Por Memória Globo

Bob Paulino/Memória Globo

Graziela Azevedo se define como uma repórter clássica. Gosta de estar onde os fatos acontecem e da adrenalina na rua, no dia a dia da reportagem. Paulistana, nascida em 21 de janeiro de 1963, Graziela Ferreira de Azevedo se graduou em 1984 pela PUC de São Paulo. A sólida carreira da jornalista na Globo começou a ser construída em 1989, como repórter dos telejornais de rede nacional.

A reportagem não vai morrer nunca porque há tanta coisa acontecendo no mundo e você precisa do repórter para fazer perguntas, levantar polêmicas, jogar luz nas questões. Quem é que vai mostrar as coisas que estão querendo esconder?”

Graziela Azevedo, 2009 — Foto: Zé Paulo Cardeal/Globo

Início na TV

Filha do cientista social Aloysio Corrêa Azevedo e da costureira Zilda Marta Ferreira de Azevedo, Graziela iniciou a carreira no jornalismo aproveitando o conhecimento adquirido ao observar a profissão dos pais. “Comecei a trabalhar na imprensa sindical por influência do meu pai, que fazia assessoria para vários sindicatos”. Depois de uma temporada produzindo jornais dessas instituições, Graziela se candidatou a assistente de produção de um programa feminino, na TV Gazeta de São Paulo. “Quando soube da vaga, passei a peroba na minha carinha de pau, peguei um monte de jornal de sindicato, fui para o diretor e falei: ‘Olha, eu faço jornal de sindicato, mas eu vivo no meio da mulherada: minha mãe é costureira, eu entendo desse universo, e queria trabalhar aqui, nesse programa feminino’. A investida deu certo. Foi a oportunidade de explorar o universo da televisão. Formada, passou a atuar como repórter na emissora e também na rádio Excelsior. Trabalhou na TV Cultura, onde ficou três anos, e no SBT, durante três meses. “A Globo já vinha me namorando fazia um tempo e aí fez uma proposta boa. Estou aqui há 25 anos”.

Começo na tv

O cotidiano e os problemas de São Paulo foram pautas recorrentes da repórter desde que estreou na profissão, nos anos 1980. Consequências de enchentes são um dos temas que permeiam seu histórico. Em uma dessas reportagens, em 1995, a responsabilidade de mostrar a situação de calamidade em Eldorado, no litoral sul de São Paulo, a fez enfrentar uma situação inusitada. “Eldorado era uma cidade de telhados quando cheguei lá. Só havia os telhados de fora. Aí eu peguei um barco, o cinegrafista me deixou num telhado e saiu. Foi quando me dei conta de para onde vão os bichos quando chove: para cima do telhado, das árvores. Eu estava com todas as baratas, os ratos, todos os bichos ali em cima daquele telhado e não tinha mais jeito: ou eu pulava na água ou eu gravava minha passagem. Aí, gravei a passagem e depois eles me resgataram do telhado”.

Entrada na Globo

A primeira matéria feita para o Fantástico ainda é lembrada por Graziela, que se diverte ao recordar as evoluções científicas e tecnológicas que reportou para o público ao longo do tempo.

Minha primeira reportagem foi sobre a questão ambiental, mostrando que os satélites estavam começando a vigiar as áreas de proteção. Era uma “baita” novidade. E aí, depois, eu cobri a chegada da internet e do celular. Na área médica, cobri toda história da AIDS, que começou em 1985. Acompanhei a doença ser praticamente controlada; as pessoas convivendo com ela. Ver de tão perto esta evolução é um dos privilégios da nossa profissão".

Na área de saúde, outras reportagens marcaram a carreira de Graziela, como as que trataram de transplantes exibidas no 'Globo Repórter' e no 'Jornal Nacional'. “Essas matérias mexem com os telespectadores e sensibilizam médicos para que fiquem atentos a potenciais doadores. Fazem com que famílias conversem sobre o assunto e as pessoas se declarem doadoras de órgãos. Na série do 'Jornal Nacional', ficamos de segunda a sexta-feira falando sobre o assunto. Depois que as reportagens foram ao ar, o Instituto do Coração de São Paulo, que não fazia transplante em crianças há um ano, nos avisou que tinha feito três cirurgias em apenas um fim de semana. Toda vez que a gente faz uma matéria, ou um 'Globo Repórter', aumenta o número de transplantes”.

Globo Repórter: reportagem de Tonico Ferreira e Graziela Azevedo sobre o maior hospital da América Latina, o Hospital das Clínicas de São Paulo, 18/05/2001.

Globo Repórter: reportagem de Tonico Ferreira e Graziela Azevedo sobre o maior hospital da América Latina, o Hospital das Clínicas de São Paulo, 18/05/2001.

