Em outubro de 2010, estreou no 'Fantástico' a série 'Terra, que Tempo é Esse?', com os repórteres Sônia Bridi e Paulo Zero. Os jornalistas foram a 12 países para conhecer paisagens ameaçadas e conversar com autoridades sobre o aquecimento global. Uma das reportagens, gravada na Groenlândia, mostrou imagens captadas no momento em que um imenso bloco de gelo derretia. Sônia Bridi e Paulo Zero viajaram sozinhos. Renata Chiara fez a produção da série trabalhando do Brasil. "Viajávamos só nós dois. Ela fazia produção por telefone. O que ficava com pontinha solta, eu ajeitava no local", lembra Sônia.
No livro 'Correspondentes - Bastidores, Histórias e Aventuras de Jornalistas Brasileiros pelo Mundo', Sônia Bridi contou que a ideia da série surgiu após a Convenção do Clima em Copenhague, em 2009, "que foi um fracasso, uma vergonha da diplomacia internacional." Ao retornar, Sônia e Paulo prepararam um projeto com a ideia de mostrar locais onde o clima já havia sido afetado pelas mudanças climáticas. "Queríamos mostrar climas extremos em todos os continentes. Levamos esse projeto caro, difícil, extremamente trabalhoso, com logística absurda, para o Luizinho Nascimento, então diretor do 'Fantástico', em janeiro de 2010. Ele comprou a ideia."
Estreia da série 'Terra, que Tempo é Esse?'. 'Fantástico', 17/10/2010.
A série foi gravada entre maio e outubro daquele ano, como mais uma das tarefas dos jornalistas – nem Sônia Bridi, nem Paulo Zero pararam de fazer o dia a dia do 'Fantástico' para se dedicar às viagens. Ao Memória Globo, Sônia Bridi contou que “'Terra, Que Tempo é Esse' foi a maior maluquice que o Luizinho [Nascimento] já aprovou na vida. Foi um projeto que eu amei fazer." Segundo Sônia, o que baseou a escolha dos destinos da viagem foi a ideia de regiões com climas extremos, que estavam sendo afetados pelas mudanças: muita seca, muita chuva ou cheia, muito calor e muito frio. “Queríamos que as situações relacionadas a mudanças climáticas estivessem representadas e, ao mesmo tempo, os continentes, paisagens diferentes. Queríamos dar uma figura mais global com todas as variações do problema”.
Inicialmente, a lista de países a serem visitados chegava a 30. Fecharam em 12. "Fomos aos Andes, no Peru e na Bolívia, mostrar a cordilheira perdendo gelo. Viajamos à Groenlândia e também vimos o derretimento das geleiras próximas a Ilulissat. Fomos ao sudoeste da Austrália, próximo a Perth, já no quinto ano seguido de seca, porque uma mudança na temperatura da água no oceano Índico estava desviando o caminho das chuvas. Então, a chuva, em vez de bater ali, estava aumentando a camada de gelo no leste da Antártida. Nos Estados Unidos, a gente fez entrevistas na NOAA, o National Oceanic and Atmospheric Administration, que é o principal centro em todo o mundo de pesquisa do clima", destaca Sônia.
A série também mostrou Veneza, que emite gases de efeito estufa, mas tem dinheiro para construir barreiras de contenção do nível dos canais. Diferente de Vanuatu, uma ilha pobre no meio do Pacífico, onde os corais que protegiam a ilha contra as tempestades estavam morrendo.
Monte Kilimanjaro
A produção da série envolveu muito preparo físico, já que algumas reportagens exigiriam esforço dos jornalistas. O ponto alto foi o desafio do monte Kilimanjaro, que fica na Tanzânia: o casal decidiu encarar 5895 metros de altitude em uma caminhada de 70 quilômetros, que durou seis dias. "Quando tive essa ideia, no início do projeto, o Luizinho disse que eu não precisava ir até o cume do Kilimanjaro para fazer a reportagem, mas eu insisti, disse que o repórter tem que ir lá em cima para poder fazer seu trabalho como é devido. Ele concordou", explica Sônia.
O objetivo era filmar as geleiras do ponto mais alto da África. Os exercícios começaram seis meses antes, assim como a concentração para encarar o desafio. “Eu fiquei emocionada de ter conseguido chegar lá. (...) Ficamos umas três horas lá em cima e descemos ainda super na boa. Eu saí dessa experiência com uma autoconfiança que eu gostaria de ter tido aos 20 anos de idade, porque isso eu fiz com 46! O que te leva para o alto de uma montanha não é só preparo físico, porque você não vai só com as pernas, você vai com a cabeça. É a sua capacidade de manter o foco, ficar tranquilo, saber o que você está fazendo e fazer direito.”
Sônia Bridi e Paulo Zero mostram o impacto do aquecimento global no monte Kilimanjaro. 'Fantástico', 12/12/2010.
O repórter cinematográfico Paulo Zero relata que o desafio de subir a montanha com o equipamento foi um esforço extra para ele e o assistente local chamado Abédi, que não desgrudou dele em nenhum momento: onde quer que ele precisasse do material, lá estava Abédi, a postos. E complementa: “O esforço físico e mental exigido para subir uma montanha é grande. Ainda mais se você estiver trabalhando, carregando mais peso e fazendo um esforço extra para gravar durante a subida e no cume. Eu estava tendo uma experiência única graças à profissão que escolhi e ao 'Fantástico' que aceitou o nosso desafio”, destacou Paulo Zero no livro 'Correspondentes'.
Outras paradas
A série também foi à Austrália mostrar o problema da desertificação e à China retratar a emissão de gases poluentes responsáveis pelo agravamento do efeito estufa. A última parada foi na cidade de Paro, no Butão, para onde se deslocaram em outubro daquele ano, ao mesmo tempo em que a série estreava no 'Fantástico'.
No último episódio da série 'Terra, que Tempo é Esse?', Sônia Bridi e Paulo Zero chegam ao Butão. 'Fantástico', 19/12/2010.