Memória Globo

Paulistano, Abiatar Arruda nasceu em 1963 e começou a trabalhar na Globo em 1977, ainda adolescente. Começou como contínuo do Jornalismo, trabalhou no setor administrativo e, em 1982, conseguiu uma vaga na Engenharia, como operador da Unidade Portátil de Jornalismo, a UPJ. A participação técnica nas reportagens o incentivou a buscar uma chance como cinegrafista, e já na primeira matéria pode mostrar seu trabalho no Jornal Nacional. Atuando em todos os telejornais, tanto os locais de São Paulo quanto os nacionais, destacou-se na cobertura de matérias policiais e investigativas, muitas de grande repercussão, como os casos Suzane von Richthofen e Pimenta Neves.

Fiz um estágio e entrei como operador de UPJ [Unidade Portátil de Jornalismo]; fazia o serviço de externa. A gente pegava o VT, BVU-100 ou 110, equipamento de gravação profissional acoplado à câmera do cinegrafista, e gravava pela fita U-Matic e pelo VT. Tínhamos uma espécie de 'cordão umbilical', que ligava o repórter ao cinegrafista, e o cinegrafista à UPJ.

Abiatar Arruda, 2015 — Foto: Bob Paulino/Memória Globo

Início da carreira

Abiatar Arruda começou a trabalhar na Globo em 1977. Filho do bancário Adhemar Arruda e da dona de casa Célia Teresinha Buzolin Arruda, seguiu os conselhos do pai quando, ao ter que decidir se ia numa entrevista de emprego na Editora Abril ou na Globo, decidiu-se pela emissora, por ser uma empresa em crescimento que oferecia mais possibilidades de ascensão. Após as experiências na área administrativa, transferiu-se, em 1982, para a Engenharia em busca de novas oportunidades. Para assumir a função, Abiatar fez curso de iluminação, de vídeo e de operação no sistema PAL-M. Esses treinamentos, e os que vieram depois, permitiam que os profissionais acompanhassem os avanços tecnológicos que se sucediam, como os equipamentos de micro-ondas para geração de sinal, os receptores de microfone sem fio e as mudanças nas unidades móveis que fazem transmissões ao vivo. A participação técnica nas reportagens o incentivou a buscar uma chance como cinegrafista, e já na primeira matéria pôde mostrar seu trabalho no Jornal Nacional.

Antes de se tornar repórter cinematográfico, ele integrou equipes responsáveis por uma série de reportagens de impacto, como o incêndio na vila São José em Cubatão, em 1984; a doença do presidente Tancredo Neves, em 1985; a queda de um avião da Varig em Mato Grosso, em 1989; e o assassinato de Adriana Caringi, em 1990, por um erro policial. “Foi um assalto e a polícia de São Paulo cercou toda a casa, de madrugada. Um atirador de elite atirou no assaltante, mas na verdade acertou os dois, a moradora que ele tinha sequestrado também. Aí o pai sai na porta assim e grita: ‘Vocês mataram a minha filha, vocês mataram a minha filha…’”, conta.

Na relação entre repórter cinematográfico e repórter, os dois têm de estar muito bem entrosados. Sabendo o que vai fazer, sabendo qual vai ser a linha mestra da matéria, é mais fácil conduzir a reportagem. Aí entra a credibilidade: quando você fala ‘vou ali fazer uma imagem’, ele sabe que aquela imagem será de vital importância para a reportagem.

São Silvestre

Como operador de UPJ, Abiatar Arruda participou dos preparativos para a exibição da primeira São Silvestre pela Globo, em 1982, evento que contou com uma equipe de 70 pessoas. A prova acontecia à noite e para manter o padrão de qualidade exigido pela emissora foram colocados vários pontos de iluminação ao longo do trajeto, e o veículo que seguia os competidores também tinha grande capacidade para iluminar as ruas. Abiatar ficou então ao lado do repórter Raul Quadros, em uma esquina da Avenida Paulista.

Assistência de câmera

No início dos anos 1990, Abiatar Arruda passou a atuar como assistente, operando a segunda câmera quando havia necessidade de cobrir um evento esportivo ou do noticiário geral com mais de um equipamento. Em 1996, nessa condição, fez parte da primeira equipe a chegar ao incêndio da favela Heliópolis, em São Paulo, antes inclusive dos bombeiros. Assim, o bloqueio de segurança que restringiu a movimentação do restante da imprensa não mudou a posição das câmeras que eles haviam escolhido. Com imagens exclusivas, a repórter Eleonora Pascoal entrou ao vivo nos telejornais Bom Dia São Paulo, Bom Dia Brasil e Jornal Hoje. “Eu não era cinegrafista, era da UPJ ainda, não tinha a responsabilidade de pegar a câmera, mas por sorte ou coincidência eu estava lá, tive essa vontade de pegar a câmera e gravei”, relembra.

