Por Memória Globo

Renato Velasco/Memória Globo

Como acontece com a maioria dos artistas, Alessandra Negrini não sabia o rumo que sua vida iria tomar quando ingressou na faculdade. A primeira experiência foi no jornalismo. Depois, trocou para o curso de Ciências Sociais na Universidade de São Paulo. Uma experiência que durou três anos até o ingresso no curso de teatro Antunes Filho, abraçando de vez a carreira de atriz: “Um dia eu chutei o pau da barraca. Falei para os meus pais que queria ser atriz e não parei mais”. Filha do engenheiro Luís Eduardo Negrini e da pedagoga Neusa Negrini, ingressou na emissora por meio da Oficina da Globo, em 1993.  Ficou conhecida por sua atuação na minissérie Engraçadinha, de 1995.

Sou uma atriz apaixonada, intensa, intuitiva e disciplinada.

Fábio Assunção e Alessandra Negrini em 'Paraíso Tropical', 2007 — Foto: João Miguel Júnior/Globo

Início da carreira

Filha do engenheiro Luís Eduardo Negrini e da pedagoga Neusa Negrini, Alessandra Vidal de Negreiros Negrini nasceu no dia 29 de agosto de 1970. Recém-formada, foi convidada para ingressar na Oficina da Globo, em 1993. Naquele ano, a diretora Denise Saraceni a chamou para participar da novela Retrato de Mulher, interpretando a filha de Regina Duarte. A personagem, que tinha 15 anos, enquanto a atriz, vinte e poucos, contracenou também com o ator Caio Blat.

De volta a São Paulo, sua terra natal, Alessandra Negrini participou do final da novela 'Olho no Olho' (1993), dirigida pelo então desconhecido Ricardo Waddington. Negrini conta que gostava de improvisar e que o seu jeito natural de interpretar agradou o diretor.

Engraçadinha

O grande divisor de águas na carreira de Alessandra Negrini aconteceu em 1995, com a minissérie 'Engraçadinha', uma adaptação de Geraldo Carneiro e Leopoldo Serran do romance 'Asfalto Selvagem: Engraçadinha, Seus Pecados e Seus Amores', do escritor Nelson Rodrigues. Dirigida por Denise Saraceni e Carlos Manga, Alessandra ficou conhecida do grande público pela interpretação da protagonista quando jovem. “Eles diziam que o teste tinha sido bom, mas eu não me parecia com a Cláudia Raia, que fazia a Engraçadinha adulta. Eu fiz uns três ou quatro testes e definiram que não seria eu”.

Alessandra Negrini em 'Engraçadinha...Seus Amores e Seus Pecados', 1995 — Foto: Bazilio Calazans/Globo

Negrini conta que ficou arrasada até que a atriz escolhida teve que recusar porque era menor de idade. Foi quando entrou em cena o então diretor da Globo, Boni, e indicou Alessandra para o papel. A sensual Engraçadinha de Alessandra Negrini encantou a todos, despertando perigosas paixões e expondo duras regras da sociedade carioca. Apaixona-se pelo irmão e fica grávida dele, numa típica caracterização “rodriguiana” do universo e das hipocrisias da classe média brasileira.

'Engraçadinha... Seus Amores e Seus Pecados' (1995): O primo

'Engraçadinha... Seus Amores e Seus Pecados' (1995): O primo

Novelas e minisséries

Em 1998, Alessandra interpretou um papel que ela considera importante na sua carreira de atriz. Contrastando com a libertária Engraçadinha, a personagem Rebeca Maciel, na novela 'Meu Bem Querer,' era a mocinha evangélica. O ator Murilo Benício era o marido, e o casal tinha um filho. Dois anos depois, porém, Alessandra Negrini viveu uma mestiça entre os índios, outro personagem marcante na carreira dela. A trama era A Muralha e se passava por volta de 1600. Mostrava a saga dos bandeirantes rumo ao interior do território brasileiro, e as disputas por novas terras e riquezas.

Alessandra Negrini em 'Meu Bem Querer', 1998 — Foto: Nelson Di Rago/Globo

Dirigida, mais uma vez, por Denise Saraceni, Alessandra Negrini conta que trabalhou com várias tribos indígenas. Gravava na Chapada dos Veadeiros, em Goiás, e passava o dia na maquiagem para ficar com a pele bronzeada. O personagem era rude, uma mulher meio marginal que não gostava de fazer coisas de homens e trazia a fatalidade dentro dela.

Nessa experiência, a atriz gravou cenas com uma jaguatirica em um ambiente onde a natureza predominava. Ela lembra uma das sequências: “Eu estava grávida, dormia na chuva, numas pedras com a onça do lado, e ela lambia o dedão do meu pé assim”. No final da minissérie, a personagem vira onça. O figurino foi destaque nesta produção. Assinado por Cao Albuquerque e Emília Duncan, as roupas eram de couro e artesanais.

