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Por Ivonisio Lacerda Júnior — Boa Vista, RR


Publicações em redes sociais, camisas e tatuagens são bastante utilizadas para se expressar a paixão por um time de futebol. Em Roraima, o pai e vascaíno Charles Corrêa batizou o filho em homenagem a dois craques franceses: Zidane Henry.

Zidane Henry carrega o nome de dois craques franceses campeões da Copa de 1998 — Foto: Ivonisio Lacerda Júnior/ge.globo

A pergunta que não quer calar: mas porque um brasileiro, torcedor do Vasco, é fã de jogadores franceses? Uma mágoa de 26 anos atrás com a seleção brasileira o fez torcer, desde então, para a seleção de futebol da França.

- Assisti a Copa de 1994 com oito anos de idade, mas eu já entendia e me tornei fã número 1 do Romário. Quando foi em 1998, na França, cortaram o "baixinho". Ele se machucou. Dali em diante acabou pra mim a seleção brasileira - disse Charles.

Choro de Romário no corte de 1998: caso clássico na Seleção — Foto: Cezar Loureiro / Agência O Globo

- Eu vi o que o Zidane fez naquela Copa, passei a assistir todos os jogos da França a partir dali. Como eu era muito fã do Romário eu disse "também não torço mais para o Brasil - reiterou Charles.

Bebê roraimense é registrado em homenagem a Zidane e Thierry Henry, ex-jogadores franceses — Foto: Ivonisio Lacerda Júnior/ge.globo

Zidane Henry Carvalho Sousa Corrêa nasceu no dia 26 de março de 2024, às 20h12, com 3,65 kg e medindo 51 cm. Em abril, o 'mêsversário' do bebê foi temático, com roupinha nas cores da bandeira França e até bolo personalizado.

Mêsversário de Zidane Henry teve bolo personalizado e cores da bandeira da França — Foto: Ivonisio Lacerda Júnior/ge.globo

A ideia inicial do pai era homenagear o filho, além de Zidane, também colocar o nome de algum jogador do Vasco, cogitou até Edmundo, mas ele mesmo desistiu da ideia do ídolo vascaíno.

- Quase que seria Zidane Edmundo, mas a família achou que ficaria um nome feio. Se desse para ter dois ou três filhos, aí seria assim teria um Edmundo, o próximo seria Romário, e assim por diante para homenagear os meus jogadores favoritos - disse Charles.

Zidane comemora um dos gols marcados pela França contra o Brasil na final da Copa de 1998 — Foto: Getty Images

Se a mágoa de Charles foi em 1998, isso significa que na época, aos 12 anos de idade, o então garoto já sonhava em se tornar pai? Sim. Mas além disso, se tivesse um filho do sexo masculino, o pensamento dele era de colocar o nome Zidane no bebê. E assim o fez.

- Em 1998 eu tinha 12 anos, e daquele ano em diante eu falei: "no dia que eu tiver um filho ele vai se chamar Zidane". O homem jogava bola demais - disse o pai do bebê.

Roraimense, Zidane Henry é filho de Charles Corrêa e Kailanny Ferreira — Foto: Ivonisio Lacerda Júnior/ge.globo

Quanto à reação de Kailanny Ferreira, mãe do bebê, ela afirma que demorou a aceitar o nome, mas tem aceitado bem desde que passou a conhecer melhor os jogadores homenageados.

- No começo foi um pouco difícil porque eu não conhecia os jogadores que ele falava o nome. Mas depois que conheci melhor, através de vídeos, estou aceitando. Futebol para ela é indiferente, não sabe explicar. Já aceito normal - disse Kailanny.

Zidane, à esquerda e, Henry, à direita, foram homenageados em nome de bebê — Foto: Getty Images/colagem ge/Ivonisio Lacerda Júnior

Paternidade tardia: arrependimento?

A mãe do filho de Charles Corrêa tem 20 anos de idade e, mesmo em um relacionamento recente com Kailanny Ferreira, veio a gravidez tão aguardada por Charles.

- Eu sabia que ia conseguir. Tenho 38 anos, esperei muito tempo por ele. Quando foi agora Deus abençoou e consegui fazer o Zidane, do jeito que eu queria - fala com orgulho o pai.

Charles diz ainda que a paternidade tardia é um arrependimento que ele carrega, tendo em vista a ansiedade por um filho chamado Zidane e pelo desejo em ter mais filhos. Inclusive, o nome do próximo filho já está definido.

