Por Memória Globo

Acervo/Globo

Filho do político Miguel Arraes, cassado pela ditadura militar em 1969, Miguel Arraes de Alencar Filho viveu parte de sua vida no exílio. Voltou ao Brasil em 1980, aos 26 anos. O diretor Paulo Ubiratan, da Globo, o convidou para trabalhar na emissora em 1981. Em 1983, tornou-se diretor de núcleo, desempenhando, por vezes, a função de autor, diretor e produtor. Foi um dos responsáveis pela criação e implementação do programa 'TV Pirata' (1988), que renovou o humor na Globo através da metalinguagem e de um elenco jovem, oriundo do teatro besteirol. Liderou, ainda, a criação de programas icônicos como 'Casseta & Planeta' (1992), 'Os Normais' (2001) e a segunda versão de 'A Grande Família' (2001), além de diversos programas com Regina Casé, e das primeiras microsséries da Globo. Também esteve entre os responsáveis pela implementação do conceito de temporada, no qual os seriados são produzidos com um número pré-determinado de episódios, assim como ocorre na televisão americana. Em 2014, com a mudança no modelo de gestão na área do Entretenimento, Guel Arraes tornou-se o diretor responsável pelo gênero dramaturgia semanal. Quatro anos depois, deixou a área para voltar à criação.

Início da carreira

Miguel Arraes de Alencar Filho é filho do político Miguel Arraes (1916-2005), fundador do Partido Socialista Brasileiro e eleito vereador, deputado e três vezes governador do estado de Pernambuco. Com a cassação do pai pela ditadura militar em 1969, Guel Arraes foi com a família para o exílio na Argélia, onde morou por três anos. Aos 18 anos, mudou-se para a França, onde se matriculou na Universidade de Paris. Ingressou no Comitê do Filme Etnográfico, dirigido pelo documentarista francês Jean Rouch. Nessa época, dirigiu quatro curtas e um filme de média-metragem, Barbais Palace, em parceria com Ricardo Lua. Também colaborou com o cineasta Jean-Luc Godard em um projeto sobre Moçambique, que pretendia registrar a formação da autoimagem de um povo recém libertado da colonização.

Início na Globo

Voltou ao Brasil em 1980, aos 26 anos. Conheceu o ator Tarcísio Meira durante as filmagens de 'O Beijo no Asfalto' (1981), de Bruno Barreto, no qual trabalhou como assistente de câmera. Por intermédio do ator, Guel Arraes foi apresentado ao diretor Paulo Ubiratan, da Globo, que o convidou para trabalhar na emissora. Foi contratado em 1981. Naquele ano, em seu primeiro trabalho em televisão, dividiu com Jorge Fernando, outro estreante, e com o veterano Roberto Talma a direção da novela 'Jogo da Vida' (1981), de Silvio de Abreu.

EXCLUSIVO: Memóriadoc sobre a novela 'Guerra dos Sexos – 1ª versão' com entrevistas exclusivas do Memória Globo.

EXCLUSIVO: Memóriadoc sobre a novela 'Guerra dos Sexos – 1ª versão' com entrevistas exclusivas do Memória Globo.

'Jogo da Vida' foi a primeira de uma série de tramas nas quais Guel Arraes e Jorge Fernando trabalharam juntos durante a década de 1980. A carreira de sucesso levou os dois, anos depois, ao cargo de diretores de núcleo da Globo. Antes disso, em 1982, Guel Arraes dividiu com Jorge Fernando a codireção de 'Sétimo Sentido' (1982), de Janete Clair, e 'Sol de Verão' (1982), de Manoel Carlos. Em 1983, os dois assinaram juntos, e sozinhos, pela primeira vez, a direção de 'Guerra dos Sexos' (1983), de Silvio de Abreu. Em seguida, do mesmo autor, a dupla dirigiu 'Vereda Tropical' (1984).

A partir de 1985, Guel Arraes começou a se dedicar a outros produtos da área de teledramaturgia. Naquele ano, convidado por Daniel Filho, dirigiu o seriado juvenil 'Armação Ilimitada', que mesclava comédia, aventura e a linguagem dos videoclipes. Escrito por Antonio Clamon, Euclydes Marinho, Patricya Travassos e Nelson Motta, o programa marcou o início de um novo formato que Guel Arraes implementaria na emissora.

