Não que as invasões na maior terra indígena no país fosse tema inédito no programa. Houve algumas em anos anteriores, mas neste período são pelo menos 10 reportagens que mostram a ligação direta da expansão do garimpo na região com a degradação da saúde dos Yanomami. Nos anos contemplados pelas reportagens, houve uma forte expansão de garimpeiros naquele território.

Em cerca de um ano e meio, espaço temporal entre as duas principais matérias sobre a saúde na região, pode-se constatar como os indígenas, sobretudo as crianças, definharam, a ponto de vários ficarem em pele e osso.

Em 2021, uma reportagem de 16 de maio mostra como a tribo indígena era zona de confronto entre indígenas e garimpeiros. Em 14 de novembro, foi ao ar a primeira matéria sobre como a falta de atendimento médico e a desnutrição estavam afetando as crianças. O repórter Alexandre Hisayasu mostrou como uma área invadida por garimpeiros é próxima de uma aldeia, fazendo com que a contaminação do solo atinja diretamente aquela população. O descontrole ambiental também ficava claro nos números da malária: eram 16 mil infectados com a doença, em um universo de 30 mil indígenas.

No ano seguinte, essa reportagem levaria o prêmio Vladimir Herzog na categoria Produção Jornalística em Vídeo. Além de Hisayasu, a equipe era composta por Valéria Oliveira dos Santos, Henrique Souza Filho, Alexandro de Oliveira Pereira, Luciane Marques de Oliveira, Wagner Luis Suzuki, Gustavo Pereira Pacheco, Everton Altafim, Anderson da Silva e Luciano Abreu.

Em 2023, o ano já começa com atenção à situação dos Yanomami. Recém-empossado para seu terceiro mandato como presidente, Lula criou o Ministério dos Povos Indígenas e, a partir daí, a crise humanitária desta população passou a ser tema prioritário para o governo. Entre 16 e 21 de janeiro, uma missão exploratória do Ministério da Saúde analisou a situação. Ainda no primeiro mês da nova gestão, Lula também foi a Roraima. No dia 22 de janeiro, o 'Fantástico' mostrou como a Ação da Cidadania já começava a se mobilizar para mandar alimentos para o estado.

Na semana seguinte, em 29 de janeiro, Sônia Bridi e Paulo Zero foram acompanhar as equipes responsáveis pelo resgate dos doentes em situação mais grave. Para demonstrar por que definiria o que viu como "a maior crise humanitária do Brasil neste século", a repórter passou por algumas aldeias sem postos médicos, alimentos, e nem possibilidade de pescar ou caçar, devido ao impacto do garimpo. No ano anterior, o número de infectados por malária subiu para 22 mil dos 30 mil indígenas da etnia. Sem condições razoáveis para transportar tanta gente nos helicópteros disponíveis para áreas onde havia postos de saúde, a própria Sônia carregou um bebê no colo. Naquele momento, todos os braços eram necessários.

Para Bruno Bernardes, diretor do 'Fantástico', esta reportagem é um marco na história do programa. "Quando ela [Sônia] chegou ali, acompanhando as equipes de saúde, e encontrou aquela situação, o Brasil parou em choque. Eu acho que essa matéria foi um... uma das coisas mais contundentes que eu já vi no 'Fantástico'. E está dentro dessa atenção que o 'Fantástico' dá tanto ao meio ambiente quanto à questão indígena, essas coisas estão relacionadas."

Ao longo dos meses seguintes, outras matérias mostraram os esforços para inibir a ação de garimpeiros na terra indígena, bem como as ações do governo para salvar a saúde dos Yanomami.