Por Memória Globo

Renato Velasco/Memória Globo

Formado em Comunicação Social pela Faculdade da Cidade, André Trigueiro começou a carreira como repórter na Rádio MEC. Trabalhou, ainda, na rádio JB antes de entrar na TV Globo, em 1993, quando se tornou repórter aéreo no Globocop. Fez parte da primeira equipe da GloboNews, onde apresentou o principal telejornal do canal de notícias, Jornal das Dez, durante 16 anos. Desde 2006, é editor-chefe e apresentador do Cidades e Soluções, onde produz pautas relacionadas a desenvolvimento sustentável, e comentarista dos programas Estúdio I e Em Pauta. Em 2012, retornou à Globo como repórter especial. Apresenta também, no rodízio de fim de semana, o Jornal Nacional e os telejornais locais no Rio de Janeiro. Sua experiência em pautas ligadas a meio ambiente e sustentabilidade o levou a ter uma coluna sobre o tema no Jornal da Globo. Ele dá aulas sobre o assunto na PUC-Rio e na COPPE-UFRJ, é colunista diário do quadro “Rio Mais Limpo” na Rádio CBN-Rio.

A minha utopia como profissional de imprensa é usar os recursos que eu treinei e tentei sofisticar para ser jornalista em favor da cultura de paz, de um mundo melhor e mais justo.

André Trigueiro em entrevista ao Memória Globo, 2016 — Foto: Renato Velasco/Memória Globo

Início da carreira

Filho dos professores universitários de Filosofia, Durmeval Trigueiro Mendes e Maria Márcia Trigueiro Mendes, André Trigueiro Mendes nasceu no Rio de Janeiro, em 1966. Na capital fluminense, fez toda a sua formação: estudou no Colégio de Aplicação da UFRJ, se formou em Comunicação Social na Faculdade da Cidade, em 1988. Mais tarde, a paixão pelo meio ambiente o levou a fazer pós-graduação na UFRJ, na área de Gestão Ambiental. Até hoje, Trigueiro é um dos poucos jornalistas especializados em meio ambiente e desenvolvimento sustentável na televisão brasileira. Até chegar a esse ponto, o caminho foi longo. Começou no rádio.

Rádio é meu meio de comunicação preferido, é paixão, toca direto o coração das pessoas, é um exercício pleno da comunicação interativa.

Tudo começou no ano em que se formou jornalista, em 1988. Fez um concurso para a TV Educativa e foi direcionado para um trabalho de repórter na Rádio MEC. Passou a apresentar o programa Vivendo com saúde. Em 1990, foi convidado para trabalhar na Rádio Jornal do Brasil, onde cobriu pautas diversas, como surto de cólera, escândalos na polícia, o leilão da Companhia Siderúrgica Nacional. A Rádio foi sua “escola de texto”, foi o que lhe abriu portas para entrar para a televisão.

TV Globo

Em 1993, foi convidado para fazer um teste para reportagem e passou. Se tornou repórter da Editoria Rio e foi um dos primeiros a trabalhar no Globocop. O principal tema de suas reportagens diárias para o Bom Dia Rio e RJ1 era o trânsito, mas também se acostumou a enxergar outro tipo de pauta, do alto. Era desafiado pelo então diretor-geral de Jornalismo, Evandro Carlos de Andrade, a perceber outras situações lá de cima. “A gente começou a educar o olhar, por exemplo, para surfista ferroviário, ocupações irregulares em morros, golfinho, queimadas, balões, situações inusitadas como despejo irregular de lixo ou entulho”, conta.

Nos três anos em que permaneceu na editoria Rio, violência urbana era um dos principais temas dos telejornais. Trigueiro, que tenta fazer um jornalismo em prol “da cultura de paz e de um mundo melhor”, tentou encarar esse tipo de pauta de uma maneira sã, condizente com sua visão de mundo. “Eu já entrei numa casa na Baixada Fluminense com oito corpos, você não consegue se livrar dessa imagem. No calor dos acontecimentos, são ossos do ofício, profissionalismo. Quando a poeira abaixa, há um trabalho de tentar instalar um antivírus, processar aquilo de maneira diferente. É um sinal de sanidade”, comenta.

GloboNews

Em 1996, André Trigueiro recebeu um convite inesperado. A diretora Alice-Maria Reinger convidou-o para integrar o primeiro time de apresentadores da GloboNews. Naquele momento, o primeiro canal 24h de notícias do Brasil era um projeto experimental, que entusiasmava os jornalistas jovens da Globo. Trigueiro, que acabara de emplacar as primeiras matérias no Jornal Nacional, ficou em dúvida, mas decidiu arriscar e aceitar o desafio. Foram algumas semanas de gravação de pilotos até estrear na bancada do Jornal das Dez, o principal telejornal do canal, no dia 15 de outubro de 1996.