- Problema é que já tá tarde para mim. Se vier mais um seria Edmundo (menino) ou Marselha (menina) - reiterou.

A mãe também deseja ter, ao menos, mais um filho. Segundo ela, se o próximo filho do casal for uma menina, está satisfeita com o nome Marselha: "Acho um bom nome". Marselha é a segunda cidade mais populosa da França e a mais antiga do país.

Anti-seleção brasileira

Charles é enfático ao dizer que é indiferente, para ele, as partidas da seleção brasileira.

"Eu torço só para perder, só porque é muita trairagem. Eu acredito que convocam jogadores por conta de empresário, eu não gosto, não concordo com isso. Não assisto jogos do Brasil, se perder ou ganhar não importa para mim. Meu negócio é a França"

Se em 1998 só ele comemorou o título francês em cima do Brasil, quatro anos depois, o jogo virou ao ver a seleção francesa cair na fase de grupos e, ainda por cima, a seleção brasileira campeã do mundo. Charles lembra que sofreu com a zombaria por parte dos amigos e familiares.

"Foi justamente na final daquela Copa de 98 que eu passei a torcer para a França. Ele acabou com aquela Copa marcando os dois na final, voltando de lesão recente. Em 2002 a zoação foi grande demais comigo porque saímos (a seleção francesa) na fase de grupos. Todo mundo do bairro e os boleiros de Boa Vista zoaram comigo e é assim até hoje quando a França perde um jogo"

Brasil x França na Copa de 2006

Questionado sobre o duelo entre Brasil e França nas quartas de final da Copa do Mundo de 2006, Charles relembra com entusiasmo o dia em que a seleção brasileira foi eliminada.

- Aquele dia só eu soltei fogos de artificio aqui em casa. Lembro do Galvão falando momentos antes do gol que nunca tinha acontecido um gol do Henry com assistência do Zidane, aí saiu o gol. Pronto, daí ficou o nome do bebê, Zidane Henry. Porque além da seleção francesa, eu acompanhei toda a carreira do Thierry Henry no Arsenal e o Zidane no Real Madrid - comentou o pai da criança.

Segundo 'Henry' da família

Zidane Henry não é o primeiro 'Henry' na família de Charles Corrêa e Kailanny Ferreira. O pai do bebê tem um sobrinho com sobrenome do ex-jogador francês.

- Ficamos na dúvida em relação ao sobrenome. Porque além do Zidane eu sou muito fã do Henry, e combina porque já tenho um sobrinho chamado Murilo Henry, de 17 anos. E pensei que daqui pra frente a gente poderia manter o sobrenome daqui para frente na família com o sobrenome Henry - disse.

Vontade de ver o filho jogar futebol

Fanático por futebol, Charles afirma que não vai pressionar o filho a jogar futebol, porém, acredita que com pouca idade já saberá se a criança terá potencial para se tornar um dos grandes do esporte no futuro. Se isso acontecer, pretende levá-lo embora para fazer carreira...na França!

- Se ele for bom de bola, com dois ou três anos de idade, eu vou saber. Com seis anos eu vou com ele pra França, não tem negócio de jogar no São Raimundo-RR (clube roraimense), no Vasco, já penso longe. Eu não vou forçar, mas se for 'top', eu vou embora. Se eu vê que ele é normal, pode se alimentar errado, mas se eu perceber que ele tem o talento, muda tudo, muda alimentação, os cuidados - disse o pai.

Charles Corrêa carrega Zidane Henry com satisfação pelo nome do filho: "Ele vai me agradecer" — Foto: Ivonisio Lacerda Júnior/ge.globo

E caso o bebê se torne um jogador de futebol e tiver a oportunidade de representar um país a nível internacional, adivinhe os planos do pai.

- Eu falei para o meu pai uma vez: "Se ele (Zidane Henry) for mesmo um jogador top, não um comum, mas sim um top, eu não deixo ele jogar pela seleção brasileira, só na França - enfatizou Charles.

A alegria do pai é tanta com o nome escolhido para o filho que Charles Corrêa acredita que Zidane Henry ficará satisfeito ao saber das origens do nome.

- Ele vai me agradecer (risos) - finalizou o sorridente e confiante pai do pequeno roraimense.

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