Como em seguida a Globo decidiu criar novas equipes para o SPTV, Abiatar se candidatou a uma vaga de repórter cinematográfico e passou a acompanhar equipes do Jornalismo fora de seu horário normal de trabalho, para aprender mais. A chance de se consolidar na nova função surgiu quando o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta decidiu retirar o dinheiro da prefeitura do banco estadual, o Banespa, e transferiu os recursos para o Banco do Brasil. Como seria feita uma matéria para o Jornal Nacional sobre o assunto, mas não havia cinegrafista para acompanhar a repórter Zelda Mello, ele foi escalado e estreou no principal telejornal da emissora, em 1998.

Matérias policiais

A partir dessa época, ao lado do jornalista Valmir Salaro, especializado em matérias policiais, Abiatar Arruda passou a cobrir muitos crimes. Ainda em 1998, a dupla denunciou a Máfia dos Fiscais. Juntos, flagraram o momento em que um fiscal da prefeitura de São Paulo era subornado e, em seguida, preso pela polícia. No mesmo ano, na cobertura do caso do maníaco do parque, os dois entrevistaram uma das sobreviventes dos ataques. “É um drama emocional, algo com que você precisa ter muito cuidado. Você tem que saber acompanhar, ouvir a dor dela, esperar ela chorar, compartilhar. É muito difícil e dolorido, porque a gente é humano”, afirma.

Outra reportagem que marcou a trajetória de Abiatar foi o choque entre dois trens em Perus, na periferia de São Paulo. O acidente foi em julho de 2000. Ele e a repórter Fernanda Fernardes chegaram antes dos bombeiros e entraram ao vivo, de dentro da estação, no Jornal da Globo. ” Tinha um trem parado na estação devido a problema de energia e depois veio outro e bateu. Foi trágico também por ser dois trens e dentro da estação onde tinha passageiros aguardando o transporte”. Nove pessoas morreram e 115 ficaram feridas.

Entre os casos rumorosos que vieram na sequência, se destacam o assassinato de Sandra Gomide pelo jornalista Pimenta Neves, em 2000; a represália ao transporte ilegal de vans, em 2001, denúncia exclusiva do SPTV sobre a máfia dos perueiros, que envolvia violência e corrupção; o assassinato dos pais planejado por Suzane von Richthofen, em 2002, quando Abiatar Arruda foi o único cinegrafista da Globo a participar da reconstituição do fato; e o crime do estudante Gil Rugai, que matou o pai, em 2004.

Ousadia

Na visita do presidente norte-americano George Bush a uma escola em São Paulo, em 2007, Abiatar Arruda conseguiu gravar imagens ao lado de Bush, burlando com jeitinho as muitas restrições impostas pelo serviço secreto dos EUA. “Os meninos estavam tocando num ritmo de samba e eu percebi que o presidente começou a acompanhar o ritmo. Aí, de uma forma muito ousada mesmo, eu desci com a câmera disparada, porque se alguém tivesse que me bloquear ia mostrar eles me bloqueando. Desci com tudo, fui falando ‘só um pouquinho’, ‘paciência’ e de repente estava lá ao lado do presidente. Só depois os seguranças perceberam e foram me tirar”, recorda.

Saúde, cidadania e meio ambiente

Além dos temas policiais, o repórter cinematográfico trabalhou com pautas importantes em outras áreas. Em 2007, ao lado do repórter Alan Severiano, viajou para o litoral de São Paulo e para o Rio de Janeiro, com o objetivo de mostrar como a dengue estava se alastrando e as autoridades não se davam conta. A matéria foi ao ar no Jornal Nacional. Participou com o Caco Barcellos do programa piloto do Profissão Repórter, sobre a seca no Piauí, quando ainda era um quadro do Fantástico. Na mesma época, mostrou um casamento comunitário no Pará para o quadro; e, também em 2007, já com o programa em seu formato independente, acompanhou com Caco Barcellos a saga da torcida corintiana quando o time estava para cair para a segunda divisão.

Para o programa Ação, que se tornou posteriormente Como Será, participou de reportagens que tinham Organizações Não Governamentais como objeto. “O bom e o gostoso de fazer esse programa é que você mexe com pessoas que necessitam do calor humano, necessitam da sua matéria, necessitam de tudo, falando com ONGs que trabalham em prol da criança e do idoso, em prol das pessoas mais necessitadas”, diz. O repórter cinematográfico lembra dois projetos elogiados: “A Cor da Cultura”, pelo qual a equipe viajou pelo Brasil para mostrar o envolvimento do negro afro-brasileiro na cultura e na sociedade. “O segundo projeto foi a série de 2012 “SP+Limpa”, exibida durante dois meses nos jornais locais. As reportagens mostraram os problemas e soluções do lixo urbano na capital”.

Com o Globo Natureza, esteve em Belém e na Região Amazônica para mostrar o aumento do desmatamento, e com Maurício Kubrusly gravou diversos quadros para o Me Leva Brasil, exibidos no Fantástico. Nessas matérias, muitas vezes exibidas bem depois de sua gravação, a equipe envolvida teve o cuidado de evitar que fotos ou informações fossem publicadas nas mídias sociais de cada um, para que o ineditismo da informação não se perdesse.

