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Por Diogo Mourão — Rio de Janeiro


Veja os aéreos de Yago Dora na etapa de El Salvador da WSL

Veja os aéreos de Yago Dora na etapa de El Salvador da WSL

Está dando gosto de novo. Parece que tudo voltou ao normal, na segunda metade da temporada regular da WSL. Tivemos para quem torcer até a última bateria nas duas últimas etapas, com direito a show de Yago Dora, Gabriel Medina e Italo Ferreira no Taiti e em El Salvador. Dos quatro melhores surfistas após o corte, três são os brasileiros que sobreviveram. Eles só não fizeram mais pontos do que o havaiano John John Florence, que fez final no Taiti e em El Salvador, onde venceu, disparou no ranking. O havaiano garantiu sua vaga no Finals com duas etapas de antecedência

Yago, com o vice-campeonato em Punta Roca e quinto lugar em Teahupoo fez 12.545 pontos, Medina, com dois terceiros lugares, marcou 12.170, enquanto Italo, com uma vitória e um décimo-sétimo, somou 11.330. John John, que depois de perder três finais, inclusive a do Taiti para o Brabo, venceu a quarta em El Salvador e somou mais 17.800. Os brasileiros foram os surfistas que mais ganharam posições no ranking desde o corte. Yago saiu de 22º para oitavo, Medina era o 19º e agora é o sexto e Italo, que estava em 15º, ocupa a sétima posição.

É verdade que Italo chegou a estar em quinto após a vitória no Taiti e poderia ter se mantido se passasse pelo menos mais uma bateria em Punta Roca, mas chegamos junto e estamos fungando no cangote dos Top 5. Apenas 1.135 pontos separam Jordy Smith de Yago. Medina está 735 pontos atrás e Italo, a 925. Ou seja, para superar o sul-africano, basta ficar uma fase à frente dele já em Saquarema. Só queremos olhar para frente, mas é bom ficar atento ao retrovisor, pois tem muita gente ainda que pode entrar na briga se conseguir se destacar nas duas últimas etapas.

Teremos duas etapas de arrepiar e o retrospecto e desempenho nas duas ondas que faltam jogam a favor dos brasileiros nessa reta final. Yago tem um caso de amor bem resolvido com Itaúna. Como convidado, em 2017, derrubou vários favoritos e chegou ao terceiro lugar, superando Medina, Mick Fanning e John John até parar em adriano de Souza na semi. Já ganhou etapa do QS e vai defender o título que conquistou ano passado com uma nota dez na final. Medina é conhecido como um dos reis de Fiji, palco da última etapa. As ondas pesadas que oferecem tanto tubos quanto paredes manobráveis é um playground para o tricampeão. E o Italo é o Italo. Capaz de ir bem em qualquer onda. Medina nunca venceu no Brasil e coleciona resultados fracos em Itaúna pelo CT. Porém, ano passado ganhou um CS no Maracanã do Surfe e pode ter tirado a zica.

A etapa de El Salvador mais uma vez mostrou que os brasileiros estão conseguindo melhor desempenho e resultados quando temos boas ondas. A praia de Punta Roca confirmou a fama e ofereceu ótimas condições. Repetimos o Taiti e conseguimos colocar dois surfistas nas semifinais e um na final. Infelizmente, na decisão, disputada entre os dois melhores surfistas da competição, uma calmaria de quase quinze minutos impediu Yago de tentar a reação contra John John depois de tirar 9,77 e ficar precisando de 6,56. Medina repetiu a semi de Teahupoo. A lamentar as eliminações de Italo na repescagem e da Tati nas quartas-de-final, para Caitlin Simmers.

A situação de Tati no ranking ficou um pouco mais complicada. Com 29.015 pontos, a brasileira perdeu uma posição e viu justamente as surfistas que estavam a sua frente chegarem à final. Antes de El Salvador, Tati era sétima, Gabriela Bryan a sexta e Caroline Marks, a quinta. Com o bicampeonato em Punta Roca, Caroline saltou para o segundo lugar. Gabriela se manteve em sexto, com a francesa Johanne Defay agora em quinto, com 34.645. Como no feminino são apenas dez surfistas em busca de cinco vagas, tirar a diferença é muito mais difícil, mas ainda há esperança para a brasileira. Vai precisar de finais e ela tem um surfe que se encaixa bem em Fiji.