“Era muito nervosismo, muita ansiedade, uma torcida. A gente com aquela cara de moleque, de garoto. A preocupação da Alice, dos veteranos da GloboNews, era que a gente mantivesse uma postura mais recatada, que a gente não fosse tão expansivo, que a gente se controlasse. E a primeira vez no Jornal das Dez deu tanta coisa errada que no final me ocorreu agradecer as pessoas, fiz assim: ‘Bom, o Jornal das Dez termina aqui, a você muito obrigado e uma boa noite.’”

“Essa mudança se refletiu na forma como definimos os conteúdos editoriais, as abordagens, a participação da gente durante a confecção do jornal, entrando mais firmemente nas escolhas. No início, eu era o garotão que estava acompanhado de uma equipe muito experiente, com a hercúlea tarefa de apresentar. Com a passagem dos anos, eu comecei a me sentir mais à vontade para participar ativamente dos conteúdos e da maneira como a gente deveria apresentar. Essas mudanças tornaram o jornal cada vez mais opinativo, eu diria, com um senso crítico muito aguçado.

EXCLUSIVO MEMÓRIA GLOBO

GloboNews - Concepção e Estreia (1996)

GloboNews - Concepção e Estreia (1996)

J10

O Jornal das Dez estreou com a proposta de ser um jornal mais aprofundado, com espaço para entrevistas que amarravam a principal notícia do dia, e também para o debate com comentaristas. Ele nasceu com uma interlocução forte e ao vivo com São Paulo, Brasília e Nova York. Foi uma oportunidade para Trigueiro mostrar seu lado “repórter”, entrevistando de forma incisiva e, a seu ver, delicada, autoridades e pessoas públicas.

Em 16 anos, o Jornal das Dez mudou, refletiu as transformações implementadas na GloboNews, que deixou de ser um projeto experimental e se tornou uma das líderes de audiência da TV a cabo, tendo como ênfase o hardnews e a transmissão de acontecimentos ao vivo. Trigueiro avalia que houve um amadurecimento profissional também de sua parte.

Coberturas marcantes

Na bancada do J10, Trigueiro deu em primeira mão notícias difíceis, como a queda do Fokker da TAM, em 1996; a repercussão da morte da Princesa Diana, em 1998; os atentados terroristas de 11 de setembro, nos Estados Unidos, quando o telejornal preparou uma edição especial de duas horas sobre o assunto; os deslizamentos de terra no Morro do Bumba, em 2010. Para ser provedor de conteúdo, ao vivo, Trigueiro tinha algumas técnicas. Ele conta: “Tem que ser um generalista e na GloboNews, isso é fato, porque a gente vai ter que mostrar para o telespectador que tem um razoável nível de informações gerais… e ai de você se não tiver, porque não vai ter quem socorra… Isso gera uma tensão. Eu tinha uma tática: anotar tópicos como se fossem questões; nomes, fatos ou situações que me inspirassem a falar. Até que tenhamos algo de novo, eu sou o provedor de conteúdo… então Deus me ajude para tentar dar conta desse recado, em tópicos".

Séries

Espaço privilegiado para exibir série de reportagens, o Jornal das Dez deu oportunidade para Trigueiro explorar ideias que conversavam mais com seus interesses. Exemplos foram as séries premiadas Kioto, o protocolo da Vida (a primeira série sobre mudanças climáticas da televisão brasileira) e A Nova Energia do Mundo, de 2005, e a pioneira Água, desafio do século XXI, exibida em 2003, de que Trigueiro guarda um carinho especial. Foi a primeira série premiada da história da Globonews, vencedora dos prêmios Embratel e Ethos. “Até então, os assuntos ambientais eram tratados de forma jocosa: bichinhos e floresta. Quando a gente fala em sustentabilidade, é modelo de desenvolvimento, projeto de civilização, uma coisa muito maior. Começamos nessa série a falar de água virtual, á água presente em tudo o que existe e você não vê, no sapato, roupas, câmera. O Brasil é o maior exportador de água do planeta, é o maior exportador de proteína animal, minério. Exportamos água”, lembra.

Cidades e Soluções

Em 2006, André Trigueiro conseguiu tirar do papel o projeto de uma série de reportagens chamada Cidades e Soluções, sobresustentabilidade. Uma ideia antiga, que o acompanhava havia anos. A diretora do canal, Alice-Maria, decidiu transformá-la em um programa semanal. Pauta não faltava, nem interesse – Trigueiro vinha se especializando cada vez mais no assunto, era realização de um sonho profissional.

“O programa tem o objetivo de mostrar as soluções sustentáveis, num mundo cuja população já é majoritariamente urbana. Nos interessa mostrar soluções que melhorem a vida das pessoas, que permitam geração de emprego, renda, prosperidade de maneira inteligente, sem agravar a destruição, a depredação, a maneira como a gente vem dilapidando a natureza. Esse é o nosso desafio civilizatório. Sinalizar rumo e perspectiva, sempre a partir de um problema”.

