TIMES

Por Bradesco — Direto de Buenos Aires, Argentina


Todos por Um: Como argentinos vestem a camisa e praticam o Rugby apenas pela paixão

Todos por Um: Como argentinos vestem a camisa e praticam o Rugby apenas pela paixão

Se existe um sentimento que simboliza o povo argentino é a paixão. Poucas coisas podem captar a intensidade argentina, e o rúgbi é uma delas. Terra dos Pumas, como é conhecida a seleção argentina de rúgbi, nosso vizinho é o maior vencedor da América do Sul. E para entender como o esporte que atravessou o oceano se fortaleceu tanto por aqui, a paixão é a grande explicação. Um dos ídolos do esporte no país, Diego Albanese destacou o crescimento da modalidade.

- Tem sido assim a cada mundial que a Argentina vai bem. Temos um crescimento de crianças que começam a praticar o esporte. Hoje o rúgbi se popularizou muito. Antes era um esporte de elite. Hoje jogam pessoas de todas as classes sociais – disse Diego Albanese.

Diego Albanese pela seleção argentina de rúgbi — Foto: Acervo pessoal

Jogador de três Copas do undo pela seleção argentina, Albanese vê o esporte estabelecido nos dias de hoje. Contudo, há pouco tempo o sonho de jogar rúgbi profissionalmente não fazia parte da história da juventude argentina. Ídolo nacional desde o try na Copa de 1999, aos 25 anos, Albanese só passou a receber salário como jogador profissional quando foi jogar na Europa.

- De 8h às 11h, eu ia para a faculdade. De 11h às 18h30, eu trabalhava e só depois que ia para o ginásio ou treinar. Hoje é outro mundo, os garotos crescem sabendo que tem uma possibilidade de viver do rúgbi – completa.

Contudo, a possibilidade não é o suficiente para garantir um futuro promissor. A paixão é o que impulsiona os atletas em busca de oportunidades no esporte. Em Quilmes, cidade da província de Buenos Aires, Tomás Antozzi é o reflexo desse empenho.

A rotina de Tomás

A paixão pelos Pumas e o desejo de fazer parte do seleto grupo, remunerado, vencedor de todos os campeonatos sul-americanos que já participou, trouxe ao jovem estudante de fisioterapia o estímulo necessário para encarar uma rotina pesada. Um garoto que decidiu, assim como uma dezena de outro meninos argentinos, passar a vida sonhando ser um jogador de rúgbi.

Tomás em partida pelo CUQ — Foto: Acervo pessoal

Jogador pelo Círculo Universitário de Quilmes, Tomás não é profissional, tão pouco imagina receber salário pelo time. Atualmente, além da faculdade, mantém sua vida como entregador numa papelaria no centro da cidade. É através desse trabalho que sustenta sua paixão.

Ás 8h da manhã a rotina começa com suas entregas. Isso até às 14h, quando apenas 15 minutos separam seu almoço das aulas na universidade.

- Eu trabalho para poder me sustentar de uma maneira geral, mas também para poder jogar rúgbi. Eu tenho que pagar o clube, comprar equipamentos, chuteiras... Esse é um esporte caro para se jogar. A comida está fria. É sempre assim. Porque eu cozinho na noite anterior. Aí eu chego no dia seguinte e como do jeito que está. Frio. Pelo menos cumpre a função da alimentação. Não é bom, mas serve - afirma.

Tomás e seu primeiro time de rugby — Foto: Acervo pessoal

Filho de jogador de rúgbi, Tomás não se enxerga em outro lugar. Após as aulas da faculdade de fisioterapia, encara um treino pesado na academia, até que, às 22h, consegue chegar ao treino no campo do Centro Universitário de Quilmes.

- A carreira no rúgbi não é segura, sabe? Por isso eu estudo. É como deixar um pouco o sonho de lado porque quase sempre eu chego tarde da noite, cansado e ainda preciso estudar. E para um atleta o certo é que eu estivesse descansando - afirma Tomás.

Tomás em sua rotina de treinos após a faculdade e o trabalho — Foto: Acervo pessoal

O time que lutou para não ser rebaixado, trouxe para Tomás o suficiente parar encarar a rotina puxada. Isso significa passar mais de 4 horas no trabalho para a subsistência, a faculdade para garantir uma profissão e o treinamento para ajudar o seu time, o CUQ, a estar entre os principais times da província. E apesar dos percausos e da rotina massante, Tomás não perde a esperança de um futuro melhor:

- Um sonho que ainda está um pouco longe, mas que eu ainda tenho, é jogar no Pumas e ser profissional - reforça.

Apesar de distante, o sonho inspira e reforça a paixão. Assim como Albanese, herói da seleção argentina, alerta:

- Essas pessoas que vão conseguir viver do rúgbi são de 30 a 50 jogadores num universo de 15 mil jogadores que existem hoje na Argentina - completa.

A realidade de Tomás, além de difícil, é o reflexo do sonho do rúgbi no principal país sul-americano da modalide. Ainda assim, enquanto houver sonho, haverá a paixão de praticar o esporte. Não importa se perto ou longe dos Pumas ou Jaguares, o pulso do esporte pulsa forte no extremo sul do continente americano.

Veja mais

Bradesco

Veja também

Mais do ge