EXCLUSIVO: Memóriadoc sobre o programa 'TV Pirata' com entrevistas exclusivas do Memória Globo.

EXCLUSIVO: Memóriadoc sobre o programa 'TV Pirata' com entrevistas exclusivas do Memória Globo.

Posteriormente, em 1988, foi um dos responsáveis pela criação e implementação do programa 'TV Pirata', que renovou o humor na Globo através da metalinguagem e de um elenco jovem, oriundo do teatro besteirol. A equipe de redatores era formada por Cláudio Paiva, Bussunda, Beto Silva, Cláudio Manoel, Hélio de La Peña, Hubert, Marcelo Madureira e Reinaldo, autores da revista Casseta Popular e do jornal Planeta Diário, com a colaboração do escritor Luis Fernando Veríssimo. TV Pirata teve duas temporadas: a primeira, com exibições semanais, teve 100 episódios; a segunda, já integrando a faixa de programação Terça Nobre, teve 10 programas especiais, exibidos uma vez por mês.

EXCLUSIVO: Memóriadoc sobre o programa' Brasil Legal' com entrevistas exclusivas do Memória Globo.

EXCLUSIVO: Memóriadoc sobre o programa' Brasil Legal' com entrevistas exclusivas do Memória Globo.

Em 1991, Guel Arraes participou da criação do 'Programa Legal', ao lado de Regina Casé, Hermano Vianna e Hubert, que batizou a nova atração. O programa misturava humor e documentário, apresentando festas populares do Brasil, sob o comando de Regina Casé e Luiz Fernando Guimarães. Na mesma linha, entre 1995 e 1997, foi criado o 'Brasil Legal', também sob responsabilidade do núcleo de produção do diretor Guel Arraes.

EXCLUSIVO: Memóriadoc sobre o 'Programa Legal' com entrevistas exclusivas do Memória Globo.

EXCLUSIVO: Memóriadoc sobre o 'Programa Legal' com entrevistas exclusivas do Memória Globo.

Antes disso, Guel Arraes produziu alguns programas para a série 'Terça Nobre Especial', posteriormente chamada de 'Brasil Especial'. Esses programas eram, em sua maioria, adaptações de clássicos da literatura e do teatro brasileiro, como 'O Mambembe', de Artur Azevedo, e 'O Alienista', de Machado de Assis. A partir de então, ao lado de Pedro Cardoso, Jorge Furtado e João Falcão, Guel Arraes começou a se dedicar também a escrever profissionalmente.

A série 'A Comédia da Vida Privada', exibida entre 1995 e 1997, com adaptações de textos de Luis Fernando Veríssimo, refletia o modelo de televisão trabalhado pelo diretor: atraente pela densidade de significados e com acabamento artesanal minucioso, que abria espaço para a identificação inteligente com o espectador. Desde 'Armação Ilimitada', o modelo desses programas passou por uma evolução. O humor deixou de ser tratado em forma de esquetes, adotando mais o perfil da comédia e da dramaturgia. Logo em seguida, em 1997, estreou 'Vida ao Vivo Show', quadro exibido semanalmente no 'Fantástico', com apresentação de Luiz Fernando Guimarães e Pedro Cardoso.

Entre 1998 e 2000, o núcleo de produção do diretor Guel Arraes, no qual ele desempenha a função de autor, diretor e produtor, foi responsável por programas como o 'Muvuca', de Regina Casé, e o humorístico 'Casseta & Planeta', além da minissérie 'Dona Flor e seus Dois Maridos' (1998), adaptada por Dias Gomes da obra de Jorge Amado.

O Auto da Compadecida

EXCLUSIVO: Memóriadoc sobre a minissérie 'O Auto da Compadecida' com entrevistas exclusivas do Memória Globo, em 05/01/1999.

EXCLUSIVO: Memóriadoc sobre a minissérie 'O Auto da Compadecida' com entrevistas exclusivas do Memória Globo, em 05/01/1999.

Em 1999, ao lado de João e Adriana Falcão, Guel Arraes adaptou e dirigiu a primeira microssérie da Globo, 'O Auto da Compadecida', inspirada na peça escrita em 1955 por Ariano Suassuna. Filmada em película e exibida em quatro capítulos, a microssérie estrearia também no cinema em 2000, em uma versão especial com duas horas de duração. Guel Arraes, que já recebera o troféu de melhor série de TV em 2000 pela obra, recebeu o prêmio de melhor diretor no 2º Grande Prêmio Cinema Brasil, em 2001. No mesmo ano, o filme recebeu ainda o prêmio do júri popular no Festival de Cinema Brasileiro em Miami.