O programa de estreia, em 15 de outubro de 2006, teve como tema coletores de luz solar que aquecem água do banho, em uma época em que ainda não se tratava muito desse assunto no Brasil – “campeão mundial do chuveiro elétrico, um país tropical”, lembra.

Entre 2007 e 2012, o Cidades e Soluções, por iniciativa de Trigueiro e da equipe, tornou-se o primeiro programa da televisão brasileira a compensar as emissões de CO2 ocorridas para a realização das edições. A conta foi feita com base no combustível emitido nos deslocamentos de carro e avião da equipe, a energia elétrica consumida nos processos de gravação/edição e transmissão do programa, e pela energia usada pelos televisores ligados na hora do programa. A solução encontrada foi o plantio de árvores nativas no Jardim Botânico de São Paulo.

Um dos programas que Trigueiro mais gostou de fazer foi a edição sobre o crime do rompimento da barragem de rejeitos da Samarco, em Mariana, um ano depois. Exibido em novembro de 2016, o programa contou com viagens da equipe a Minas Gerais e Brasília. O intuito era mostrar o impacto da lama na qualidade da água do Rio Doce, consumida por milhões de brasileiros. Trigueiro também esteve em Brumadinho, onde registrou a tragédia de mais um rompimento de barragem da Vale, em 2019.

De volta à TV aberta

Em 2012, André Trigueiro voltou à reportagem da editoria Rio, após 16 anos na bancada do Jornal das Dez. O momento era propício – a cidade sediaria a Rio+20, conferência do clima, em junho. O jornalista viajou para a Amazônia e preparou uma série de reportagens para o Jornal Nacional sobre o futuro do planeta.

No hardnews, Trigueiro tenta se manter atento para as pautas que dizem respeito ao meio ambiente e ao desenvolvimento sustentável. “A editoria Rio tem um desafio, que é, estando numa linha de montagem de notícia, tentar descobrir o que há de novo, o que há de diferente. Gosto de fazer um tipo de reportagem que pode até ser policial, mas do bem; em que eu não estou escarafunchando a violência pela violência, estou mostrando que é uma violência você destruir a esperança e a paz do Rio de Janeiro”.

Em fevereiro de 2013, Trigueiro passou a integrar o time de apresentadores do RJTV, aos sábados. E, em abril de 2020, estreou como substituto na bancada do Jornal Nacional.

Rio+20 (2012)

Rio+20 (2012)

Jornada Mundial da Juventude (2013)

Jornada Mundial da Juventude (2013)

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Paralelamente...

O jornalista participou de grandes coberturas, como a das manifestações de 2013, que levaram milhões às ruas do Rio de Janeiro; a Jornada Mundial da Juventude, que ocorreu em paralelo aos protestos, no mesmo ano; o incêndio que destruiu o Museu Nacional, em 2018; chuvas e transtornos no Rio de Janeiro, em 2019. Também fez, entre 2012 e 2014 a coluna Sustentável, no Jornal da Globo, quando exibiu reportagens especiais gravadas por ele na China e na Alemanha.

André Trigueiro: de quem é a culpa por Brumadinho?

André Trigueiro: de quem é a culpa por Brumadinho?

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Outros trabalhos

Trigueiro é multitarefas. Para além da televisão, o jornalista é comentarista do quadro diário Rio Mais Limpo, na CBN-Rio, onde mantém a ligação afetiva que tem com a rádio desde o início da carreira. Também alimenta, na internet, um canal no YouTube, páginas no Twitter, Facebook e Instagram, um blog no portal de notícias G1 desde 2012; e um site próprio chamado Mundo Sustentável.

No mundo acadêmico, Trigueiro é professor de Geopolítica Ambiental na Coppe/UFRJ, e de Jornalismo Ambiental, na PUC-Rio (desde 2006). É autor dos livros Espiritismo e Ecologia (2009), Mundo Sustentável – Abrindo Espaço na Mídia para um Planeta em transformação (2005), Mundo Sustentável 2 – Novos Rumos para um Planeta em Crise (2012); Cidades e Soluções – Como construir uma sociedade sustentável (2017); Viver é a melhor opção: a prevenção do suicídio no Brasil e no mundo (2015) e “A Força do Um” (2019). E organizador da obra Meio Ambiente no século XXI (2001).

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Principais prêmios:
Série “Água: o desafio do século 21” (2003) – Prêmio Imprensa Embratel de Televisão e o Prêmio Ethos – Responsabilidade Social, na categoria Televisão. | Série Kioto: O protocolo da Vida (2005) – título de Hours Concours no Segundo Prêmio CEBDS de Desenvolvimento Sustentável.| Série A nova energia do mundo (2005) – Prêmio Nacional de Conservação e Uso Racional de Energia 2005, da Eletrobrás e Petrobrás. |Reportagem Etanol de Segunda Geração (2013), Jornal da Globo – Prêmio Top Etanol 2014 categoria Telejornalismo. |Prêmio Comunique-se na categoria Jornalista de Sustentabilidade (2007, 2009, 2011 e 2017).
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Fonte

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