Por Memória Globo


Filho de professores, formou-se em jornalismo pela Fundação Armando Álvares Penteado, em São Paulo, em 1977. No terceiro ano de faculdade, conseguiu um estágio no departamento de imprensa da Volkswagen em São Bernardo do Campo. Estagiava de dia e estudava à noite. Ao final do estágio, ainda estudando, não podia ser contratado, e foi “bater às portas das empresas de comunicação”. Conseguiu outro estágio, agora na Globo no início de 1978. Era um período de investimento muito forte da emissora no jornalismo em São Paulo, segundo Tramontina, e ele foi logo contratado. Sua carteira foi assinada no dia 1º de junho de 1978. O começo foi duro: “Entrei como repórter, para cobrir o chamado buraco de rua, matérias feitas na periferia – em tese, mais simples; ao mesmo tempo, mais trabalhosas, porque você tinha de ir para os lugares mais distantes e mais problemáticos”, conta. “Eu fazia isso para o Bom Dia São Paulo, que não tinha os mesmos critérios de tratamento estético das matérias que os outros telejornais, digamos, e um repórter iniciante podia experimentar um pouco mais ali”, analisa.

Carlos Tramontina — Foto: Acervo/Globo.

Logo passou a fazer um quadro chamado Café da Manhã, gravado na casa de pessoas que eram notícia naquele dia por algum motivo. Tomou café da manhã com Elis Regina, Raul Cortez, muitos artistas e autoridades, mas também com pessoas comuns. “Fizemos Café da Manhã em padaria e até no Jardim Zoológico, para onde levávamos uma garrafa térmica e copos plásticos. Fiquei fazendo isso no Bom Dia São Paulo por vários anos. Primeiro fiz reportagens de periferia, depois Café da Manhã”, relembra.

Com mais experiência, passou a fazer matérias de meio ambiente e a integrar a equipe de repórteres da rede. Nessa época, em Cubatão, na Baixada Santista, havia um índice muito grande de crianças nascendo com má-formação cerebral, supostamente por causa dos altos índices de poluição, e a região ganhou o apelido de Vale da Morte. Durante quase um ano, o repórter fez muitas matérias sobre o problema, inclusive para o Jornal Nacional. A correlação nunca foi estabelecida cientificamente, mas providências foram tomadas: reduziu-se a poluição e os índices de má-formação cerebral também caíram.

A partir daí, Tramontina passou a fazer matérias de política, muitas transmissões ao vivo e também alguns comentários de política para os telejornais locais. “Isso me levou de volta ao Bom Dia São Paulo na condição de apresentador e, posteriormente, de subeditor do jornal”, lembra. Dos tempos de repórter, talvez a passagem mais marcante tenha sido a cobertura da doença e da morte do então presidente eleito Tancredo Neves. Na ocasião, fazia uma passagem ao vivo quando o porta-voz da Presidência, Antônio Britto, deu a informação sobre o falecimento de Tancredo.

Carlos Tramontina, Alberico Souza Cruz e Carlos Nascimento. Acervo/Globo. — Foto: Acervo/Globo

A primeira experiência do Bom Dia São Paulo ocorreu quando ele ainda era repórter. “Descobriram, em cima da hora, que o apresentador não viria. Faltavam dez minutos para o jornal ir ao ar. Eu havia feito o Café da Manhã, aí me colocaram no estúdio. Eu fiz o jornal, acho que dentro de um nível razoável, a despeito do pânico que vivi naquele momento”.

Começou a apresentar regularmente o Bom Dia São Paulo no final de 1986 e ficou por sete anos – dois anos como subeditor e cinco como editor-chefe. A estrutura do jornal era pequena, e Tramontina deixava todos os textos da cobertura esportiva do domingo para gravar na segunda-feira. “As segundas-feiras eram uma loucura. Eu me levantava às 2h45 e chegava à Globo às 3h30. Tinha que cuidar de Fórmula 1, basquete, vôlei e todos os gols da rodada de futebol do fim de semana – cinco, seis VTs de esporte. Dava muito trabalho, eram muitas cenas e sempre havia algum erro, algum problema, e era preciso reeditar”, lembra.

