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Por Cris Perroni

Nutricionista formada pela UFRJ, pós-graduada em obesidade e emagrecimento, com especialização em nutrição clínica e em nutrição esportiva

Rio de Janeiro


Descasque mais, desembale menos: resgate o ato de cozinhar, dê preferência a alimentos naturais e evite os ultraprocessados — Foto: Istock

Dia 11 de Outubro foi o dia Mundial de conscientização e combate à Obesidade. É uma doença multifatorial: desequilíbrio entre ingestão alimentar e gasto energético, alimentação em excesso, má qualidade e maior quantidade alimentar, genética, alterações hormonais (doenças e substâncias) , sedentarismo, estresse, poluição, medicamentos para tratar outras doenças (que têm como efeito colateral ganho de peso e aumento do apetite), alterações no sono, como a insônia, que leva ao aumento da grelina (hormônio da fome) e à redução da leptina (hormônio da saciedade), entre outras causas.

São vários fatores que podem estar associados. Cada indivíduo tem uma história, por isso o tratamento é tão complicado, requer estratégias individuais que precisam sempre ser revistas e modificadas a cada alteração no estilo de vida. A obesidade está relacionada com comportamento. Está relacionada ainda ao aumento de risco de desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis, como diabetes, hipertensão, doenças cardiovasculares.

Nos últimos anos, vários estudos vêm concluindo que a obesidade aumenta o risco também de diversos tipos de câncer e também a agressividade do tumor em pacientes com excesso de peso: fígado, reto, cólon, melanoma, leucemia, mieloma múltiplo e linfomas não Hodgkin, endométrio, vesícula, rim etc.

A retirada de alimentos que contenham glúten só deve ser feita para quem tem doença celíaca ou alguma sensibilidade. E não há comprovação de que a retirada da lactose contribua para redução do peso — Foto: Istock

Retirar o glúten e a lactose emagrece?

Não. A retirada de alimentos que contenham glúten só deve ser feita para quem tem doença celíaca ou alguma sensibilidade, relato de desconforto, mal-estar. E não há comprovação científica que a retirada da lactose contribua para redução do peso.

Qual a melhor dieta para redução do peso?

Aquela à qual você melhor se adapta e que promova saúde. Tradicional, cetogênica, low carb, less carb ... Pode ser feita periodização de várias dietas durante o tratamento. Tudo baseado na história clínica, objetivo, história alimentar e estilo de vida do indivíduo.

Nosso corpo é poupador, economiza energia. É preciso criar déficit energético controlando a ingestão alimentar e aumentando o gasto energético através da prática esportiva.

O ideal é uma restrição energética entre 500 a 1000 calorias. A distribuição dos macronutrientes, qualidade da dieta, também faz diferença. Não basta contar calorias. Dietas com aumento na proporção da proteína geram mais saciedade, melhor controle glicêmico e, associadas ao exercício de força, minimizam a perda e contribuem para a hipertrofia muscular.

Quanto maior a variedade de alimentos, maior a chance em atender às recomendações nutricionais, variedade de nutrientes, menor monotonia alimentar e mais prazer.

A prática regular de exercício físico, pelo menos 150 minutos semanais, associada à dieta balanceada é fundamental para manutenção de estilo de vida saudável e promoção da saúde.

O que mais determina este desequilíbrio é o estilo de vida, principalmente a qualidade e a quantidade dos alimentos e o sedentarismo. É o momento de maior oferta de alimentos em todo mundo, ingerimos mais fast food, alimentos ultraprocessados que possuem alta densidade energética e estamos mais estressados e ansiosos. O brasileiro, em especial, vem aumentando o peso e a ingestão energética com a associação de carboidratos e gorduras (pizza, risoto, pastel frito, batata frita, tortas, salgadinhos...) e por ter ficado menos ativo, movimentando-se menos no dia a dia. Avanço tecnológico, melhora nos meios de transporte, usar mais escada rolante do que a “tradicional”: não existe um vilão.

Por que é tão difícil perder peso?

Estamos ingerindo durante a semana preparações mais elaboradas, antes utilizadas em eventos e final de semana. No Brasil, são muitos acompanhamentos fonte de carboidratos associados à gordura. A população era mais magra quando a comida era menos gourmetizada, quando se comia o arroz com feijão, mais frutas, verduras e legumes. Comíamos menos em restaurantes e fast food.

A densidade energética das preparações, somada ao sedentarismo, consumo de bebida alcoólica e ao estresse diário, vem colaborando para o aumento do sobrepeso, obesidade e avanço das doenças crônicas.

Faça exercício físico regularmente e tenha atenção à hidratação, pois confundimos sede com fome — Foto: Getty Images

O que pode ser feito?

Descubra quais são as suas “causas”, onde você se boicota, quais as suas dificuldades e tropeços, como reduzir nível de estresse e ansiedade.

É fundamental que você modifique seu estilo de vida.

Algumas dicas da nutri:

  1. Resgate o ato de cozinhar. Leve comida de casa sempre que possível;
  2. Dê preferência a alimentos naturais e evite alimentos ultraprocessados. Descasque mais e desembale menos;
  3. Aumente a ingestão de alimentos integrais, que promovem mais saciedade e regularizam o intestino;
  4. Tenha maior variedade de grupos alimentares, com pratos mais coloridos e maior variedade de nutrientes;
  5. Tenha atenção à hidratação, pois confundimos sede com fome. Beba 35 ml a 40 ml água/kg de peso;
  6. Ingira diariamente pelo menos cinco porções de frutas, verduras e legumes;
  7. Reduza o tamanho das porções;
  8. Fique mais ativo e faça exercício físico regularmente. Mexa-se, não importa como;
  9. Fuja de dietas da moda. Alimentos ou treino milagroso podem oferecer riscos a saúde. Não existe milagre ou mágica. Vai ter que fazer a sua parte, mas com prazer e bom humor;
  10. Priorize a você mesmo, negocie, seja flexível.

* As informações e opiniões emitidas neste texto são de inteira responsabilidade do autor, não correspondendo, necessariamente, ao ponto de vista do Globoesporte.com / EuAtleta.com.

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