• Pedro Lobo (@teseuafricano)
Atualizado em
Protesto antirracista de junho de 2020, em São Gonçalo (RJ) (Foto: Buda Mendes/Getty Images)

Protesto antirracista de junho de 2020, em São Gonçalo (RJ) (Foto: Buda Mendes/Getty Images)

A edição de 2021 do programa Big Brother Brasil trouxe a pauta do racismo - e de como combatê-lo - para as conversas, nas redes e fora delas.

Segundos dados oficiais, negros são os mais pobres, com menos acesso à educação e aqueles que mais são mortos, e parte da sociedade busca entender como se tornar um aliado para mudar estas estatísticas.

Esses esforços ganharam força após a série de protestos mundiais contra o racismo, motivados pelo assassinato de George Floyd e Breonna Taylor por policiais dos Estados Unidos, em maio de 2020.

Na época, uma frase da filósofa Angela Davis (“Em uma sociedade racista, não basta não ser racista, devemos ser anti-racistas”) serviu como mote.

LOS ANGELES, CA - JUNE 08, 2020 - - Participants of a Black Lives Matter-LA memorial service and funeral procession honor George Floyd, center, and demanding justice for those killed by the hands of the police in Los Angeles on June 8, 2020. Interfaith le (Foto: Los Angeles Times via Getty Imag)

Protesto do Black Lives Matter no funeral de George Floyd, em Los Angeles, 2020 (Foto: Los Angeles Times via Getty Imag)

A GQ Brasil conversou com Caroline Ramos, advogada voluntária da Educafro, organização que trabalha para o empoderamento e mobilidade social para população pobre e afro-brasileira por meio da educação, e com Dennis de Oliveira, ativista do movimento negro e professor de jornalismo da Escola de Comunicações e Artes da USP, que elencaram cinco passos principais para ser um aliado no combate ao racismo. Veja abaixo:

Reconheça

Para Dennis de Oliveira, o passo inicial para ser antirracista é reconhecer a existência do racismo, muitas vezes negada ou minimizada.

Reconhecer é ver como ele “é estrutural, violento, mata pessoas, interdita oportunidades e futuro para a juventude negra”.

De acordo com o especialista, é necessário ter responsabilidade para combater o racismo em todos os aspectos. "Não só dizer que é antirracista, mas os seus comportamentos expressarem exatamente isso. É ser vigilante à forma como você atua e fala”, diz ele, inclusive sobre atos banais, como o que considera ser uma piada ou brincadeira.

Escute

Para a advogada, é “necessário ouvir pessoas negras, não só sobre os seus incômodos e dores mas também sobre as propostas que possuem para alterar a situação”.

Marcos para a igualdade no país, como a Lei de Cotas, de agosto de 2012, só foram conquistados após anos de reivindicações do movimento negro. Até 2011, segundo Censo do Ensino Superior elaborado pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) do total de 8 milhões de matrículas no país, apenas 11% eram de alunos pretos ou pardos.

Contrate

Ramos também enfatiza a importância de se contratar pessoas negras, das mais diferentes áreas de atuação: “As empresas precisam reconhecer a importância que um ambiente de trabalho mais diverso trás, inclusive em questão de lucro, como diversos estudos apontam”, diz.

A ideia é parecida com o conceito do “black money” (“dinheiro preto”, na expressão em inglês). Nascido como um termo para se referir ao mercado ilegal, ele foi ressignificado pela comunidade negra, falando agora sobre o ato de fortalecer empreendedores pretos. A ideia é simples: se esforçar ao máximo para comprar produtos e contratar serviços oferecidos por negros.

Convide para falar sobre outros temas

Taís Araújo revelou que cogitou se separar de Lázaro Ramos durante o isolamento social (Foto: reprodução/TV Cultura)

Taís Araújo, em participação no programa Roda Viva, de março de 2021 (Foto: reprodução/TV Cultura)

Outro ponto destacado pelos especialistas é lembrar que pessoas negras estão em todas as áreas e não devem ser lembradas só para falar de dor.

“Convidem pessoas negras para falar de outros temas além da pauta racial. Existem pessoas incríveis, com especializações diversas, mas que geralmente somente são lembradas no mês de novembro [quando se comemora o Dia da Consciência Negra]”, afirma a advogada.

Pesquise

Por fim, Caroline ressalta algo dito pelo apresentador do BBB, Tiago Leifert, após o caso de racismo no programa: “Pesquisar! A internet está aí, para o mal mas também para o bem. A quantidade de material, em todos os formatos imagináveis, está à disposição de qualquer pessoa com acesso à internet: artigos, filmes, livros, podcasts”.

A advogada indica alguns podcasts para começar a entender sobre o assunto: AFETOS; Boletos Pagos, com Nath Finanças; AfroPai; Angu de Grilo; Infiltrados no Cast; Negro da Semana; História Preta; Ogunhê Podcast e Afrofuturo.

Blogueira Gabi Oliveira é uma das contempladas pelo YouTube Black Voices 2021 (Foto: Reprodução/Twitter)

Blogueira Gabi Oliveira, apresentadora do podcast AFETOS (Foto: Reprodução/Twitter)

Nessa mesma linha, Oliveira também vê o estudo como passo fundamental, mencionando alguns livros para começar a entender melhor o assunto: "O que é Racismo Estrutural?, de Silvio Almeida; toda a obra do Clóvis Moura, particularmente Sociologia do Negro Brasileiro e Dialética Radical do Brasil Negro; a obra da grande Lélia Gonzalez, como Por um feminismo afro-latino-americano; e a de Beatriz Nascimento, entre os brasileiros. Além deles, o jamaicano Stuart Hall e a norte-americana Angela Davis".