Prêmio Tim Lopes

Abiatar Arruda recebeu em 2015, com Giuliana Girardi, Mônica Marques, Walter Nunes, José de Arimatea, Bruno Della Latta, Bruno Mauro e Claudio Gutierre, o Prêmio Tim Lopes de Jornalismo Investigativo, por uma matéria que denunciava a exploração sexual de crianças por parte do prefeito de Coari (AM), Adail Pinheiro. A equipe convenceu as famílias e as próprias meninas a contar como elas eram aliciadas, o que foi feito até por meio de desenhos, para preservar os rostos e identidades das crianças.

Em maio de 2018, o repórter cinematográfico registrou o flagrante de uma tragédia. A equipe estava fazendo uma reportagem sobre a falta de leitos em um hospital na Zona Leste de São Paulo quando foi avisada pela chefia de que havia um incêndio no Largo do Paissandu, já com 40 viaturas dos Bombeiros. Os profissionais foram deslocados para o local. Assim que chegaram, Abiatar posicionou a câmera esperando o salvamento de um rapaz: “Quando vi a parede do prédio se mexer, disse a mim mesmo, vai cair e abri a imagem, neste momento o coração acelerou porque eu vi o rapaz caindo junto com o prédio, imagem dramática e impactante, é chocante”.

Ao rever a imagem na câmera, Abiatar Arruda diz que não vibrou e que estava sereno. Sabia que a repercussão ia ser grande, que o flagrante poderia correr pelo mundo, mas que, naquele momento, não poderia se abalar. “Não foi frieza e sim um conjunto de aprendizado que começou desde quando entrei na Globo há mais de 40 anos. Meu reconhecimento não está nesta imagem do rapaz caindo junto com prédio em chamas e sim o fruto do meu trabalho que eu venho fazendo no decorrer da minha vida profissional. Essa imagem que captei é realmente valiosa em termos jornalísticos é uma marca que ficará gravada não só para mim como para o telespectador”.

Ao longo da carreira, Abiatar Arruda atuou ao lado de vários repórteres investigativos, como seu parceiro mais constante, Valmir Salaro, e César Galvão, José Roberto Burnier, Tonico Ferreira, Helena de Grammont e Eleonora Pascoal. “Por mais que haja problemas, é gostoso você estar ali querendo desvendar. Nós temos um pouco de sede de justiça neste país, então se você consegue desvendar, levar o cara preso através da sua matéria, acho que está fazendo um bem não só a você, mas para sociedade”, acredita.

Fonte

Mais do memoriaglobo
Projeto Fragmentos

A cidade mineira de São João Del Rei virou palco de romance vivido em meio a discussões sobre a divisão de terras

'Voltei Pra Você' no Globoplay: seis capítulos estão disponíveis  - Foto: (Nelson Di Rago/Globo)
Escrita por Gilberto Braga

Busca de ascenção social, sede de vingança e discussão sobre racismo conduziam as principais tramas da novela

'Corpo a Corpo' estreia no Viva; novela foi exibida há 40 anos - Foto: (Memória Globo)
Show da Vida

Programa em forma de revista eletrônica, o 'Fantástico' é um painel dinâmico do que é produzido na TV Globo. Criado em 1973, é exibido aos domingos, à noite. Confira algumas reportagens que fazem parte da história de 'O Show da Vida'.

Relembre grandes reportagens exibidas pelo 'Fantástico'  - Foto: (Arte/Globo)
Projeto Resgate

Ambientada no ensolarado Rio de Janeiro, Água Viva trazia a disputa de dois irmãos pela mesma mulher.

Escrita por Gilberto Braga e Manoel Carlos, 'Água Viva' chega ao Globoplay - Foto: (Ayrton Camargo/Globo)
Perfil da semana

A atriz Isabela Garcia nasceu no Rio de Janeiro. Estrou na Globo aos quatro anos de idade, em 1971. Com mais de quatro décadas de carreira, participou de novelas de sucesso nos anos 1970 e 1980.

Isabela Garcia estreou na Globo aos quatro anos  - Foto: (Memória Globo)
O amor está no ar

O amor está no ar e o que não falta é casal apaixonado na história da teledramaturgia da Globo. Confira alguns dos mais marcantes!

Relembre casais marcantes no especial 'Namorados da Dramaturgia'  - Foto: (Arte/Globo)
Luto

A atriz Ilva Niño nasceu em Floresta, Pernambuco, em 1933. O primeira trabalho na Globo foi em 1969. Brilhou em Roque Santeiro (1985), quando interpretou a Mina, a empregada doméstica e confidente da viúva Porcina (Regina Duarte). Ela morreu em junho de 2024.

Atriz Ilva Niño morre aos 90 anos  - Foto: (Renato Velasco/Memória Globo)