TIMES

Por Paulo Taroco — Presidente Prudente, SP


Embora jovem mulher, aos 19 anos, mãe e paratleta com um sonho gigantesco. Por ora, grande também é a saudade da filha Ana Clara, de 3 anos, distante por causa do passo ousado dado por Ana Carolina Coutinho Reis, do parabadminton.

A maranhense, porém em Goiânia há 15 anos, deixou a capital goiana e mudou-se para Presidente Prudente com um objetivo: alavancar o sonho de participar dos Jogos Paralímpicos de Los Angeles, em 2028. Assim, vem compondo uma trajetória capaz de provar a força feminina, homenageada internacionalmente neste 8 de março.

Ana Carolina compartilhou passos da trajetória, que ilustra bem a força feminina em data significativa — Foto: Arquivo Pessoal/Cedida

O reforço do time foi anunciado pelo Sesi às vésperas do Mundial da Tailândia. O pódio não veio, mas a experiência serviu para mostrar que o sonho faz suas exigências. Na Ásia, a delegação brasileira ainda teve mais três nomes do Sesi de Prudente. Yuki Rodrigues e Mikaela Almeida, outros dois reforços anteriores, e a técnica Mayara Bacarin integraram a lista de convocados.

– Vejo que essa decisão foi tomada de forma um pouco atrasada até. Isso até eu entender ter que mudar, ter que buscar a minha melhora. É praticamente um recomeço. É limpar tudo, iniciar um novo ciclo, já que o ciclo paralímpico de Paris se encerrou [ao parabadminton]; e um novo ciclo, pensando em 2028, na prática já começou.

Os caminhos e orientações dadas por Mayara Bacarin vão além do badminton. Vale lembrar que, em 2020, o ge contou a história da agora treinadora de Ana Carolina, por tudo construído como mãe e professora (relembre).

Paratleta maranhense, criada em Goiás, falou da rápida adaptação ao Oeste Paulista — Foto: Paulo Ribeiro/Comunicação Sesi-SP

Se as dicas de Mayara como técnica podem ser fundamentais para o sonho de 2028, as dicas na condição de mãe vêm sendo úteis no presente momento. Tal ajuda e entrosamento fazem Ana Carolina se alegrar com a rápida adaptação ao Oeste Paulista, ainda que a nova casa seja mais quente.

– E como é diferente o calor daqui (risos). Cheguei no final de janeiro, mas já estou adaptada, sim. A Mayara tem muita coisa para passar, também como mãe, ao conseguir harmonizar tudo – ser mãe e o esporte. Fui recebida de braços abertos e tem sido de muito aprendizado.

Do Maranhão a São Paulo; antes, Goiás

Ana Carolina é natural de Imperatriz (MA). A saída do interior maranhense para a capital goiana se deu em razão da busca por tratamento mais avançado. Ela nasceu com a Síndrome de Sprengel, a qual, em resumo, causa limitações nos ombros. Em 2011, passou por procedimento cirúrgico, cujo desfecho favorável foi ampliar a movimentação – e horizontes.

– Ela [a cirurgia] me possibilitou fazer coisas que antes não conseguia – relembra a paratleta.

Em Goiás, maranhense buscou tratamento, passou a viver com a família e conheceu o badminton; agora, o Oeste Paulista virou nova casa — Foto: Arquivo Pessoal/Cedida

O gosto pelo badminton despertou em 2019, graças a uma professora. Logo de cara, veio medalha de ouro no Pan da modalidade, em Cali. Isso sem contar as conquistas escolares na fase mais incipiente. A sequência aumentou a lista de medalhas, seja em disputas nacionais ou sul-americana. A paratleta defendia o Aspaego e completa 20 anos no próximo dia 22.

Com o nascimento da filha, Ana Clara, ocorreu a pausa nas quadras de badminton. A rotina dos pais e do irmão em Goiânia levaram Ana Carolina a viver o período inicial com a filha recém-nascida no Maranhão.

Sobretudo por meio de uma tia, os incentivos para voltar ao esporte aumentaram. Em 2021, a paratleta decidiu retornar e celebrou a reclassificação de categoria. Ana Carolina compete pela categoria SL4 (deficiência nos membros inferiores ou de um dos lados).

Quarteto do Sesi de Prudente registrou experiência na Tailândia; "limpeza" mirando o início do ciclo paralímpico de Los Angeles começou com disputa pesada — Foto: Cedida

Na reta final da temporada passada, começaram as conversas para integrar o time prudentino do Sesi. A princípio, Ana achou a ideia inviável para ela. Até que, ao encerrar a participar em uma competição em São Paulo, a decisão mudou. Buscar evolução virou alvo intensificado, e a vinda para o Oeste Paulista passou a ser considerada com carinho. O convite seguia de pé.

A pequena Ana Clara ficou com os avós e o tio em Goiânia, uma vez que Ana Carolina acredita necessitar de condições mais plenas em Presidente Prudente para trazê-la. Até lá, lidar com a saudade é o desafio maior.

– É como é difícil. O coração fica apertado, e é com certeza o maior desafio. Costumo fazer duas, três chamadas de vídeos por dia.

– É entender as escolhas, pois alguém pode até questionar o fato de a ter deixado lá por um tempo, mas sei que é por algo maior, é por nosso futuro, o meu futuro e o da minha filha – comentou Ana Carolina.

Medalhista parapan-americana explica que escolha considerou futuro dela e da filha, Ana Clara — Foto: Arquivo Pessoal/Cedida

O projeto e a nova casa

O projeto do Sesi de Prudente com o badminton começou em 2013, quando as aulas da modalidade tiveram início no Programa Atleta do Futuro (PAF). Dentre as revelações projetadas, destaque para o prudentino Rogério Júnior, atualmente em Curitiba.

No Parapan do Chile, no fim de 2023, Rogério, Yuki e Mikaela marcaram presença no pódio – como também a nova integrante do Sesi. A treinadora prudentina esteve na comissão técnica, em Santiago.

Finalizado o Campeonato Mundial da Tailândia, a Confederação Brasileira da modalidade (CBBd) divulgou a classificação do prudentino ex-Sesi para os Jogos de Paris, neste ano.

Projeto em Prudente cresceu e hoje recebe campeões da modalidade — Foto: Paulo Ribeiro/Comunicação Sesi-SP

Veja também

Mais do ge