Após anular o leilão de arroz que a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) realizou na última semana, o governo anunciou a saída de Neri Geller do cargo de secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura. Em entrevista coletiva à imprensa, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, disse hoje (11/6) ter aceitado o pedido de demissão do secretário.
Geller, que nega ter pedido exoneração do cargo, disse que soube de seu desligamento "pela imprensa". Sua saída ocorreu sob a avaliação do governo de que havia conflito de interesses na participação no certame de Robson França, seu assessor entre os anos de 2019 e 2020 na Câmara dos Deputados.
França é dono de corretoras que intermediaram a comercialização de 116 mil toneladas de arroz, ou 44% do volume de total negociado na operação. Ele também é presidente da Bolsa de Mercadorias de Mato Grosso (BMT) e sócio de Marcelo Piccini Geller, filho do agora ex-secretário de Política Agrícola, em uma empresa aberta em agosto de 2023 para participar dos leilões da Conab.
Todos eles negam ter havido direcionamento no certame, mas o ponto mais discutido em Brasília tem sido um eventual favorecimento ou uso de influência.
![Troca de e-mail obtida com exclusividade pela Globo Rural mostra resposta de Geller à notícia de sua exoneração — Foto: Globo Rural](https://cdn.statically.io/img/s2-globorural.glbimg.com/aPYJuFzJR0VEuX40bMRCCAvKA0E=/0x0:980x1600/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_afe5c125c3bb42f0b5ae633b58923923/internal_photos/bs/2024/z/B/BzsOS1R7KGJTUbXU1IgQ/whatsapp-image-2024-06-11-at-16.59.54.jpeg)
Quem é Neri Geller?
Natural de Selbach (RS) e radicado há anos em Mato Grosso, onde é produtor rural, Neri Geller foi, assim como Carlos Fávaro, que hoje é ministro, um aliado de Lula na campanha eleitoral de 2022. Sua posição política gerou críticas de integrantes do setor agropecuário mato-grossense, e alguns desses produtores passaram a considerá-lo um desafeto.
Geller foi vereador pelo PSDB em Lucas do Rio Verde (MT) em duas legislaturas , de 1996 a 2004. Sua trajetória em Brasília, como deputado federal por Mato Grosso, começou em 2007. Quatro anos depois, ele migrou para o PP, partido em que permaneceu até 2022, quando foi cassado sob a acusação de um suposto abuso de poder econômico e triangulação bancária nas eleições de 2018.
![Neri Geller foi deputado federal e Secretário do MAPA — Foto: Divulgação](https://cdn.statically.io/img/s2-globorural.glbimg.com/zNL0CBWttVn3AnGQTNrRawPby6U=/0x0:1600x1338/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_afe5c125c3bb42f0b5ae633b58923923/internal_photos/bs/2022/Y/B/nvzHYASyaoEU8u3CyABg/comissao-agro-transicao.jpg)
Ministro da Agricultura no governo da ex-presidente Dilma Rousseff, o ex-deputado federal já comandou a Secretaria de Política Agrícola em três oportunidades. A secretaria é responsável pela formulação e condução do Plano Safra, pela gestão Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR) e pela definição de mecanismos de garantia de preços agropecuários e de comercialização.
Geller ocupou o cargo em 2013, durante a gestão do ex-ministro da Agricultura Mendes Ribeiro Filho, e de 2016 a 2018, quando a Pasta foi comandada por Blairo Maggi. Em 2022, chegou a ser indicado para ser presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), mas a estatal acabou vinculada ao Ministério do Desenvolvimento Agrário.
Em dezembro de 2023, Neri Geller foi nomeado para o cargo de secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura. Na ocasião, a nomeação ocorreu após o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) reverter a decisão que cassou seu mandato de deputado federal em 2022 e o tornou inelegível por oito anos. O processo tornou-se um impedimento legal para ele assumir qualquer cargo no governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
Nesse período, mesmo sem cargo, Geller atuou nos bastidores do ministério, frequentou o prédio e participou de reuniões ministeriais, como encontros com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para a elaboração do Plano Safra 2023/24, e da Câmara Temática de Crédito da Pasta. Além disso, também emplacou nomes de sua confiança em cargos estratégicos da secretaria.
Agora, a duas semanas do lançamento do Plano Safra 2024/25, o Ministério da Agricultura está sem titular em um dos principais cargos da Pasta.