Por Memória Globo

Acervo/Globo

Até o final da década de 1960, os humorísticos da Globo eram basicamente adaptações de formatos inventados e consagrados no rádio e no teatro de revista. 'Faça Humor, Não Faça Guerra' foi o primeiro a explorar criativamente as possibilidades da linguagem da televisão, quando estreou no horário antes ocupado por Dercy de Verdade. No lugar dos personagens fixos, muitas vezes de comicidade previsível,  'Faça Humor, Não Faça Guerra' apresentava vários quadros curtos – de no máximo quatro minutos –, alinhavados por piadas rápidas e uma edição que privilegiava os cortes secos. A esquematização dos quadros era obra dos veteranos Haroldo Barbosa e Max Nunes, responsáveis justamente por diversas traduções do humor radiofônico para a televisão, como Bairro Feliz (1965), Riso Sinal Aberto (1966) e Balança Mas Não Cai (1968). Os textos iniciais eram escritos por Jô Soares e Renato Corte Real, que, mais tarde, ganharam a ajuda de Geraldo Alves, Luís Orione Hugo Bidet e Leon Eliachar. 'Faça Humor, Não Faça Guerra' tinha direção de João Lorêdo e produção de Ruy Mattos.

Supervisão: Augusto César Vannucci | Direção: João Loredo, Marlos Andreucci e Carlos Alberto Loffler | Redação: Jô Soares, Renato Corte Real, Max Nunes, Haroldo Barbosa, Geraldo Alves, Hugo Bidet, Luís Orione e Leon Eliachar | Periodicidade: 31/07/1970 – 25/03/1973 | Horário: Sexta, 20h30

EXCLUSIVO MEMÓRIA GLOBO

Entrevista exclusiva do apresentador e humorista Jô Soares ao Memória Globo em 19/11/2002, sobre o programa humorístico 'Faça Humor, Não Faça Guerra'.

Entrevista exclusiva do apresentador e humorista Jô Soares ao Memória Globo em 19/11/2002, sobre o programa humorístico 'Faça Humor, Não Faça Guerra'.

Além de Jô Soares e Renato Corte Real, estrelas principais do programa, o elenco contava com humoristas e atores como Miéle, Sandra Bréa, Berta Loran, Paulo Silvino e Renata Fronzi.

Renato Corte Real e Jô Soares em 'Faça Humor, Não Faça Guerra'. — Foto: Acervo/Globo

Em 1971, 'Faça Humor, Não Faça Guerra' passou a ser exibido às segundas feiras. Dirigido por Marlos Andreucci, o programa começou a apresentar seus primeiros personagens fixos. Em 1972, Carlos Alberto Loffler assumiu a direção do humorístico, que passou a ser transmitido às 21h. Em janeiro de 1973, foi substituído por Maurício Sherman.

Abertura

Abertura do programa 'Faça Humor, Não Faça Guerra' (1970).

Abertura do programa 'Faça Humor, Não Faça Guerra' (1970).

Na abertura, um corpo de baile dirigido por Juan Carlo Berardi dançava ao som do tema do programa, uma música contagiante que tinha versos como “Vai dizer que sim?/ vai dizer que não?/ vai ficar assim, sem opinião?”. Ao fundo, imagens coloridas lembravam o clima psicodélico da época. 

Maria Cristina Nunes em 'Faça Humor, Não Faça Guerra'. — Foto: Acervo/Globo

Inicialmente transmitido ao vivo, 'Faça Humor, Não Faça Guerra' foi um dos primeiros programas da Globo a usar o videoteipe, introduzido no Brasil em 1957. A adaptação foi difícil. Equipe técnica e elenco chegavam a passar 24 horas dentro do estúdio para finalizar um programa.

Trecho de esquete com Jô Soares.

Trecho de esquete com Jô Soares.

Personagens

Jô Soares interpretava, entre outros, o Bêbado, o professor Gengir Khan, o Irmão Thomas, Manchetão e, um dos seus maiores sucessos, a espevitada Norminha, uma jovem cantora hippie que fazia tudo para ser famosa: com quatro dedos da mão aberta, seu lema era “paz, amor, som e Norminha”. Renato Corte Real interpretou, entre outros personagens, o psicanalista Sigismundo Fraude, o faxineiro Humirde – com o bordão “nós semo humirde” – e as velhinhas Mafalda e Dona Florisbela. Jô Soares e Renato Corte Real também contracenavam no quadro Lelé & Dakuca, no qual viviam dois malucos que cavalgavam cavalinhos de pau – devidamente fantasiados de Napoleão – enquanto diziam um texto nonsense.

