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Por Bruno Ravazzolli e Tomás Hammes — Porto Alegre


O desabafo de Eduardo Coudet ainda ecoa nos bastidores do Inter e divide opiniões. O cargo do treinador não está ameaçado, mas há expectativa para ver como a torcida reagirá ao nome do argentino no reencontro com o Juventude, na quarta, pela Copa do Brasil. Como se explica uma nova instabilidade no ano e o ambiente "enraivecido" no Beira-Rio com apenas duas derrotas na temporada? O ge apresenta os motivos do paradoxo que move o 2024 colorado até o momento.

Luka Pumes analisa paradoxo colorado na temporada

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A manifestação após o empate com o Atlético-GO pegou os dirigentes de surpresa. O clube, por ora, não planeja mudanças na comissão técnica. A reportagem apurou que a intenção de Chacho é dar sequência ao trabalho, que soma 73,9% de aproveitamento. O departamento futebol entende que a intenção do argentino na entrevista foi solicitar apoio e amenizar críticas e vaias.

É inegável que há ruídos entre campo e arquibancada. A torcida tem um pé atrás com o time. O clima "enraivecido", como descreveu Coudet, evidencia o descontentamento no decorrer das partidas. O motivo não passa por um jogo isolado, tampouco pelo empate de domingo pelo Brasileirão. As frustrações e desilusões vêm de um histórico, nem tão recente, marcado pela seca de títulos.

Coudet fica na bronca com críticas e vaias da torcida no Beira-Rio: "Muito insulto"

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O Colorado não vence o Gauchão há oito anos, o Brasileirão há 45, a Copa do Brasil há 32 e um torneio continental há 13. Além disso, o Colorado coleciona tropeços e eliminações difíceis de explicar - Olímpia, Grêmio (quando na Série B), Globo, Melgar, América-MG, Caxias, Juventude e outros.

A esperança por taças reacendeu com os investimentos nas duas últimas janelas, quando chegaram Rochet, Aránguiz, Valencia, Borré, e, ironicamente, com o retorno de Coudet, sucessor do criticado Mano Menezes. Depois de flertar com uma final de Libertadores no ano passado, o clube abriu 2024 na expectativa por conquistas por ter elevado o time de patamar e formado um grupo competitivo.

Os números na temporada atestam qualidade: são 15 vitórias, seis empates e apenas duas derrotas (uma com reservas) em 23 jogos, com 35 gols pró e 12 contra. Mas nem tudo é o que parece.

Contraditoriamente, o Inter sequer chegou à final do Gauchão. Dois empates e uma disputa de pênaltis deixaram a equipe de Coudet pelo caminho. O jejum estadual aumentou, e o rival, para piorar, foi hepta. O ímpeto do torcedor diminuiu. A média de público de 31 mil por jogo no regional despencou para 23,3 mil nos últimos três embates, dois pelo Brasileirão e um pela Sul-Americana.

Maurício Saraiva comenta sobre o momento do Inter no Campeonato Brasileiro

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O auge do "enraivecimento" do torcedor tomou forma no decepcionante 0 a 0 com o Real Tomayapo, da Bolívia, em pleno Beira-Rio, quando houve protestos após a partida. As vitórias sobre Bahia, Palmeiras e Delfín trouxeram esperança de uma reconciliação. Não foram suficientes para conter a impaciência da torcida, que voltou à tona durante o empate com o vice-lanterna no último domingo.

– Não sei se estamos pagando pela eliminação no estadual, não sei se a imprensa local me bate o tempo todo e talvez tenha razão. A verdade é que é um clima raro. Voltamos com uma vitória importantíssima na Sul-Americana. Inicia o jogo e recebo insultos sem parar. Trabalho para tratar de jogar de um jeito que o torcedor se sinta representado, protagonista, atacar a maioria do tempo e com o aproveitamento que temos no ano, só perdemos duas partidas. Evidentemente, (o torcedor) não se sente identificado, senão não reagiria assim. Me dá tristeza – desabafou Coudet.

Inter nas competições

  • Gauchão: eliminado na semifinal
  • Sul-Americana: 2º colocado do Grupo C
  • Copa do Brasil: classificado à terceira fase
  • Brasileirão: 6º colocado

O incômodo das arquibancadas entristeceu Eduardo Coudet, que contrariou a postura dos fãs e disse que, "com esse clima, nem o Guardiola seria campeão no Inter". Um discurso muito em razão da frustração pelo insucesso.

Eduardo Coudet, técnico do Inter — Foto: Ricardo Duarte/Internacional

Um bom desempenho contra o Juventude, justo ele, responsável pela dor do Gauchão, pode ser o gatilho para que a relação tome um caminho mais tranquilo de vez. Também espera um novo voto de confiança do torcedor para que a sinergia empurre o Colorado a abrir vantagem na Copa do Brasil.

O duelo com os comandados de Roger será disputado às 21h30 de quarta-feira no Beira-Rio. Pode ser o recomeço da história de cumplicidade entre Coudet e o torcedor, além da possibilidade de recuperar a confiança para a maratona de jogos que se avizinha em maio.

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