Os dez anos do jornal, em 1987, já com Tramontina no comando, foram comemorados em grande estilo. “Já naquela época”, conta, “tínhamos uma tradição de fazer coisas diferentes, de ousar. Então, fizemos um Café da Manhã, no Hotel Sheraton, para mais de 200 pessoas. Levamos para lá todos que haviam sido notícia do jornal ao longo do ano, pessoas importantes ou autoridades. Eu fiquei no estúdio, fazendo comentários e chamando – ao vivo, do hotel – as equipes de reportagem, que entrevistavam as pessoas. Foi um marco. Isso nunca havia sido feito na TV Globo – algo tão grande e de tamanho risco, num programa com uma hora de duração”. No aniversário da cidade de São Paulo, em 1990, Tramontina e sua equipe fizeram o primeiro telejornal ancorado fora do estúdio: o Bom Dia São Paulo foi transmitido direto do Parque do Ibirapuera. “Era um dia lindo, de céu azul e muito sol”, conta. “Eu fiquei diante do lago e fiz cada bloco voltado para uma direção. Havia, portanto, um cenário diferente a cada bloco, apenas rodando em torno do mesmo eixo onde eu me encontrava. Colocamos artistas da Globo e de São Paulo para fazer as passagens de bloco, e também havia muitas reportagens especiais. Foi um programa maravilhoso, que marcou”, relembra. A ousadia foi repetida dois anos depois, na comemoração dos 15 anos do telejornal, em 1992.

Carlos Tramontina apresentando Bom Dia São Paulo. Acervo/Globo. — Foto: Acervo/Globo

No aniversário de 15 anos do telejornal Bom Dia São Paulo, em 1992, o apresentador e editor-chefe Carlos Tramontina realizou algo inédito na televisão brasileira: ancorou o jornal direto de um helicóptero, ao vivo, sobrevoando a cidade de São Paulo. É ele quem conta, anos depois, ainda cheio de orgulho pela façanha:

“Nós fizemos uma semana de reportagens especiais sobre São Paulo, mas guardamos uma série delas para o programa especial. A estrutura do jornal era assim: eu aparecia no helicóptero, dava alguma notícia do dia e mostrava a região que estávamos sobrevoando. Daí, eu chamava uma reportagem especial sobre aquele assunto e, na sequência, chamava um repórter no Hotel Transamérica, para entrevistar um dos convidados sobre o mesmo assunto. Falei da poluição do Rio Tietê, do programa de despoluição que estava começando e o nosso repórter entrevistou o governador para falar daquilo. E assim foi o jornal todinho: entrevistamos autoridades, esportistas, artistas, um monte de gente. E reunimos também os âncoras anteriores do Bom Dia São Paulo”, relembra.

No último bloco, veio o show de tecnologia e ousadia: “No intervalo antes do último bloco, pousamos no heliponto do hotel e eu fui para o local onde estavam os nossos convidados. No caminho, recebi um ponto eletrônico, um microfone sem fio e abri o quinto bloco no ambiente onde estavam os convidados, que não sabiam que eu iria para lá – foi uma emoção muito grande para todo mundo. Tudo correu perfeitamente. E terminamos com aquele grupo de convidados e de profissionais da Globo, além de todos os âncoras, cantando Parabéns pra Você para o telejornal. Foi algo incrível!”, comemora.

Carlos Tramontina na bancada do SPTV, 2008. Zé Paulo Cardeal/Globo. — Foto: Globo

Em 1995, Tramontina voltou a produzir reportagens para os telejornais de rede. Três anos depois, assumiu a função de apresentador da segunda edição do SPTV. No mesmo ano, convidado pela Globo News, tornou-se apresentador do N de Notícias, programa que discutia a principal notícia da semana sob a ótica do jornalismo.

Em 2000, assumiu interinamente a apresentação do Jornal da Globo. Em seguida, voltou a apresentar a segunda edição do SPTV e tornou-se apresentador e editor do Antena Paulista, programa exibido aos domingos com noticiário e reportagens especiais sobre São Paulo. Entre 2011 e 2014, Tramontina apresentou também o Globo Notícia São Paulo.

Carlos Tramontinha foi afastado da bancada do SP2 em março de 2020, devido à pandemia da Covid-19. Continuou, em home office, a fazer o Antena Paulista. Com o afastamento de Tramontina, o SP2 passou a ser apresentado por Christiane Pelajo e Márcio Gomes e, a partir de outubro de 2020, foi comandado por Alan Severiano. Em agosto de 2021, Carlos Tramontina voltou a apresentar o jornal após ter recebido duas doses da vacina contra a Covid-19.

Depois de 24 anos à frente do SP2, Tramontina apresentou o jornal pela última vez em 26 de abrila de 2022 e deixou a Globo, onde colaborou por 43 anos.

Carlos Tramontina recebeu o prêmio de melhor apresentador do ano pela Associação Paulista dos Críticos de Arte em 1984. O jornalista é autor dos livros Entrevista – Arte e História dos Maiores Apresentadores da TV Brasileira, A Morada dos Deuses – Um Repórter nas Trilhas do Himalaia e Tietê – Passado e Futuro. 

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