Momento marcante

A atenção às histórias que reporta levou a jornalista a desvendar o desaparecimento de uma jovem, em 1998. Graziela acabara de fazer uma reportagem sobre famílias de pessoas desaparecidas e, entre as entrevistadas, estava a mãe de uma moça que havia ido ao Parque do Ibirapuera. “Eu fiz o drama daquela mãe que estava há dias procurando a filha e guardei a foto da menina na bolsa. Dias depois surgiu a história do “maníaco do parque”. Uma noite eu estava em casa, e pensei: ‘Esse maníaco mata moças na região do Ibirapuera. A filha da mulher com quem eu gravei sumiu lá – será que esse cara não matou a moça?’. Só que o Departamento Estadual de Investigações Criminais não deixava mais nenhum jornalista entrar, após uma matéria que uma revista fez com o maníaco. Mas o nosso produtor de polícia, que é espertíssimo, conhecia uma entrada secreta pra dentro do DEIC, e consegui ficar frente a frente com o delegado. Eu falei: ‘Delegado, eu preciso falar com o maníaco. Acho que ele matou uma pessoa e eu tenho aqui a história completa.’ Mas ele não me deixava entrar de jeito nenhum. Aí, eu falei: ‘então vocês vão ter que mostrar essa foto para ele e eu vou ficar aqui esperando pra ver se ele matou essa moça ou não.’ Chamaram um investigador para mostrar a foto para o homem e quando ele voltou, falou: ‘Positivo, doutor’. Identificaram mais uma”.

Reportagens de Sandra Moreyra e Graziela Azevedo sobre o dia das eleições presidenciais de 1994. Jornal Nacional, 03/10/1994.

Reportagens de Sandra Moreyra e Graziela Azevedo sobre o dia das eleições presidenciais de 1994. Jornal Nacional, 03/10/1994.

Das transformações nas políticas sociais ao longo dos anos, Graziela guarda muitas lembranças. Uma delas é o lançamento do programa 'Fome Zero', em 2003. “A gente cobriu as campanhas de doação de alimentos. Lembro da figura doce do Betinho, que foi a pessoa que botou na agenda, de certa maneira, essas pessoas que passavam fome. E olhando hoje, você vê o absurdo que é ter que pedir o alimento em si, porque tinha muita gente que passava fome”.

Nova York

Em 2005, Graziela se mudou para Nova York. Seria a nova correspondente da Globo. A ideia era ficar por dois ou três anos, mas a estadia foi abreviada pela segunda gravidez, que chegou de surpresa. Foi apenas um ano em Nova York, mas um período intenso. Logo que chegou à cidade, a repórter recebeu a missão de viajar para Washington, a fim de cobrir uma reunião anual do FMI e Banco Mundial. “Eu tive que 'me virar nos 30' pra cobrir aquela reunião onde só vão jornalistas muito experientes em economia. Mas além de ler e me informar, contei com a ajuda de todos da redação de Nova York. O Brasil estava bem na foto naquela época, porque o Lula acabou seguindo uma cartilha mais ortodoxa na economia do que as pessoas imaginavam e isso deu uma tranquilizada grande. Lembro que todo mundo elogiava a política econômica brasileira”.

De volta ao país

Questões políticas e eleições são acompanhadas de perto pela rep��rter. Em 1994, Graziela foi escalada para fazer a cobertura das votações no interior de Mato Grosso. Um trabalho que a possibilitou conhecer o interior do país. “Eu descobri uma vila que se chamava Pindaíba. Pra chegar lá foi uma luta, mas valeu a pena, porque você vai atrás de brasileiros que são esquecidos. Lembro que tinha uma senhora que falava: ‘Os políticos, às vezes, aparecem aqui, mas depois que passa a eleição, nós continuamos aqui na Pindaíba.’ É muito bom você ir para o Brasil profundo e mostrar essas realidades.”

Após essa experiência, Graziela atuou como mediadora de debates no Centro-Oeste e no Nordeste.

O debate é uma experiência interessante, porque você vive ali, na mesa do debate, essa coisa do falou, tem que dar o tempo para o outro, ofendeu, não ofendeu, réplica, tréplica. É meio apavorante, mas você tem que aplicar o manual ali, na hora do debate.

Anos 2000

Das eleições presidenciais de 2002, ficou a lembrança da vitória do presidente Lula. “As pessoas estavam indo para a rua, queriam a divisão do tal do bolo que estava crescendo e não se dividia, queriam a distribuição de renda. Houve uma carga de emoção. Eu cobri a festa na Avenida Paulista e a gente fez também um Globo Repórter para o qual eu tinha que entrevistar a dona Marisa, que odeia dar entrevista. Lembro que eu apelei para o próprio Lula no dia que ele esteve aqui para fazer a entrevista famosa na bancada do Jornal Nacional: ‘Lula, tem que convencer a dona Marisa, preciso de uma entrevista com ela para o Jornal Nacional’. Aí ela se convenceu e fizemos a entrevista.” Outra vivência marcante para Graziela foi o acompanhamento diário de candidatos. Uma maratona que inclui viagens, comícios e a produção de reportagens especiais abordando as propostas do candidato e seu lado pessoal. “Antigamente, havia aquela coisa do repórter carrapato, que fica ali colado no candidato a campanha inteirinha. E eu já fui carrapato de alguns candidatos. Fui carrapato do José Serra quando ele foi candidato aqui em São Paulo e na última eleição pra presidente. Quando você é repórter, quer estar no olho do furacão. Então, é muito legal ir medindo a temperatura da campanha, vendo como é que está o humor do político.”

“A reportagem não vai morrer nunca porque há tanta coisa acontecendo no mundo e você precisa do repórter para fazer perguntas, levantar polêmicas, jogar luz nas questões. Quem é que vai mostrar as coisas que estão querendo esconder? Quem vai mostrar os mal- feitos, os bem-feitos? E o trabalho da gente, em qualquer plataforma, vai ser o de perguntar, construir, informar, editar, questionar.”

Graziela Azevedo na redação de jornalismo da Globo em São Paulo, 2014 — Foto: Bob Paulino/Memória Globo

Fonte

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