Ainda em 1999, o núcleo de produção Guel Arraes foi responsável pela segunda microssérie da emissora, 'Luna Caliente', também uma adaptação, desta vez de um romance do argentino Mempo Giardinelli. O texto coube aos roteiristas Giba Assis Brasil, Carlos Gerbase e Jorge Furtado, que também assinou a direção. Era a consolidação do projeto encampado pela Globo de reunir cinema e televisão. No ano seguinte, também ao lado de Jorge Furtado, Guel Arraes escreveu e dirigiu 'A Invenção do Brasil', microssérie produzida como parte das comemorações da emissora por ocasião dos 500 anos de da chegada dos portugueses ao Brasil. Parceiros há dez anos, Guel Arraes e Jorge Furtado se basearam nas obras de José de Alencar e Mário de Andrade e em um poema de Santa Rita Durão, de 1781. O título foi inspirado no prefácio do livro 'A Fundação do Brasil', de Darcy Ribeiro.

Temporadas

EXCLUSIVO: Memóriadoc sobre o seriado 'A Grande Família – 2ª versão' com entrevistas exclusivas de Marieta Severo, Marco Nanini e Guel Arraes ao Memória Globo.

EXCLUSIVO: Memóriadoc sobre o seriado 'A Grande Família – 2ª versão' com entrevistas exclusivas de Marieta Severo, Marco Nanini e Guel Arraes ao Memória Globo.

Guel Arraes foi um dos responsáveis pela implementação do conceito de temporada, no qual os seriados são produzidos com um número pré-determinado de episódios, assim como ocorre na televisão americana. Desta forma, a partir de 2000, ele coordenou o projeto 'Brava Gente', que apresentou programas inspirados em contos ou peças curtas, adaptados e dirigidos por diversos autores e diretores. O núcleo de produção do diretor Guel Arraes também foi responsável pela segunda versão do seriado 'A Grande Família' e pela criação do seriado 'Os Normais', estrelado por Luiz Fernando Guimarães e Fernanda Torres.

Guel Arraes foi autor, ao lado de Jorge Furtado, da minissérie 'Ó Paí Ó', de 2008, inspirada no filme de Monique Gardemberg. Os dois contaram com a contribuição dos atores do Bando de Teatro Olodum, que incrementaram os diálogos com improvisações. Guel Arraes voltou a trabalhar com Jorge Furtado no especial de fim de ano 'Decamerão, a Comédia do Sexo', de 2009, e no quadro 'A História de Amor', exibido no Fantástico em 2011. Em janeiro de 2011, foi ao ar na Globo a microssérie 'O Bem-Amado', versão para a televisão do filme dirigido por Guel Arraes que havia sido lançado em 2010. Guel Arraes foi ainda um dos autores do seriado 'A Mulher Invisível' (2011), vencedor do 40° Emmy na categoria Melhor Comédia.

Em novembro de 2014, o diretor-geral da Globo, Carlos Henrique Schroder, anunciou mudança no modelo de gestão na área do Entretenimento. Foram criadas novas diretorias especializadas por gênero. A dramaturgia semanal ficou sob o comando de Guel Arraes até março de 2018, quando ele deixou a área para se dedicar a escrever e dirigir programas da Globo.

Teatro

Além da carreira de sucesso na televisão, Guel Arraes fez sua estreia no teatro em 1996, dirigindo com João Falcão a montagem de 'O Burguês Ridículo', de Molière, com Marco Nanini no papel principal. Em 2000, foi o responsável pela encenação de 'Lisbela e o Prisioneiro', de Osman Lins, já adaptado anteriormente para a televisão pelo próprio Guel Arraes, em 1993, e exibido na programação 'Terça Nobre Especial'. Em 2003, a obra ganhou as telas de cinema sob a direção de Guel Arraes, com Marco Nanini, Selton Mello, Débora Falabella e grande elenco.

EXCLUSIVO: Memóriadoc sobre o programa 'Muvuca' com entrevistas exclusivas do Memória Globo.

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Fonte

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