Por Memória Globo

Renato Velasco/Memória Globo

Os tempos do Globo Cidade vão longe, mas estão vivos na memória de muitos telespectadores. Não tinha tempo ruim. Com chuva,sol,calor ou frio, ela estava onipresente no vídeo. Eram seis, sete entradas ao vivo, todo dia. De qualquer ponto do Rio de Janeiro, a repórter Angela Lindenberg mostrava os problemas e as mazelas da cidade. O empenho e a dedicação em busca da notícia inspiraram até um personagem de Jô Soares na década de 1980: “Foi muito engraçado, nunca imaginei que ele ia fazer um negócio desse. O bordão era ‘Angela Nuremberg, ao vivo, quase morta.’ Porque era como a gente ficava diante do calor, da correria, da poeirada. Eu achei super carinhoso com o trabalho da gente. Eu tenho uns gravados até hoje.”

Angela Lindenberg em entrevista ao Memória Globo — Foto: Renato Velasco/Memória Globo

Início da carreira

A carioca Angela Miranda Lindenberg nasceu no dia 30 de novembro de 1956. Formou-se na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro ( PUC-Rio). Em 1978, passou para um estágio de seis meses no jornalismo da Globo. A maior parte da turma foi para a apuração: “A gente aprendeu tudo. Começamos do zero. Tudo que a gente escrevia, tinha que submeter o texto ao chefe de reportagem. Eventualmente, quando faltava um repórter, saíamos para fazer uma entrevista. O jornalismo local era muito pequeno, só 5 minutos do Jornal Nacional era local, se produzia muito menos, não tinha Bom Dia Brasil, não tinha essas 500 mil coisas que tem hoje”.

Angela sairia logo da apuração. Começou a fazer reportagens sobre cultura das 17h à meia noite: shows, peças de teatro, filmes. O material era produzido para o Jornal Hoje do dia seguinte. Em 1982, foi cobrir uma licença maternidade de Leila Cordeiro no Globo Cidade: “Era uma aventura. Em primeiro lugar, o carro não tinha ar refrigerado e a gente tinha que andar de blazer. A gente andava com um cabide pendurado. Você ficava o dia inteiro na rua. Praticamente não ficava dentro da televisão. As pessoas ligavam e diziam: rua tal consta como asfaltada, mas não está….falta água, era isso o tempo todo”.

No Jornal Nacional

A jornalista lembra da sua primeira matéria no Jornal Nacional: “ Eu sempre fui mais repórter local do que de rede, mas a primeira matéria que fiz para o JN, matéria mesmo, com início, meio e fim, produzida, sem ser factual, foi sobre um estudo comparando o lixo de uma classe mais baixa com o lixo da Vieira Souto, em Ipanema. Era uma abordagem econômica. A gente saiu bem cedo e acompanhou um caminhão da Comlurb”.

A visita do Papa João Paulo II ao Brasil em 1980 foi a primeira grande cobertura de Angela Lindenberg. Fez uma reportagem com a família que morava em um barraco da Favela do Vidigal que o Papa visitaria. No comício das Diretas Já na Candelária em 1984, a participação em um momento histórico: “Fiquei fazendo “flash”, tinha gente até a Central do Brasil. Foi um momento muito emocionante, você via todo mundo unido em torno de uma coisa só. Senti uma força incrível ali. Todo mundo querendo a mesma coisa. Era um sentimento muito forte estar ali presente naquele comício.”

Com a então diretora de Jornalismo, Alice-Maria, Angela protagonizou um episódio engraçado: “Meu cabelo é crespo. Então, fazendo o Globo Cidade, eu vivia muito descabelada. Um dia, eu recebi uns 500 recados de que a Alice queria falar comigo. Cheguei na sala dela e ela falou:’ Eu tenho um presente para você’ e me deu uma caixinha. Eu abri e era um pente e uma escova. Ela falou: ‘Comprei pequenininho para caber na sua bolsa. Agora não tem desculpa, tá?’

Coberturas marcantes

Durante mais de 10 anos, Angela participou das coberturas de carnaval da Globo. Antigamente, o desfile das escolas de samba era num dia só e não havia escala de repórteres, ou seja, se ficava na avenida, 10, 12 horas. Uma autêntica maratona. Ela lembra de um momento inesquecível da carreira de repórter: uma entrevista com o cantor Paul Mcartney: ” Eu sou mega-fã dele”, revela.

O Plano Collor, em 1990, foi uma cobertura dramática e um desafio para os jornalistas, em geral: fazer a população entender as medidas que confiscavam a poupança do cidadão na história do país. “Ficava aquela fila de gente no caixa eletrônico, todo mundo querendo tirar o máximo de dinheiro possível e ninguém entendendo direito: quer dizer que eu só tenho 50 mil? Todo mundo super confuso, aquilo foi horrível. Os gerentes de banco desesperados”.

Jornalismo local

Em 1993, Angela Lindenberg deixou a reportagem e tornou-se editora do RJTV, que passava por um processo de ampliação, aumentando de 5 para 20 minutos de produção:”Criou-se muitas coisas, quadros novos. Eu nunca tinha sido editora, mas o fato de eu ter trabalhado muito tempo no Globo Cidade, fazia com que tivesse conhecimento do Rio e, assim, contribuía muito para a pauta.

No mesmo ano, a jornalista assumiu a chefia de reportagem da Editoria Rio: novas atribuições, novos desafios: “Foi uma experiência muito interessante, mas acho que foi o trabalho mais tenso que exerci aqui em todos esses anos. Primeiro porque existia uma cobrança muito grande e você tinha que ficar tomando decisão o tempo todo. Mas eu aprendi muito”.

Dois anos depois, Angela foi trabalhar com Olga Curado que assumia a Coordenação de Afiliadas. Olga desenvolveu um projeto de unificação das editorias locais das praças. As duas ficaram dois anos percorrendo o país, em um trabalho que deixou frutos: “A partir daí começou uma troca que não havia. Hoje em dia a relação com as afiliadas é muito mais próxima”.

GloboNews

Em janeiro de 2000, Angela Lindenberg torna-se chefe de redação da GloboNews, onde ficou até 2014. Nesse período, participou da evolução e do crescimento do canal de notícias 24 horas: “Temos correspondente em tudo o que é canto, a gente pode entrar de qualquer lugar do mundo. Além disso, temos um portfólio de pessoas, de especialistas que a gente pode ligar e a pessoa entra no ar a qualquer momento”.

Entre as inúmeras coberturas marcantes desse período, ela destaca duas, em especial: a do sequestro do ônibus 174, em 2000: “Foi nossa primeira cobertura contínua. Hoje, ela já está no DNA do canal”. E a dos atentados de 11 de setembro de 2001: “Aquilo foi uma coisa impressionante. Mobilizou todo mundo. Foi uma cobertura brilhante. Eu adoro a GloboNews. Trabalhar lá é um privilégio porque qualquer jornalista quer trabalhar em um lugar que tem notícia o tempo todo. E lá tem.”

Em maio de 2014, Angela Lindenberg voltou para a coordenação de Afiliadas.

Fontes

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