Por Memória Globo

Sérgio Seiffert/Memória Globo

Nas últimas três décadas, Heraldo Pereira testemunhou os principais momentos da política brasileira. Desde a campanha Diretas Já até a eleição de Dilma Rousseff, a primeira mulher a chegar à Presidência da República, o repórter, apresentador e comentarista político da Globo em Brasília noticiou o trabalho dos legisladores durante a Assembleia Nacional Constituinte, o impeachment de Fernando Collor, o lançamento do Plano Real e acompanhou o dia a dia dos homens mais importantes do país. “Desde que comecei, tinha vontade de fazer cobertura política”, afirma Heraldo, que durante 15 anos conciliou suas reportagens com os comentários feitos no Jornal da Globo, e com a apresentação eventual, aos sábados, do próprio Jornal Nacional. Heraldo foi o primeiro negro a assumir a bancada do programa, em 2002. Em 2017, foi convidado a assumir a bancada do Jornal das Dez, o principal telejornal da GloboNews. Em 5 de julho de 2021, tornou-se apresentador do Bom Dia Brasil em Brasília.

Fico orgulhoso pelo fato de ser um negro apresentando o Jornal Nacional. Acho que os meus antepassados, os meus amigos, os negros desse país também ficam orgulhosos.

Heraldo Pereira — Foto: João Miguel Júnior/ Globo

Heraldo Pereira de Carvalho descobriu o gosto pelo jornalismo durante um estágio em uma companhia telefônica, onde se tornou responsável pelo jornal interno da empresa. Logo depois, ingressou na Rádio Clube de Ribeirão Preto. Aos 18 anos, entrou na equipe que ajudou a montar a TV Ribeirão, afiliada da Globo.

Em 1981, foi transferido para a TV Campinas, outra afiliada da Globo, e decidiu cursar jornalismo na Pontifícia Universidade Católica (PUC). Lá, fez sua primeira grande reportagem, a cobertura do acidente automobilístico sofrido pelo saltador João do Pulo. “Fiquei muito comovido. João era um grande brasileiro, de origem humilde e negro como eu sou. Aquilo foi um grande baque para mim”, conta. No ano seguinte, começou a participar regularmente do Jornal Nacional com matérias sobre a política brasileira: integrou a equipe da cobertura das eleições para governador e, mais tarde, noticiou os comícios pelas Diretas Já.

Após breve passagem pela TV Manchete, em 1985 foi convidado a trabalhar para a Globo em São Paulo. Além de fazer reportagens locais, passou a viajar mais pelo país, participando de coberturas de eleições pelo Nordeste e auxiliando na montagem de afiliadas pelo interior de São Paulo. Em 1988, foi transferido para a sucursal da Globo em Brasília, onde passou a cobrir os bastidores políticos do país.

Brasília

Logo no primeiro ano na capital, assistiu às discussões para elaboração da Constituição de 1988 e participou da cobertura das primeiras eleições diretas para presidente em três décadas. “Foi uma disputa muito acirrada entre o Collor e o Lula. Alguns jornalistas se engajaram na campanha do Lula, mas ali ficou claro para nós que nosso compromisso era com a opinião pública e não com um grupo”, diz. “Em todo caso, isso ajudou a criar um clima de guerra entre Collor e a imprensa”.

No ano de sua estreia em Brasília, Heraldo esteve presente na cobertura da crise no Senado, que culminou com as renúncias de Antônio Carlos Magalhães, o ACM, e José Roberto Arruda. Os senadores eram acusados de violar o sigilo do painel eletrônico do Senado Federal. Também em Brasília, Heraldo cobriu os principais acontecimentos no escândalo do Mensalão, em 2005, um esquema de compra de apoio político no Congresso.

Desde então, acompanhou de perto o dia a dia e as principais decisões dos presidentes Fernando Collor, Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, em Brasília. De suas coberturas internacionais, guarda com carinho lembranças de dois episódios marcantes no continente africano, quando Collor ainda era presidente. Em 1991, na África do Sul, fez uma reportagem para o Fantástico sobre os acordos que puseram fim ao regime apartheid. “Como havia negros e brancos na nossa equipe, havia lugares em que não podíamos estar juntos”, diz. Mais tarde, visitou um antigo porto de escravos em Angola. “Provavelmente, alguns dos meus antepassados saíram dali para vir para o nosso país. Foi emocionante”.

