último personagem de Ítalo Rossi em uma trajetória de 50 anos de televisão. Na Globo, o ator estreou quase ao mesmo tempo do que a emissora – em 1965, ele protagonizou, com Fernanda Montenegro, Fernando Torres e Sérgio Britto, o teleteatro 4 no Teatro; no mesmo ano, estrelou a novela 'Padre Tião' (1965), ao lado de Marília Pêra. Entre idas e vindas na Globo nos anos 1970 e 1980, Ítalo Rossi participou de produções importante da teledramaturgia.

Amor que vem do berço

De origem italiana, Ítalo Balbo Di Fratti Coppola Rossi, quando pequeno se apaixonou pelas artes: acompanhava os pais em concertos e óperas, em São Paulo. O ator até tentou seguir carreira no escritório da família, mas dispensou o ofício para se dedicar ao teatro. “O teatro já estava em mim e essa descoberta fez com que eu dissesse: ‘Vou fazer teatro’”, declarou em entrevista à Globo, exibida posteriormente, no 'Jornal Nacional', na ocasião de sua morte.

Com o fim do Teatro dos Sete, em 1965, Ítalo Rossi seguiu atuando em outros espetáculos, como 'Os Amantes' e 'A Coleção', sob a direção de Flávio Rangel, em 1966; 'Doroteia Vai à Guerra', dirigido por Paulo José, em 1972; e 'O Santo Inquérito', de Dias Gomes, dirigido novamente por Flávio Rangel, em 1976.

Ítalo Rossi estreou como membro do Teatro Brasileiro de Comédia (TBC) e, em seu primeiro trabalho, ganhou o prêmio de ator Revelação, na Associação Brasileira de Críticos Teatrais, com a peça 'A Casa de Chá do Luar de Agosto' (1956). Três anos depois, fundou o Teatro dos Sete, ao lado de Fernanda Montenegro, Fernando Torres, Sergio Britto e Gianni Ratto. Juntos, lançaram o espetáculo 'O Mambembe', de Artur Azevedo, que representou um marco no teatro nacional ao sugerir uma aproximação entre a plateia e o palco.

Passagem pela televisão

A estreia de Ítalo Rossi na televisão foi na novela 'A Morta Sem Espelho', da TV Tupi, em 1963. Logo depois, integrou o elenco de 'Sonho de Amor', da Record.

Ítalo Rossi e Norma Blum em 'Ilusões Perdidas', 1965 — Foto: Acervo/Globo

Em abril de 1965, a Globo estreava em todo o Brasil. Uma das primeiras atrações do canal foi a novela 'Ilusões Perdidas', que contou no elenco com a participação de Ítalo Rossi. No mês seguinte, a Globo contratou todo o grupo do Teatro dos Sete para adaptar para a televisão peças teatrais nacionais ou estrangeiras, no projeto 4 no Teatro. O teleteatro 'Crônica de Uma Rainha' marcou a entrada de Ítalo Rossi, Fernanda Montenegro, Fernando Torres e Sérgio Britto na emissora. Naquele mesmo ano, após o fim da atração, Rossi foi chamado para protagonizar a novela 'Padre Tião', com direção de Graça Mello, que narrava tristezas e infortúnios de um padre que vivia em uma cidade do interior.

Ítalo Rossi e Yara Sarmento em 'Padre Tião', 1965 — Foto: Acervo/Globo

Entre idas e vindas na Globo nos anos 1970 e 1980, Ítalo Rossi participou de produções importante da teledramaturgia, em papeis pequenos, como em 'Escrava Isaura' (1976), onde interpretou o aproveitador José, que se aproximava de Leôncio (Rubens de Falco) para lucrar em negócios vantajosos; 'Transas e Caretas' (1984), de Lauro César Muniz; 'Que Rei Sou Eu?' (1989), de Cassiano Gabus Mendes.

Ítalo Rossi em 'Senhora do Destino', 2004. — Foto: João Miguel Júnior/Globo

Em 'Senhora do Destino' (2004), um de seus últimos papeis marcantes, o ator deu vida ao mordomo Alfred, que trabalhava para o Barão (Raul Cortez) e a Baronesa de Bonsucesso (Glória Menezes). No final da novela, descobre-se que é o verdadeiro pai de Leonardo (Wolf Maya), suposto filho do casal. Rossi também fez uma participação na novela 'Belíssima' (2006), como o inescrupuloso Dr. Medeiros, advogado da vilã Bia Falcão (Fernanda Montenegro). Em depoimento ao Memória Globo, Fernanda Montenegro lembrou com saudades que esta fora a última vez que atuara ao lado do amigo: “Destaco as minhas cenas com o Ítalo Rossi, meu grande companheiro, grande amigo, irmão, com quem fiz teatro durante 30 anos. Um ator extraordinário,” comentou.

'Senhora do Destino' (2004): cena em que a baronesa Laura (Glória Menezes), sofrendo do mal de Alzheimer, não reconhece o marido, o barão Pedro Correia de Andrade e Couto (Raul Cortez). Com Alfred (Ítalo Rossi).

'Senhora do Destino' (2004): cena em que a baronesa Laura (Glória Menezes), sofrendo do mal de Alzheimer, não reconhece o marido, o barão Pedro Correia de Andrade e Couto (Raul Cortez). Com Alfred (Ítalo Rossi).

Mas foi como o Seu Ladir, de 'Toma Lá Dá Cá', que Rossi fechou a carreira em grande estilo. No humorístico, o ator pôde deixar aflorar a veia cômica: Ladir era marido da síndica Álvara (Stela Miranda), uma mulher conservadora que regulava a vida de todos no condomínio Jambalaya Ocean Drive. Ladir, sempre vestido com roupas chamativas (quase sempre cor de rosa), acessórios com brilho e perucas com fios dourados, vivia em pé de guerra com a esposa. Seu bordão “é mara”, para dizer que algo era maravilhoso, de forma escandalosa, se popularizou no Brasil.

'Toma Lá, Dá Cá (2008): Seu Ladir

'Toma Lá, Dá Cá (2008): Seu Ladir

Novamente, o teatro

Mesmo participando de programas na televisão, Ítalo Rossi nunca abandonou os palcos. Participou de mais de 400 montagens, seja como ator ou diretor. No dia de sua morte, em 2011, começaria os ensaios de mais uma peça, 'Coisas da Vida', que ele iria dirigir.

Premiações

Ao longo da carreira, o ator conquistou seis prêmios, sendo quatro deles, o Prêmio Molière, o mais alto reconhecimento da crítica de teatro no Brasil. Os trabalhos premiados foram as suas atuações em 'A Noite dos Campeões' (1975), de Jason Miller, com direção de Cecil Thiré; 'Quatro Vezes Beckett' (1985), dirigido por Gerald Thomas; 'Encontro com Fernando Pessoa' (1986), de Walmor Chagas; e 'Encontro de Pascal e Descartes' (1987), de Jean-Claude Brisville.

Cinema

No cinema, atuou em 20 produções nacionais, como 'Esquina da Ilusão' (1953), de Ruggero Jacobbi; 'Paraíba, Vida e Morte de um Bandido' (1966), de Victor Lima; 'República dos Assassinos' (1979), de Miguel Faria Jr. 'Maria – Mãe do Filho de Deus' (2003), de Moacyr Góes; e 'Sexo com Amor?' (2008), de Wolf Maya.

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Ítalo Rossi morreu no Rio de Janeiro, no dia 2 de agosto de 2011, devido a uma infecção respiratória, aos 80 anos de idade.

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