Por Memória Globo

Arley Alves/Globo

Adriana Moraes Rego Reis, ou Drica Moraes, nasceu no dia 29 de julho de 1969. Decidiu-se pela carreira artística ainda estudante do ensino médio, quando assistia a aulas de teatro escola, com o professor, Miguel Falabella. Optou por não fazer faculdade e, aos 12 anos, começou sua formação no Tablado, escola de teatro tradicional na cidade. Fundou, com colegas atores, a Cia dos Atores, no final dos anos 1980, grupo do qual fez parte por mais de 20 anos. Paralelamente ao trabalho no teatro, a atriz construiu uma carreira na TV, onde estreou ainda nos anos 1980, em um episódio de 'Teletema'. Nove anos depois, atuaria na primeira novela, 'Top Model'.

Você vai multifacetando, emprestando, contendo. É muito mais um jogo de como você aprende a se escutar, a receber o texto do outro, a estar num lugar e perceber o presente: isso é interpretar.

Drica Moraes em 'Brava Gente: Lira Paulista', 2001 — Foto: Acervo Globo

Início da carreira

Adriana Moraes Rego Reis, ou Drica Moraes, nasceu no dia 29 de julho de 1969. Decidiu-se pela carreira artística ainda estudante do ensino médio, quando assistia a aulas de teatro no Colégio Andrews, com o professor, Miguel Falabella. Optou por não fazer faculdade, o que seria o caminho mais comum para uma jovem nascida em uma família de classe média da zona sul do Rio de Janeiro, filha do arquiteto Gustavo Eduardo Barros de Moraes Rego Reis e de Clarissa Gaspar de Oliveira, proprietária de um restaurante no bairro do Leblon.

Aos 12 anos, Drica Moraes começou sua formação no Tablado, escola de teatro tradicional na cidade, criada por Maria Clara Machado, e foi complementada na Cia dos Atores, fundada pela atriz com alguns colegas, como Enrique Díaz, Gustavo Gasparini e Isabela Garcia, no final dos anos 1980. Ela fez parte do grupo por mais de 20 anos e foi responsável pela direção de arte e cenografia, função que teve em 'A Morta', de Oswald de Andrade, em 1992. No espetáculo, encenado na Fundição Progresso, então espaço alternativo no Rio de Janeiro, usavam-se ferro, sol e madeira, com atores pendurados por cabo de aço.

Como atriz, atuou na companhia em cerca de 30 peças, entre as quais 'Melodrama', de Filipe Miguez, espetáculo que ficou em cartaz por duas décadas, a partir de 1995 e 'O Rei da Vela', de Oswald de Andrade, em 2000. 'A Primeira Vista', de Daniel MacIvor, em 2011, foi produzida por ela, Enrique Diaz e Mariana Lima. “Foi meu último trabalho com o grupo, a história de duas mulheres com amor híbrido entre sexo e amizade, duas amigas que atravessam um período de dez anos juntas, que se conhecem em acampamentos, muito jovens, e querem tocar guitarra, ser cantoras de rock”, resume.

Ainda em teatro, a atriz estrelou um monólogo de Patrícia Melo, 'A Ordem do Mundo', dirigida por Aderbal Freire-Filho. De tons surrealistas, a profissão da protagonista era ler, avaliar e organizar todas as notícias de jornal que apareciam. Drica trabalhou também em musicais, como 'Pixinguinha', que teve direção de Amir Haddad, em 1994, 'Vítor ou Vitória', de Cláudio Botelho, em 2001, ao lado de Marília Pêra, e em 'Noites Cariocas', com texto de Felipe Miguez e direção de Eneique Diaz e Ivan Sugarrara, em 2005.

Televisão

Em paralelo, a atriz construiu uma carreira na TV, onde estreou ainda nos anos 1980, em 'Teletema', no episódio 'O Sequestro de Lauro Corona' (1986), de Ricardo Linhares. Aos 17 anos, viveu uma autista. “Foi incrível. A personagem tinha surtos. Eu me lembro que eu tinha que chorar, berrar, esmurrar a televisão, e a Globo recebeu muitas cartas para saber se eu era doente de verdade”, conta.