Yago Dora em El Salvador — Foto: WSL

Atuações dos brasileiros

Yago Dora (vice-campeão) ¬- Foi o homem-show do campeonato. Desde a primeira fase Yago mostrou que usaria as direitas de Punta Roca como rampa de decolagem dos mais variados aéreos. O brasileiro nem fazia questão de pegar as maiores da série, mesmo nas intermediárias, conseguia voar e garantir as notas acima de oito e as vitórias.

Na primeira fase, não tomou conhecimento de Cole Houshmand e Barron Mamiya e os deixou em combinação, marcando 16,64 pontos, contra 10,84 do americano e 5,90 do havaiano. O duelo seguinte foi contra Jake Marshall, outro a ficar em combinação, em mais uma bateria excelente, com 16,50 a 10,93.

Nas quartas-de-final, Yago enfrentou Jack Robinson, amigo e também treinado por seu pai, Leandro Dora. Apesar de não ter repetido as atuações, dominou a bateria, vencendo por 14,54 a 11,50, apesar de deixar todos nervosos no final. Yago tinha a prioridade e, faltando cerca de dois minutos, foi numa onda pequena e não trocou nota, deixando o gelado Robinson com a prioridade, precisando de 6,67. Já vimos esse filme e sabemos da qualidade do australiano nessas situações. Yago, porém, ainda pegou mais uma intermediária e arrancou um 6,87, aumentando a vantagem sobre o australiano.

O chaveamento colocou Medina no caminho de Yago na semifinal. O catarinense já começou um aéreo que valeu 8,33 e colocou muita pressão sobre Medina, que tentava usar a mesma arma, mas sem conseguir completar as manobras. Yago rapidamente ainda marcou 9,33 e deixou o tricampeão em combinação. Tranquilo, esperou o tempo passar, enquanto Medina arriscava tudo em todas as ondas. Na melhor delas, fez 7,50, mas não saiu da combi: 17,66 a 14,23.

Netuno jogou a favor de John John na final. Embalado pela nota dez na semifinal contra Matthew McGuillivray, o havaiano sabia que tinha de começar forte, sem esperar ondas da série. E começou muito bem, com suas características rasgadas e finalizando com um aéreo. Achei que já ia sair nota de nove para cima, mas foi “apenas” 8,50, numa mostra que os juízes resolveram subir o sarrafo um pouco na final, baseado no que os dois tinham feito até então. Yago, que praticamente não tinha errado aéreo algum na competição, não conseguiu completar uns dois, ainda caiu sobre a quilha da prancha e teve de trocar de material.

Enquanto isso, John John aumentou a vantagem com um 7,83. Yago estava em combinação, mas não se abalou. Pegou uma onda regular para sentir a nova prancha e fez 4,67. Pouco depois, só não tirou dez porque os juízes estavam mais exigentes mesmo e marcou 9,77 numa onda espetacular, com direito a vibração dupla porque deu para ver ao fundo John John não completando o aéreo de finalização da onda dele. Faltavam quase 15 minutos, muita coisa podia acontecer, mas no duelo das melhores notas, o brasileiro tinha 1,27 ponto a mais, bastava 6,56 para virar. E aí.... Não veio mais onda. O mar parou. Fazer o quê. Parabéns, Yago. Surfou demais!!

Gabriel Medina (terceiro lugar) – Fez ótimo campeonato. Competitivo, técnico e com excelente escolha de ondas. Na rodada de abertura, encarou Italo Ferreira e o perigoso Leo Fioravante. Bateria equilibrada, como esperado, mas Medina foi o único a conseguir duas notas acima de sete enquanto os outros dois só passaram desta marca uma vez e venceu com 15,40, contra 13,93 de Italo e 13,37 de Fioravante.

