Governo de SP 'exportou' PCC para outros Estados ao transferir presos
Aurea Cunha/Gazeta do Povo | ||
Detentos em rebeli�o em 2006 em Foz do Igua�u (PR); Paran� recebeu transfer�ncias do PCC em 1998 |
A organiza��o criminosa PCC surgiu em 1993 num pres�dio de seguran�a m�xima de Taubat�, no interior paulista. Cerca de 23 anos depois, possui ramifica��es em todos os Estados brasileiros, com mais ou menos for�a.
O crescimento espantoso possui v�rias explica��es, mas n�o h� como ignorar o fato de que ele foi facilitado por uma pol�mica pol�tica de transfer�ncia de presos perigosos. S�o Paulo exportou o PCC para outras regi�es do pa�s.
Segundo o Minist�rio P�blico de SP, em outubro de 2014, a fac��o tinha cerca de 10 mil criminosos afiliados, 26% deles fora do Estado. Hoje, quando trava uma guerra com outras quadrilhas para dominar rotas e monopolizar o tr�fico de drogas no pa�s, possui cerca de 21,5 mil "batizados", 64% deles para al�m da fronteira original.
Os dados s�o naturalmente imprecisos, dada a �bvia dificuldade para apur�-los, mas incont�veis escutas telef�nicas mostram a inten��o estrat�gica da fac��o de se espalhar pelas cinco regi�es do Brasil –o PCC j� "batizou" cerca de 3,5% da popula��o carcer�ria, calculada em torno de 607 mil pessoas. Parece pouco, mas o n�mero � maior do que o total de funcion�rios da Volkswagen no Brasil (cerca de 16.000)
MIGRA��O
O in�cio do processo de migra��o do PCC, no entanto, foi estimulado irrefletidamente pelo governo paulista que, na tentativa de desarticular o movimento que ganhava for�a nos pres�dios do Estado, transferiu em 1998 os seus cabe�as para o Paran�, numa opera��o cercada de discri��o. "O efeito foi o contr�rio", diz o promotor Lincoln Gakiya, que atua na regi�o Oeste do Estado.
Jos� M�rcio Fel�cio, o Gelei�o, e C�sar Augusto Roris da Silva, o Cesinha, estavam entre os transferidos.
Fundadores do "partido do crime", Gelei�o e Cesinha incentivaram a cria��o do Primeiro Comando do Paran�, que logo mostrou sua face com tr�s rebeli�es. Atualmente, o Estado � um dos mais importantes bra�os da organiza��o.
Marcola, o principal chefe da fac��o, assim como outros "capos", tamb�m passeou bastante pelos pres�dios do pa�s. Esteve no RS, em DF, GO, MG, circulando por v�rias penitenci�rias e disseminando a cartilha do PCC. Em Bras�lia, por exemplo, criou o PLD (Partido Liberdade e Direito), nome bonito para uma associa��o que chegou a carbonizar detentos inimigos durante rebeli�es.
Rogerio Cassimiro - 8.jun.2006/Folhapress | ||
Marcola, chefe da fac��o PCC, circulou por diversos Estados, como RS, DF, GO e MG |
O promotor Gakiya afirma que � dif�cil julgar hoje a decis�o das autoridades da �poca de transferir os detentos. "N�o sei se havia outras alternativas poss�veis.", diz.
O procurador M�rcio Christino, que desde 1999 se dedica a combater a fac��o, pensa de outro modo. Para ele, o Estado deveria ter reprimido a organiza��o internamente, em vez de transferir o problema para outros lugares.
"O pior � que S�o Paulo nem contou, de fato, quem estava mandando para l�", afirma. "A medida facilitou a expans�o do PCC."
Hoje, existem 13 membros do PCC paulista em pres�dios federais e h� 16 pedidos de novas transfer�ncias.
Gakiya e Christino, dizem, no entanto, que a realidade atual � diferente e defendem as transfer�ncias, uma vez que, segundo eles, os estabelecimentos federais s�o muito mais preparados do que os estaduais que costumavam receber os chef�es do tr�fico.
Procurado pela Folha, Jo�o Benedicto de Azevedo Marques, secret�rio da Administra��o Penitenci�ria do ent�o governo Covas, n�o telefonou de volta, assim como o da gest�o atual, Lourival Gomes.
'FILIAL' EM RORAIMA
Roraima, onde no in�cio do m�s 33 presos foram mortos na Penitenci�ria Agr�cola de Monte Cristo, em Boa Vista, principal cadeia do Estado, � um bom exemplo de como pode ser nefasta a pol�tica ainda atual de enviar criminosos para outras regi�es.
O promotor Marco Ant�nio Azeredo afirma que at� 2013 n�o havia nenhuma indica��o de que o PCC atuava no Estado, que faz fronteira com a Guiana e a Venezuela, rotas do tr�fico internacional.
Naquele ano, por�m, depois de uma passagem por uma pris�o de Rond�nia, onde conheceu membros da organiza��o, Elivandro Ferreira, o Vandrinho, foi transferido de volta para Roraima e fundou a filial no Estado.
Segundo a promotoria, hoje ela j� conta com cerca de 400 membros, muitos dos quais participaram do pavoroso massacre de 6 de janeiro.
J� de acordo com um documento da Secretaria de Justi�a e Cidadania de 4 de janeiro deste ano, a fac��o come�ou com 50 homens em 2013 e, em 2016, j� tinha mais de 1.000 membros, "trazendo � tona novas lideran�as e uma nova reorganiza��o da cadeia hier�rquica do grupo criminoso".
As ordens para a expans�o da organiza��o no Estado, segundo escutas obtidas em investiga��es, partiram de Oz�lio de Oliveira, um criminoso que ficou conhecido por ter participado, em 1998, do sequestro de Wellington Camargo, irm�o dos cantores Zez� di Camargo e Luciano, que ficou 94 dias em cativeiro e teve parte de sua orelha esquerda decepada.
Apontado como o principal chefe do PCC em Roraima, Oz�lio de Oliveira nunca pisou no Estado. Comanda a fac��o de uma pris�o no Paran�.
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