Em 2006, a atriz venceu o medo de andar a cavalo e interpretou uma amazona, na minissérie JK, de Maria Adelaide Amaral e Alcides Nogueira. Yedda era uma personagem real que tinha verdadeira paixão por montaria. Uma mulher rica, com dois cachorros e falava de um jeito afetado. “Quando você faz um personagem que é bem diferente de você, é interessante. Você pode desenvolver um gestual. Ela não tinha papas na língua, falava tudo na cara das pessoas”.

Horário nobre e especiais

Na sua primeira novela das “oito”, 'Paraíso Tropical', de Gilberto Braga, Alessandra Negrini interpretou um papel que é ao mesmo tempo sonho e medo dos atores: o de gêmeas. Foi também a primeira protagonista da atriz. Além de um desempenho complexo, Alessandra disse que foram horas de muito trabalho.

Alessandra Negrini em 'Paraíso Tropical', 2007 — Foto: João Miguel Júnior/Globo

A atriz ainda participou de programas especiais e humorísticos na Globo. Em 1996, integrou o elenco do seriado Comédia da vida privada. Fazia par romântico com o ator Selton Mello, sob a direção de Guel Arraes, Jorge Furtado, Fernando Meirelles, Mauro Mendonça Filho e Roberto Talma. A série era baseada no livro de crônicas de Luís Fernando Veríssimo. Em 2001, foi a vez de Os Normais. Negrini esteve ao lado do ator Du Moscovis, no episódio dirigido por José Alvarenga Junior.

'As Cariocas' (2010): A Iludida de Copacabana

'As Cariocas' (2010): A Iludida de Copacabana

Depois de receber um convite de Daniel Filho, Alessandra Negrini também participou, em 2010, da minissérie 'As Cariocas'. As histórias giravam em torno de mulheres cariocas que moravam em distintos bairros do Rio. Na adaptação da obra do escritor e cronista Sergio Porto, Alessandra se deparou, mais uma vez, com um programa de humor. A direção do episódio 'A Iludida de Copacabana' foi de Amora Mautner e ela dividiu a cena com o ator Thiago Lacerda.

Em 2022 volta ao horário nobre para interpretar Guida em 'Travessia', novela de Gloria Perez, uma mulher que tem um relacionamento conturbado com o filho Rudá (Guilherme Cabral).

Vilãs

Alessandra Negrini em Desejos de Mulher, 2002 — Foto: João Miguel Júnior/Globo

Além da vilã Taís em 'Paraíso Tropical', Alessandra Negrini coleciona outras maldosas na carreira. Em 'Desejos de Mulher' (2002), novela de Euclydes Marinho, foi Selma, uma mulher que foi consumida pela inveja de Andréa Vargas (Regina Duarte). Com um golpe bem sucedido, Selma consegue colocar as mãos na empresa de Andréa. As duas descobrem que são irmãs no decorrer da novela.

'Lado a Lado', escrita por João Ximenes Braga e Cláudia Lage, ambientou o Rio de Janeiro no início do século XX. A personagem defendida por Negrini foi a cantora lírica Catarina, mãe da filha de Edgar (Thiago Fragoso). Ela tenta de todas as formas atrapalhar o relacionamento do rapaz com Laura (Marjorie Estiano.

Alessandra Negrini em 'Orgulho e Paixão', 2018 — Foto: João Miguel Júnior/Globo

Susana, de 'Orgulho e Paixão', foi uma das vilãs da trama escrita por Marcos Bernstein. Divertida e manipuladora, é o braço direito de Julieta (Gabriela Duarte) e aplica golpes com ajuda de Petúlia (Grace Gianoukas), sua empregada.

Teatro e cinema

Além de participar de novelas e programas especiais na Globo, Alessandra Negrini fez cinema e teatro. Em 2011, fez a peça 'A Senhora de Dubuque', do dramaturgo norte-americano Edward Albee, em que ela interpretou um paciente terminal. Com a peça 'A Gaivota', do russo Anton Tchecov, viajou para a França, Colômbia, Canadá, Espanha e Japão. Em 'Beijo no Asfalto', de Nelson Rodrigues, trabalhou no palco com o ator Marcelo Serrado.

Pelo cinema, a atriz diz que tem paixão. Com Júlio Bressane, fez a Cleópatra que participou do Festival Internacional de Veneza e 'A Erva do Rato', ambos de 2008. Atuou também em 'Dois Coelhos', de Afonso Poyart (2012), 'O Abismo Prateado' (2013), de Karin Ainouz, e 'O Gorila', de José Eduardo Belmonte (2015), pelo qual ganhou o prêmio de melhor atriz no Festival de Havana.


Perguntada sobre como se definiria como atriz, Alessandra Negrini responde: “Uma atriz apaixonada, intensa, intuitiva… acho que muito disciplinada também. Vou deixando esse encontro acontecer. Minha busca é tentar abrir o inconsciente para deixar ele vir. Tirar o ego. O ator tem que ter o ego trabalhado, porque se você tiver o ego na frente, os personagens terão esse ego também. Se você estiver preocupada só com a sua beleza, você vai ser sempre isso. Aí você está mais para estrela, celebridade, do que para ator”.

Fonte:

Depoimento concedido por Alessandra Negrini ao Memória Globo em 21/12/2011
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