Yago Dora soma 17.66, elimina Medina e está na final da etapa de El Salvador

Yago Dora soma 17.66, elimina Medina e está na final da etapa de El Salvador

Nas oitavas uma disputa duríssima contra o australiano Ryan Callinan, que tem um surfe muito encaixado de backside nas direitas de Punta Roca. Numa bateria em que achei as notas jogadas um pouco para cima, Callinan começou bem, com uma nota 7,00, enquanto Medina ficou com 5,83 em sua primeira onda. Na metade da bateria, o brasileiro achou uma boa onda e, com ataques verticais e rasgadas invertendo a direção e jogando muita água, marcou 8,50, assumindo a liderança. Trocou o 5,83 por um 6,0 e deixou o australiano precisando de 7,51 para virar. A dois minutos do fim, ele desceu numa boa onda, surfou bem, mas a impressão era de que a virada não iria sair, mas deram 8,0. Sem saber do resultado e que precisaria de 6,50, Medina surfou mais uma onda no minuto final e marcou 7,67, garantindo a vitória que quase escapara. Achei as duas notas exageradas. Foi a décima-quinta vitória de Medina sobra Callinan em 16 confrontos.

O adversário nas quartas-de-final era o franco-atirador João Chumbinho Chianca, que voltou ao circuito como convidado. Medina começou forte e, com duas notas acima de 7,0, abriu boa vantagem sobre Chumbinho, que não se encontrou na bateria. Vitória por 15,27 a 10,27. Na semifinal, foi dominado pelo Yago.

João Chianca (quinto) - No seu retorno ao Circuito Mundial depois do grave acidente que sofreu no fim do ano passado em Pipeline, Chumbinho teve altos e baixos em Punta Roca. Estava solto e feliz. Ao mesmo tempo que isso o ajudava, também o atrapalhava um pouco em relação à concentração e competividade. No primeiro round, ficou em terceiro, com 9,93 pontos, em bateria vencida por Griffin Colapinto com 14,43. Callinan ficou em segundo, com 10,84.

Já na repescagem, Chumbinho mostrou tudo o que se esperava dele numa direita bem formada como as de Punta Roca e derrotou o havaiano Barron Mamiya por 13,50 a 10,50, com direito a uma nota 8,50.

O brasileiro voltou a encontrar Griffin, o grande favorito para El Salvador, campeão de 2022 e vice em 2023. O americano tentou uma manobra arriscada para tirar a prioridade de posicionamento de Chumbinho no começo da bateria e acabou bloqueando o brasileiro. Interferência clara, apesar do chororô do Tio Kelly nas redes. Griffin perdeu 50% da pontuação de sua segunda nota. Chumbinho fez sua parte. Com uma bateria forte, marcou 14,50 pontos. Enquanto isso, o americano arriscou tudo e acertou quase tudo. Conseguiu um 9,43 e ainda um 8,10, que virou 4,05, e assim o brasileiro venceu por 14,50 a 13,48.

Depois, Chumbinho se despediu da competição no confronto contra Medina.

Italo Ferreira (17º) - Embalado pela vitória espetacular em Teahupoo, Italo chegou muito cotado a El Salvador. O chaveamento o colocou na mesma bateria de Medina na primeira fase. Com a vitória do tricampeão, foi jogado para a repescagem e enfrentou o local Bryan Perez, convidado pela terceira vez para participar da competição. Perez nunca tinha vencido uma bateria nos anos anteriores e, justamente contra o Italo, conseguiu um 8,83 numa onda da série espetacular, com boas manobras e um aéreo simples mais muito alto. Italo tentou voar para dar o troco, mas o terral não estava ajudando as decolagens, principalmente para quem surfava de backside. Perez 15,33 a 12,40.

Tatiana Weston-Weeb (quinta) ¬– O chaveamento também não ajudou a brasileira, enfrentando duas vezes a americana Caitlin Simmers, talvez a melhor surfista de ondas rápidas para direita como as de Punta Roca. Na primeira fase, Tati, com 10,40, ficou em segundo para Caitlin, que marcou 12,16. Lakey Peterson foi a terceira, com 6,36.

Na repescagem, a melhor atuação da Tati. A brasileira conseguiu um 8,0 com boas manobras e uma excelente finalização, vencendo Sawyer Lindblad por 13,43 a 10,33. Mais uma vez ela teve Caitlin no caminho e a americana não deu chances para Tati, marcando 13,83, contra 10,10 da brasileira.

Agora é Saquarema, para ver e torcer da praia!

Boas Ondas!!

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