EXCLUSIVO MEMÓRIA GLOBO

Webdoc sobre o Impeachment de Fernando Collor (1992): 1ª Parte

Webdoc sobre o Impeachment de Fernando Collor (1992): 1ª Parte

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Planos econômicos

Para Heraldo, outro grande desafio era imposto nas coberturas dos planos econômicos que se sucediam para tentar combater a inflação – especialmente o Plano Collor e o Plano Real. “O Plano Collor era difícil de entender e houve forte reação popular. A animosidade que existia entre governo e imprensa se multiplicou. Foi um momento difícil”, lembra. “Já o início do Real foi um sofrimento para os jornalistas. Tínhamos que explicar na TV o que era URV, uma referência monetária que seria o embrião do Plano Real. Em nossos telejornais, os brasileiros tiveram que aprender a conviver com o URV, que era uma sigla e não uma moeda, e que durou meses até que enfim se inventou o Plano Real”.
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Anos 2000

Em 2001, Heraldo Pereira estreou como apresentador do DFTV. Em seguida, cobriu férias no Bom Dia DF. No ano seguinte, foi convidado para participar do time de apresentadores do Jornal Nacional aos sábados. “Foi um barato”, diz Heraldo, que lembra do assédio de colegas jornalistas sobre a novidade. “Não houve nenhuma referência por parte da Globo, mas alguns repórteres destacaram o fato de eu ser o primeiro negro a apresentar o JN”.

Em 2006, mais um acontecimento marcou a carreira do jornalista: o acidente aéreo da Gol. Apesar dos destroços da aeronave serem encontrados a 200 quilômetros do município de Peixoto de Azevedo, no Mato Grosso, quase na divisa com o sul do Pará, Heraldo conseguiu, em Brasília, a divulgação do relatório da Aeronáutica sobre o acidente. A reportagem do jornalista, exibida em 14 de novembro no Jornal Nacional, mostrou que não havia um responsável, mas sim uma série de fatores que havia levado à colisão dos aviões.

A partir de 2007, além dos comentários políticos, passou a comandar o quadro Pinga-Fogo no Jornal da Globo. No quadro, exibido até 2017, Heraldo entrevista personalidades da vida política brasileira.

As reportagens feitas nos bastidores do poder levaram Heraldo a ser homenageado durante a semana comemorativa dos 40 anos do Jornal Nacional em 2009, quando o telejornal entrevistou os cinco jornalistas mais experientes do programa. “Desde que comecei, tinha vontade de fazer cobertura política”, afirma Heraldo, que durante 15 anos conciliou suas reportagens com os comentários feitos no Jornal da Globo, e com a apresentação eventual, aos sábados, do próprio Jornal Nacional. Heraldo foi o primeiro negro a assumir a bancada do programa, em 2002.

Jornal Nacional: Estreia de Heraldo Pereira, 23/11/2002.

Jornal Nacional: Estreia de Heraldo Pereira, 23/11/2002.

Copa do Mundo

Heraldo Pereira fez sua estreia em cobertura de Copa do Mundo em 2010. O jornalista integrou o time de repórteres e âncoras enviados à África do Sul para acompanhar o Mundial.

De volta ao Brasil, ele apresentou ao lado de Renata Vasconcellos o Jornal Nacional que mostrou o drama da população fluminense na região serrana, afetada pelas chuvas e deslizamentos de terra que causaram a morte de centenas de pessoas em 2011. Foi até então a maior tragédia natural da história do Brasil.

Heraldo revela que desde que começou a aparecer no Jornal Nacional tem percebido não só a maior exposição pública mas também a responsabilidade de apresentar, mesmo que eventualmente, o telejornal mais visto pelos brasileiros. E reitera seu orgulho de ter sido o primeiro negro na bancada do JN: “Eu fico muito orgulhoso de poder apresentar o Jornal Nacional por ser jornalista, por ser repórter e apresentador do Jornal Nacional. E fico também muito orgulhoso pelo fato de ser um negro apresentando o JN. Eu acho que os meus antepassados, os meus amigos, os negros desse país também ficam orgulhosos. Eu gostaria de ser um exemplo positivo para os negros desse país por apresentar o Jornal Nacional.”

Jornal das Dez

Em dezembro de 2017, Heraldo Pereira foi convidado para assumir a bancada do Jornal das Dez, da GloboNews. Até então, o jornal era exibido de São Paulo, tendo Renata Lo Prete na bancada. A mudança de apresentação incluía uma mudança de cenário e de formato. “A ancoragem do jornal ela é feita aqui no estúdio de Brasília com as outras praças permanentes, São Paulo, Rio de Janeiro, Nova York. O jornal é apresentado aqui [em Brasília] nesse esquema de segunda a sexta nos dias úteis. Nos fins de semana e feriados, é apresentado no esquema de plantão no Rio de Janeiro”, explica Heraldo.

Bom Dia Brasil

No dia 5 de julho de 2021, Heraldo Pereira assumiu um novo desafio: a tarefa de apresentar o Bom Dia Brasil de Brasília. A mudança fazia parte de uma série de transformações no jornalismo. No lugar de Heraldo, no Jornal das Dez, assumiu Aline Mindlej.

Fontes

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