História

Por Memória Globo

Acervo/Globo

Como o Jornal Nacional foi o primeiro telejornal a ser exibido em rede para todo o país, a equipe de jornalismo da TV Globo teve que desenvolver o conceito de noticiário nacional, ainda inexistente na televisão brasileira. Uma série de critérios foi então formulada para servir de guia na seleção e na hierarquização das notícias.

As matérias deveriam ser de interesse geral e não regionais ou particularistas. Os assuntos tinham que chamar a atenção tanto do telespectador de Manaus quanto de Porto Alegre. Era necessário não superdimensionar uma região em detrimento de outra, pensar sempre em como determinada nota poderia repercutir em estados diferentes. Num país continental, com tantas diferenças regionais, era uma tarefa difícil, e a equipe teve que ir aprendendo aos poucos. Como havia editores oriundos de várias regiões, a troca de ideias era sempre enriquecedora para todos.

Um exemplo das dificuldades de se lidar com as diversidades regionais veio do noticiário meteorológico. Nos primeiros anos, no boletim do Jornal Nacional, “tempo bom” significava dia de sol e “mau tempo”, dia de chuva, até que alguns telespectadores passaram a reclamar. No Nordeste, castigado pela seca, “sol” queria dizer tempo ruim. A partir de então, passou-se a ter o cuidado de não empregar o adjetivo “bom” ou “mau” para se referir ao tempo, usando no lugar as expressões “dia ensolarado” e “dia chuvoso”.

A produção do Jornal Nacional

No início dos anos 1970, 150 profissionais (entre editores, locutores, repórteres e cinegrafistas) faziam parte da equipe do Jornal Nacional.

O JN começava a ser preparado às seis da manhã, com a definição da pauta. Escolhidos os assuntos, as equipes iam para a rua carregadas de câmeras, luzes, microfones. Era uma parafernália pesada, quase nenhum equipamento era portátil. De volta à redação, repórteres escreviam os textos enquanto as imagens iam sendo reveladas e seguiam para a montagem. Começava, então, o trabalho de edição de Ronan Soares, Edson Ribeiro, Sílvio Júlio e Renato Klos. Outra parte da equipe, com Margareth Cunha à frente, recebia as matérias internacionais que chegavam das agências de notícias, por telegramas, e as imagens, via satélite.

À tarde, as sucursais transmitiam suas reportagens, por micro-ondas. O JN deveria ficar pronto às sete da noite, quando o diretor de imagem, Alfredo Marsilac, verificava os últimos detalhes. No estúdio, Cid Moreira e Sérgio Chapelin liam os textos. Às 19h45, em ponto, o JN entrava no ar. Nessa época, a editora-chefe do JN era Alice-Maria, e o chefe de redação era Nilson Viana. No comando da produção estava Luís Edgar de Andrade e, na chefia de redação, Mauro Costa.

CPN – Centro de Produção de Notícia

A produção do Jornal Nacional mudou ao longo das décadas. Mudanças nas tecnologias de comunicação agilizaram a apuração da notícia e reestruturações no modo de trabalho foram necessárias. Uma delas foi a criação do Centro de Produção de Notícias, o CPN, em 1976. O CPN reunia dois departamentos que até então funcionavam separadamente: a Coordenação Nacional (chefiada por Ronan Soares) e a Coordenação Internacional (chefiada por Henrique Coutinho). Sua função era monitorar a realização das reportagens nas diversas praças e nos escritórios no exterior. Foi chefiado inicialmente por Ronan Soares e contava com uma pequena equipe, formada por Maria Helena Amaral, Carlos Alberto Tenório e Palmério Dória, à qual depois se juntariam Lúcia Abreu, e Tereza Cristina Rodrigues.

Em 1980, Ronan Soares saiu do CPN, sendo substituído por Eurico Andrade. Pouco tempo depois, o lugar foi ocupado por Wianey Pinheiro, que fez uma reordenação geral no CPN visando a transformá-lo na grande chefia de reportagem da Central Globo de Jornalismo, ou seja, em um abastecedor dos vários telejornais e programas das afiliadas e emissoras da Globo. Sua função básica era centralizar e organizar a produção da notícia e dar mais assistência aos repórteres regionais e aos correspondentes internacionais. O CPN se transformou na alma do jornalismo da Globo. Contava com um produtor para cada programa e telejornal, responsável pela ronda diária em todos os estados do país, do Rio Grande do Sul ao Amazonas, e em todos os locais onde havia escritórios da emissora no exterior. Depois de apuradas as informações, o produtor as repassava para os editores, que planejavam então o que iria ao ar.

O CPN foi importante para fazer com que pequenas localidades brasileiras se fizessem mais representadas nos grandes programas do telejornalismo nacional. O Centro estimulava e cobrava das emissoras da Globo e das afiliadas em todo o país o envio de material para o Jornal Nacional e para os outros telejornais de rede. Integraram sua equipe profissionais como Alberico de Sousa Cruz, Leonardo Dourado, Carlos Henrique Schroder, Wilson Serra, Rosa Urbanetto e Irineu Guimarães, entre outros.