Quadro “Lelé & Dakuca”, com Jô Soares e Renato Corte Real.

Quadro “Lelé & Dakuca”, com Jô Soares e Renato Corte Real.

Curiosidades

Berta Loran lembra que os atores também tiveram que adequar sua forma de representar, seguindo a orientação de Augusto César Vannucci, supervisor do programa: a ordem era evitar exageros e passar mais naturalidade na interpretação.

Para evitar que o programa caísse na mesmice, os redatores se esforçavam para criar uma variedade maior de situações para os personagens, e nenhum dos quadros era exibido todas as semanas. O resultado foi amplamente positivo. Em 1971, 'Faça Humor, Não Faça Guerra' foi escolhido melhor programa de humor em várias premiações, conquistando, entre outros, os troféus Repórter, Helena Silveira e Antena de Ouro. 

Para o ex-diretor de Operações da TV Globo José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, 'Faça Humor, Não Faça Guerra' foi o primeiro programa de humor moderno da televisão brasileira, e um marco no gênero.

Norminha, personagem criado por Max Nunes e Haroldo Barbosa no programa 'Faça Humor, Não Faça Guerra' e interpretado por Jô Soares.

Norminha, personagem criado por Max Nunes e Haroldo Barbosa no programa 'Faça Humor, Não Faça Guerra' e interpretado por Jô Soares.

Em 2002, 'Faça Humor, Não Faça Guerra' deu título ao 14º Salão Carioca de Humor, na Casa de Cultura Laura Alvim, que teve como atração principal a mostra “Humor nos tempos de guerra”, com charges e caricaturas.

Em 2006, a Som Livre lançou 26 CDs que recuperam trilhas da Globo, entre eles Norminha – que chegou a ser vendido por R$ 250 em sebos –, em que Jô Soares canta como sua personagem em 'Faça Humor, Não Faça Guerra'.

Mãe da atriz Giovanna Antonelli, Suely Antonelli trabalhava na Globo nas décadas de 1960 e 1970. Grávida de três meses de Giovanna, Suely podia ser vista no balé do programa 'Faça Humor, Não Faça Guerra'.

Berta Loran em 'Faça Humor, Não Faça Guerra'. — Foto: Acervo/Globo

Faça Humor, Não faça Guerra

15 fotos

Ficha Técnica

ELENCO

Berta Loran
Geraldo Alves
Jô Soares
Luiz Carlos Miéle
Maria Cristina
Milton Carneiro
Paulo Silvino
Pituca
Renato Corte Real
Sandra Bréa
Terezinha Moreira

Sandra Bréa em 'Faça Humor, Não Faça Guerra'. — Foto: Acervo/Globo

FONTES

Depoimentos concedidos ao Memória Globo por: Berta Loran(26/11/2001), Boni (05/05/2000), Jô Soares (19/11/2002), João Lorêdo (25/02/2002), Luiz Carlos Miéle (29/08/2005), Maurício Sherman (14/05/2001), Paulo Silvino (06/06/2005) e Ruy Mattos(04/05/2001); Boletim de programação da TV Globo 22, 59, 132, 11/1972; ANDRADE, Valério. “A vitória do humor” In: Jornal do Brasil, 05/11/1971; BRAUNE, Bia e RIXA. Almanaque da TV. Rio de Janeiro. Ediouro, 2007; ESSINGER, Silvio. “Sorriso rasgado de talento”In:Jornal do Brasil, 17/11/2001; FERREIRA, Paulo Henrique. “Cartunistas declaram guerra à intolerância” In: O Globo, 08/01/2002; “Fixo mas variado” In: Veja, 17/02/1971; “Hoje na TV”, In: O Globo, 1970-1973; MEMÓRIA GLOBO. 'Dicionário da TV Globo v. 1: programas de dramaturgia e entretenimento. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Ed., 2003'; “Obituário – Renata Fronzi, atriz, aos 83 anos” In: O Globo, 16/04/2008; “O humor refeito” In: Veja, 15/07/1970; VIANNA, Luiz Fernando. “Coleção revive trilhas de antigas novelas da Globo” In:Folha de S.Paulo, 03/12/2006.
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