Peixe

Por Luiz Eduardo Minervino* — São Paulo

Pesquisadores da Embrapa encontraram uma alternativa para substituir a gelatina convencional, que é desenvolvida a partir do couro bovino e suíno, ao obter gelatina da pele do tambaqui (Colossoma macropomum) peixe nativo brasileiro de grande relevância econômica.

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A pele, as escamas e a cabeça do tambaqui, geralmente, são utilizadas para fabricação de ração para peixes. No entanto, a gelatina produzida tem aplicações alimentícias e farmacêuticas, ou seja, transforma-se em um co-produto com maior valor agregado. As propriedades observadas indicam que a gelatina de pele de tambaqui pode servir para diversas aplicações, incluindo filmes, microcápsulas para remédios, espessantes, entre outros usos. A iniciativa ainda pode contribuir para a redução de resíduos.

Gelatina de boa qualidade

O tambaqui é o peixe nativo mais produzido no Brasil. “É importante mostrar seu diferencial em relação a outros peixes. Mostrar que a gelatina da pele de tambaqui possui características tecnológicas capazes de substituir as gelatinas bovinas e suínas. A composição de aminoácidos é mais rica do que a de peixes de água fria. A força de gel (consistência) pode ser comparada a de bovinos e suínos”, explica Fernanda Ramalho Procópio, bolsista CNPq de pós-doutorado na época do estudo.

A pesquisadora lembra que a diversidade de espécies de peixes nativos brasileiros para consumo humano é grande. Assim, há um potencial para maior exploração das propriedades tecnológicas dos resíduos da cadeia pesqueira.

Segundo a especialista, vários fatores interferem na composição da pele do peixe, como espécie, idade, sexo e tipo de alimento. O teor de proteína pode influenciar no rendimento da extração da gelatina e a composição de aminoácidos. Além disso, o alto teor de gordura dificulta a obtenção de um produto inodoro e translúcido, importante na percepção dos consumidores.

Nesse aspecto o tambaqui apresentou vantagem, sua pele possui maior teor de proteína e menor teor de gordura do que outras espécies. Com isso, o rendimento de extração da gelatina da pele foi de quase 60%. Os principais aminoácidos encontrados foram glicina, prolina e hidroxiprolina, responsáveis pela sua firmeza.

A cor esbranquiçada, inodora e sem turbidez estão dentro dos requisitos comerciais da gelatina.

A gelatina da pele do tambaqui apresentou características adequadas aos padrões do produto convencional. O rendimento de extração foi de aproximadamente 53% (com base na pele inicial seca), poder de gelificação adequado, baixa turbidez e níveis significativos de aminoácidos, que influenciam na resistência do gel.

Segundo o supervisor do Laboratório de Tecnologia da Biomassa da Embrapa Agroindústria Tropical (CE), Adriano Mattos, a temperatura de gelificação observada (16°C), apresentou-se compatível com a da gelatina bovina comercial (17°C). Ele complementa que a temperatura de início de degradação em torno de 105°C favorece sua aplicação potencial no desenvolvimento de novos materiais na indústria alimentícia e farmacêutica.

Gelatina à base do peixe nativo é alternativa para similares feitas de suínos e bovinos — Foto: Embrapa/Divulgação
Gelatina à base do peixe nativo é alternativa para similares feitas de suínos e bovinos — Foto: Embrapa/Divulgação

Potencial

Com Bloom considerado médio, o que determina a firmeza de um gel, a gelatina da pele de tambaqui pode ser adequada para determinados produtos, para clarificar bebidas e para produção de cápsulas moles.

O maior teor de aminoácidos, em comparação com outras espécies de peixes, sugere que a pele do tambaqui também poderia servir como uma fonte valiosa de peptídeos de colágeno. Segundo Fernanda Procópio, embora esse aspecto não tenha sido o foco principal do trabalho, várias investigações demonstraram o potencial da utilização de resíduos de pesca como fonte de peptídeos bioativos. “Explorar aplicações e estratégias para a utilização de resíduos do processamento de tambaqui contribui para o desenvolvimento de uma economia circular na indústria de processamento de pescado, aumentando potencialmente a renda do produtor e reduzindo o impacto ambiental associado ao descarte de resíduos”, explica Manuel Jacintho.

As características da gelatina a tornam um material promissor para a produção de micropartículas, filmes e hidrogéis. A sequência desse trabalho já está em andamento, investigando a potencial aplicação deste material na produção de filmes como componentes de embalagens de alimentos.

Piscicultura em crescimento

A produção de peixes no Brasil tem crescido substancialmente, além de ter aperfeiçoado seu processamento. Pesquisas estão sendo realizadas pela Embrapa, no projeto BRS Aqua, para melhorar e ampliar a cadeia. De acordo com o Anuário da Associação Brasileira de Piscicultura (Peixe BR 2022), a produção nacional de pescado aumentou 45% desde 2014. A tilápia responde por 65% da produção. Em relação a espécies nativas, o tambaqui lidera com mais de 30% da produção total.

De acordo com o pesquisador Manuel Antônio Jacintho, da Embrapa Pecuária Sudeste (SP), dependendo da espécie e do tipo de produto, até 50% das matérias-primas iniciais são descartadas, incluindo cabeças, carcaças, pele e escamas. "A conversão dos resíduos em produtos de valor torna a cadeia mais sustentável", destaca Jacintho.

O projeto Ações estruturantes e inovação para fortalecer as cadeias produtivas da aquicultura no Brasil (BRS Aqua) tem apoio financeiro do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Secretaria Nacional de Aquicultura e Pesca do Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA). Trata-se de uma rede coordenada pela Embrapa Pesca e Aquicultura e dela fazem parte mais de 240 empregados de 23 unidades da empresa, além de mais de 60 parceiros, entre públicos e privados.

*Sob orientação de Marcelo Beledeli

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