Foram instituídas reuniões diárias com todos os editores do Jornal Nacional e com os representantes das praças (São Paulo, Brasília, Belo Horizonte, Recife e Porto Alegre). Essas reuniões – apelidadas de reuniões da “caixa de conferência” ou “caixa de sapato” – começavam logo após a exibição do Jornal Nacional e eram realizadas via satélite. Em cada praça, em cima da mesa de reuniões, havia um aparelho em formato de caixa, com microfones e um alto-falante, através dos quais os jornalistas se comunicavam, fazendo uma avaliação da edição que acabara de ir ao ar e planejando a do dia seguinte. Eram analisados os assuntos que poderiam render matéria e elaborado o Jornal da Pauta, uma publicação de oito páginas enviada para todas as emissoras da Rede Globo e afiliadas.

No dia seguinte pela manhã, havia uma nova reunião na qual o Jornal da Pauta era discutido e as afiliadas e os escritórios internacionais poderiam sugerir novos assuntos. A partir daí, era montado o primeiro espelho, ainda provisório, do telejornal. Às 17h30 era produzido o segundo e, finalmente, às 18h30 já estava pronto e terceiro e definitivo espelho do JN. Com o CPN e “as reuniões de conferência”, as discussões éticas e de conteúdo se ampliaram e passaram a fazer parte do cotidiano dos profissionais da Rede Globo. Por isso, são considerados marcos do processo de amadurecimento do jornalismo da emissora.

“A produção é a alma do telejornal, porque em televisão, diferentemente de jornal e de revista, você não pode ter uma equipe com um repórter e um fotógrafo, que resolve muitas vezes a matéria sem sair da redação; você precisa ter uma equipe que envolve cinegrafista, operador de UPJ, produtor, repórter. Você tem que ter autorizações para filmar, isso é produção.” – Carlos Henrique Schroder.

O fim do CPN

Quando Alberico Souza Cruz assumiu a chefia dos telejornais de rede (1987), ele mudou a produção de notícias – a responsabilidade saiu do CPN, cujo nome foi extinto, e passou para editorias dentro telejornais, que decidiam sobre os assuntos do dia. Cada um dos chefes de editoria passou a contar com uma pequena estrutura de produção própria.

O setor de Produção passou a ser, a partir de 1990, quando Alberico Sousa Cruz assumiu o cargo de diretor de Jornalismo (1990), área responsável por pensar a operação dos telejornais. Carlos Henrique Schroder fazia parte da equipe do CPN nos anos 1980 assumiu a direção de Produção do Jornalismo, fundamental para a coordenação de grandes estruturas de transmissão ao vivo dentro do tempo do telejornal.

Mesa Rede nos anos 2000

No final dos anos 1990, o Núcleo de Produção foi novamente reestruturado, retomando características do antigo CPN. “A chefia de produção é uma área muito importante para todos os telejornais, ainda mais naquela época que a gente estava começando a enxergar uma produção mais compartilhada, pensando na distribuição de pautas… Éramos um ponto importante de conexão com os repórteres e também com os correspondentes”, conta Márcia Menezes, chefe de produção entre 1999 e 2004.

Nessa época, a área também atendia pelo nome de Mesa Rede. A equipe trabalhava em três turnos, fazendo uma ronda das notícias – falavam com chefes de redação de Norte a Sul do Brasil. A Produção funcionava em um aquário dentro da redação do Jornal Nacional no Rio de Janeiro, tendo como parte da equipe cinco produtores.

Em 2004, quando Monica Barbosa assumiu o cargo de chefe de produção no lugar de Márcia Menezes, que se tornava editora-chefe adjunta do Jornal Nacional, a Mesa Rede falava “com o núcleo de cada afiliada, de qualquer lugar do Brasil” para compor um cardápio variado de notícias para os telejornais da Globo. “Se acontece alguma coisa, você sabe exatamente para quem ligar. As mais de cem afiliadas da Globo estão sempre prontas para ir ao local da notícia cobrir os acontecimentos”, comenta Mônica.

Cristiana Sousa Cruz, que assumiu o cargo entre 2007 e 2013, complementa que foi nesse período em que entendeu “o tamanho dessa estrutura da rede, porque é tão grande e tão forte. Nosso papel, além de pedir, receber e aceitar ofertas de pautas, era também o de orientar o trabalho dos repórteres.”

A Produção é “o início, o fim e o meio” do Jornal Nacional, como define Fátima Baptista, chefe da Mesa entre 2013 e 2019. Ela relata que a equipe redige um relatório detalhado chamado “previsão do JN” todos os dias, a partir de 7h da manhã. São dez páginas com tudo o que ocorreu de importante até aquele momento. As páginas são insumo da chamada “reunião de caixa” que, por videoconferência, reúne editores do JN no Rio, São Paulo, Brasília, Pernambuco, Minas Gerais e os dois escritórios em Nova York e Londres. A reunião é conduzida pelo editor-chefe William Bonner e serve como ponto de partida para a montagem do espelho do JN e também para a produção das reportagens. “Hoje, produzimos mais e mais depressa. Porém, mantemos a essência do CPN: encontrar, desvendar, entender, reportar os acontecimentos. Há 50 anos, somos a antena que capta tudo que é notícia, no Brasil e no mundo. Conectamos praças, afiliadas, escritórios, correspondentes e a nossa redação”, completa.

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