Os repórteres mostraram a riqueza do mais velho dos biomas brasileiros e a cultura do povo que vive na região. A primeira reportagem foi ao ar no dia 2 de agosto e tratou da vegetação. “Nem tudo o que é torto é errado/veja as pernas do Garrincha/e as árvores do Cerrado”. Os versos do poeta Nicholas Bher exaltam a peculiar vegetação de árvores baixas e de galhos retorcidos que ocupa um quarto do território nacional.
Marcelo Canellas conversou com ambientalistas e biólogos para mostrar que o Cerrado abriga um enorme manancial de vida. O repórter denunciou a ação de trabalhadores, recrutados no Nordeste, que desmatam a região para transformar madeira em carvão, a ser vendido para siderúrgicas. Canellas ouviu também o então secretário de biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente, João Paulo Capobianco, sobre os danos que o desmatamento traz para o bioma.
No dia 3 de agosto, a série mostrou como cientistas da Embrapa usaram técnicas de plantio e correção para transformar o solo pobre do cerrado em uma das áreas agrícolas mais produtivas do mundo.
![Primeira reportagem da série sobre o cerrado brasileiro. Jornal Nacional, 02/08/2004. Primeira reportagem da série sobre o cerrado brasileiro. Jornal Nacional, 02/08/2004.](https://cdn.statically.io/img/s01.video.glbimg.com/x240/3514476.jpg)
Primeira reportagem da série sobre o cerrado brasileiro. Jornal Nacional, 02/08/2004.
Pequi, buriti, macumã, mangaba, gabiroba, a lista é longa. O Cerrado conta com mais de 200 espécies de frutos comestíveis. A reportagem do dia 4 de agosto investigou as peculiaridades e as riquezas nutricionais desses vegetais. Marcelo Canellas visitou o viveiro da Embrapa, em que estava sendo desenvolvido o primeiro projeto de domesticação de árvores frutíferas da região. As técnicas desenvolvidas no viveiro deixavam as frutas prontas para o plantio comercial. O repórter também descobriu uma sorveteria de Goiânia que só trabalha com frutas do Cerrado e esteve nas feiras populares para testemunhar a paixão dos frequentadores pelas frutas.
“Há muito que o cerrado já não é só um ecossistema ou uma mancha geográfica no mapa do Brasil. É uma fronteira cultural, que delimita a imensa região habitada por populações que se reconhecem e se identificam umas com as outras pelo jeito de viver. E mais do que isso: pelo jeito de se expressar diante da vida”, afirma Marcelo Canellas na quarta reportagem da série, que foi ao ar em 5 de agosto. O repórter investigou um dos exemplos mais fascinantes da diversidade cultural do cerrado: a musicalidade dos camponeses da região.
A última reportagem da série tratou do artesanato do Cerrado, marcado pelo uso de folhas selvagens e sementes silvestres. Canellas esteve no atelier da Associação dos Artesãos, em Planaltina, onde se cultiva a tradição secular de alinhavar folhas secas em arranjos de flores, e acompanhou o trabalho dos artesãos com licença do Ibama para fazer a “extração ecológica” nas árvores do Cerrado, colhendo material para confeccionar peças de artesanato.
Em 2005, 'Cerrado' ganhou o Prêmio Nuevo Periodismo, oferecido pela Fundação Nuevo Periodismo Ibero-americano (FNPI), na categoria telejornalismo.