Drica Moraes em 'Top Model', 1989. — Foto: Nelson Di/Rago

A primeira novela foi 'Top Model' (1989), de Walther Negrão e Antonio Calmon, em que esteve no papel de Cida, uma empregada doméstica que adorava cantarolar, em clima de muito improviso. Depois veio 'Lua Cheia de Amor', de Ana Maria Moretzsohn, Ricardo Linhares e Maria Carmem Barbosa, em 1990, seguida por 'Quatro por Quatro', de Carlos Lombardi, em 1994, que ela considera uma quebra de paradigma em função da estrutura obtida com a mudança das gravações para os Estúdios Globo. Após esse trabalho, Drica foi convidada por Walter Avancini para viver a vilã da trama, Violante, em 'Xica da Silva' (1996), de Walcyr Carrasco, na Rede Manchete. “O Avancini, grande mestre, me viu nos comerciais de um banco, me ligou e falou assim: ‘Você não é só essa garota engraçada que todo mundo pensa que você é, eu vejo no fundo do seu olho alguma coisa que as pessoas não viram ainda’. Saio dessa experiência com o gabarito de ter conhecido outro lugar dentro de mim, uma nova atriz, uma atriz que não faz só comédia, que não faz as coisas como criança, adquiro muita experiência, couraça também”, afirma.

Drica Moraes e Herson Capri em 'Era Uma Vez...', 1998 — Foto: Acervo Globo

A volta à Globo aconteceu em 'Era Uma Vez…', de Walther Negrão, em 1998, a convite de Jorge Fernando, que se tornou outro grande mestre, segundo ela, por tê-la ensinado o Vaudeville, o Teatro de Revista na televisão. Os dois diretores revezaram-se nos trabalhos que vieram depois: Avancini, em 'O Cravo e a Rosa', de Walcyr Carrasco e Mário Teixeira, em 2000, e Jorge Fernando, em 'Chocolate com Pimenta', de Walcyr Carrasco, em 2003, duas produções de bastante sucesso, com tom humorístico, no horário das seis. Drica Moraes seguiu atuando com frequência em novelas, como 'Alma Gêmea', também de Walcyr Carrasco, em 2005, quando viveu Olívia, uma mulher separada alvo de preconceitos sociais, no final da década de 1940, e Pietra, uma consultora de modas em 'Pé na Jaca' (2006), de Carlos Lombardi, que teve muitas cenas gravadas em Paris.

Depoimento - Drica Moraes: "Era Uma Vez..."

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Minisséries e seriados

Em intervalos entre essas novelas, a atriz participou de séries e minisséries. Em 'Os Aspones', de Alexandre Machado e Fernanda Young (2004), ela acredita que se “começa a abrir outro espaço, outro ramal, eu acho que os atores vão funcionando assim em ciclos mesmo de capacidade de percepção, de realização. Aí chegam as séries americanas no Brasil e as pessoas começam a entender esse tamanho de uns dez episódios para uma dramaturgia, uma dramaturgia em seis ou em oito programas com 40 minutos, personagens que entram uma vez por semana na vida do público”.

Drica Moraes em 'Queridos Amigos', 2008 — Foto: João Miguel Júnior/Globo

Em 'Queridos Amigos', minissérie da Maria Adelaide Amaral, em 2008, Drica Moraes foi Vânia, personagem que se casou com um militante contra a ditadura, com quem compartilhava sonhos, e, depois, com um empresário, de tendência política oposta. “ Conseguiram reunir um grupo de amigos que na vida pessoal eram amigos íntimos realmente. E teve uma cena linda em que o personagem do Matheus Nachtergaele (o ex-marido de esquerda) vai procurar o meu personagem e quer voltar e ela não quer de maneira nenhuma. Eles têm uma cisão e o Matheus falou assim: ‘Drica, enquanto você estiver com o seu texto, eu vou te pegar, vou te agarrar e vou te beijar, você não se importa comigo, não se perturba que eu vou acabar com você!’. Na gravação houve muito improviso, com muito contato físico e muita emoção. Acabamos construindo uma cena bastante comovente!”.

Na sequência, quatro meses após adotar seu filho, em 2009, veio o seriado 'Decamerão, a Comédia do Sexo', de Guel Arraes e Jorge Furtado, gravado em Garibaldi, no Rio Grande do Sul.

Outro trabalho com Jorge Furtado foi 'Doce de Mãe', exibido em 2014 e ganhador de um Emmy. No seriado, Drica foi Rosa, uma personagem sobre quem, em determinado momento, pairou a desconfiança de que seria uma filha não reconhecida do marido de Fernanda Montenegro. “Foi um trabalho muito gostoso, piadas inteligentes, um jogo de cena maravilhoso, Fernanda ensinando a gente a fazer aquilo, a qualidade com que ela lida com o texto, com as marcas, com as ações”, pontua.

A atriz fez, ainda, participações especiais em uma série de programas ao longo dos anos 2000. Diferentes personagens em 'Os Normais', de Alexandre Machado e Fernanda Young, entre 2001 a 2003; a Catiti de 'Brava Gente', em 2001, no episódio 'Lira Paulistana', baseado em um poema de Mário de Andrade; e a Sheila de 'A Grande Família', em 2002, 2011 e 2012, nos episódios 'Nenê, a Esposa Carinhosa', 'Atendimento Personalizado' e 'A Mulher que botou Chifre no Capeta'.

'Os Normais' (2001): Rui e Vani conhecem um casal

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Durante o tratamento em função de um câncer, Drica Moraes teve uma participação especial em 'Ti-Ti-Ti', de Maria Adelaide Amaral, em 2010. Recuperada, viveu Nieta Carneiro, uma matriarca da Mooca em 'Guerra dos Sexos', de Silvio de Abreu, em 2012, quando contracenou com o amigo Fernando Eiras e foi dirigida por Jorge Fernando. “Estava com muito medo de voltar para o estúdio, porque, quando eu fiquei doente, fiquei dois anos com uma máscara de proteção, fiquei dentro de uma bolha, não podia sair. Mas foi muito bom, o Jorge Fernando joga a gente lá para cima”, relembra.

Drica Moraes em Império, 2014 — Foto: Paulo Belote/Globo

A novela seguinte foi 'Império', de Aguinaldo Silva, em 2014, que deixou boas lembranças, mas da qual ela teve de se afastar antes do fim, por problemas de saúde. “O Eduardo Milewicz, um argentino preparador de elenco, fez um trabalho incrível em Império, a gente improvisou muito numa sala nos Estúdios Globo, dançamos, rimos, rolamos no chão, nos beijamos, eu Marjorie Estiano, Alexandre Nero, Leandra Leal… Quando a novela começou, eu já estava muito feliz só de ter feito aquela preparação”, garante.

Em seus dois trabalhos mais recentes em TV, Drica Moraes atuou em produções de forte conteúdo dramático: a novela 'Verdades Secretas', de Walcyr Carrasco, em 2015, e a minissérie 'Justiça', de Manuela Dias, em 2016. Na primeira, foi Carolina, a mãe de uma modelo que não sabe que a filha se prostitui e acaba vivendo com ela um triângulo amoroso. “O público queria muito que ela visse logo, que fizesse alguma coisa, as pessoas gritavam comigo na rua. Foi uma novela que teve um impacto na rua, fui xingada, falavam assim: “ Tua filha não presta, tua filha está te enganando, uma coisa meio patética.” Drica só soube do desfecho da trama nos últimos dias de gravação.

Em 'Justiça', com direção de José Luiz Villamarim e Walter Carvalho, gravou cenas externas em Pernambuco e viveu Vânia, uma personagem intensa, alcoólatra e sofrida, contracenando com Antonio Calloni e Cauã Reymond. “A Vânia é também uma dessas mulheres maltratadas por maridos comuns. Tem muito assim aí pelo Brasil, mulheres com uma sensibilidade, com uma vocação, com uma esperança, com uma juventude, mas que são mutiladas por maus encontros afetivos”, diz.

Em 'A Fórmula', série de Marcelo Saback e Mauro Wilson, foi a cientista Angélica Dantas. Interpretou a médica Vera Lúcia Veiga em 'Sob Pressão', de Luiz Noronha, Claudio Torres e Renato Fagundes. Durante a pandemia de COVID-19, participou do especiais 'Amor e Sorte' e 'Sob Pressão: Plantão COVID, ambos em 2020. Dois anos depois, voltou ao horário das 21h como Núbia, mãe do vilão Ari (Chay Suede) em 'Travessia', de Gloria Perez.

Drica Moraes, Chay Suede e Lucy Alves em Travessia, 2022 — Foto: Camilla Maia/Globo

Alzira Vargas no cinema

A participação de Drica Moraes no cinema é menos frequente, se comparada à atuação no teatro e na TV. Nas telas, foi uma das irmãs Cajazeiras em 'O Bem-Amado', de 2010, dirigida por Guel Arraes, e Alzira Vargas em' Getúlio', filme de João Jardim exibido em 2014. “O Tony [Ramos] norteou o trabalho todo. Ele foi uma referência maior para tudo, a maneira como ele trabalha, como ele tem a contenção, o entendimento e a explosão, é impressionante. É impressionante, foi um grande parceiro”, ressalta. Ela atuou também em 'Traição', de José Henrique Fonseca, em 1998; 'Bossa Nova', de Bruno Barreto, em 2000; 'Amores Possíveis', de Sandra Werneck, em 2001; 'Os Normais', de José Alvarenga, em 2003; e 'Bruna Surfistinha', de Marcus Baldini, em 2011.

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