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Por André Ribas — Curitiba


A SAF do Coritiba tem promovido uma série de mudanças estruturais e de metodologia desde a sua chegada ao clube. Dentro disso, a categoria de base também está incluída nesta transformação.

Entenda a SAF do Coritiba

Entenda a SAF do Coritiba

O primeiro passo foi a contratação de Guilherme Bossle, ex-Grêmio e Criciúma, para ser o técnico do sub-20 e coordenar todas as categorias — função já exercida em outros times.

Bossle chegou em julho. Em três meses, já participou da conquista do título Paranaense da categoria. O Alviverde bateu o Londrina na decisão e ficou com o bicampeonato.

Após o título, o ge conversou com o treinador. Em quase 30 minutos de conversa, o profissional contou da conquista e detalhou tudo que está sendo feito na base neste período. Veja abaixo a entrevista.

Esse título começa na gestão do Thiago Kosloski. Cheguei há três meses, com jogo atrás de jogo. Fui conhecendo os atletas, tivemos uma transição importante. O título coroou um trabalho que já vinha sendo feito. Me sinto honrado de já fazer história.
— Bossle, ao ge

Guilherme Bossle, coordenador técnico da base do Coritiba. — Foto: Gabriel Thá/Coritiba

1 - Você vem de uma escola gaúcha no futebol. Como foi o processo de formação e como você enxerga o trabalho na base?

— Já são 20 anos trabalhando com o futebol. Trabalhei oito anos no Juventude. Lá, fui treinador do sub-10 ao sub-20. Depois, passei nove temporadas no Grêmio. Nesse meio tempo, além de treinador, também fiquei como coordenador técnico da base por dois anos. Depois, fui para o Criciúma como gestor da base até receber o convite do Coritiba.

— Trabalhar com formação é um dom. E não passa só por formar dentro de campo, mas, sim, como um cidadão. Não são todos os atletas que vão virar jogadores, temos que deixar um legado.

2 - Neste processo de formação, tem mudado muito como o atleta enxerga tudo?

— A geração mudou muito. Hoje, os atletas não gostam de futebol como antigamente, não assistem. Agora, o celular está nas mãos deles, além de outras plataformas. Uma das cobranças como coordenador que faço é que, quando eles estão juntos, que aproveitem para conversar sobre o jogo. Antigamente, não tinha essa geração digital, e eles estavam em contato. Pode ter certeza que tinha mais jogadas combinadas entre os jogadores. Atualmente, eles são mais dependentes do técnico. O treinador passa um sistema tático e eles são alienados nisso. Gosto que o atleta tome a decisão. Então, eu estimulo essa conversa.

— Tem que se adaptar a nova geração. O tratamento de antigamente não cabe mais. Essa geração é mais reativa, tem a resposta na ponta da língua. Esse traquejo acho importante para ajustar o perfil.

3 - Do mesmo modo, o atleta recebe muito mais informa��ões táticas, muitos até utilizam de acompanhamento individual. O jogador está mais exigente?

— O atleta tem acesso a conteúdo, ele pede. Ele não aceita um treinador que não tenha conteúdo. Em um, dois treinos, ele já sabe se o treinador é bom ou não. Tem que estar sempre se atualizando. É preciso saber o que o atleta pede. Virou muito mais o profissional hoje em dia.

4 - Como você encontrou a base do Coritiba?

— Recebemos a base do Coritiba já com uma estratégia de SAF. A gente trabalha muito em perfil de atleta, o perfil do mercado moderno. Temos jogadores de muita qualidade aqui, mas sempre estamos buscando um novo talento. Temos que valorizar o processo feito aqui, mas também tem um processo de mudança feito pela SAF. Ele é encabeçado pelo Carlos Amodeo (CEO), Artur Moraes (executivo de futebol) e Rodrigo Dias (gerente geral da base).

— Viemos para operacionalizar, criar processos. Damos ênfase em treinos individualizados. É um processo que demora para se consolidar. Mas quando você trabalhar gerando título, como no sub-20, nos dá mais tranquilidade, é importante. Como formador, não vejo a necessidade de ser ganhador sempre. Às vezes, você vai perder um campeonato e formar mais atletas. Em outras, você ganha e não forma ninguém. Temos que ter cuidado com isso.

Técnico e coordenador da base do Coritiba detalha o processo de formação com a SAF

Técnico e coordenador da base do Coritiba detalha o processo de formação com a SAF

5 - Um caderno metodológico está sendo montado?

— Estamos em processo final de desenvolvimento de um novo caderno metodológico, com todas as áreas, e integrado ao departamento profissional. A ideia é formar atletas com diversas características. Vocês vão ouvir muito o termo versatilidade aqui.

6 - Qual o perfil de atleta que o Coritiba busca na captação?

— Estamos muito atento no mercado também. A captação tem que ser agressiva no mercado, as pessoas vão ver que o Coritiba vai trazer muita qualidade. Buscamos um atleta completo, versátil. O jogador precisa fazer uma ou duas funções a mais que sua especialidade. Hoje, um lateral-direito tem que jogar de extremo, médio, corredor. O Diogo Batista é um exemplo. Consideramos um atleta completo. E é o que o mercado pede.

7 - Como é o processo de transição da base ao profissional? Atualmente, vemos alguns jogadores transitando, indo e voltando.

— O difícil não é formar, todos os clubes formam. O mais difícil é saber o momento de transitá-lo da base para o profissional. Isso é muito particular de cada time. Temos muitos atletas interessantes, analisados internamente. Temos que ter esse “timing” de subir e descer atletas. Por exemplo, o Jean Pedroso jogou conosco a final. No outro dia, ele jogou contra o Atlético-MG e deu conta do recado. O Diogo pede para jogar no sub-20, às vezes. Ele gosta dos atletas, ele fica feliz em jogar. O próprio Jean Pedroso vibrou quando soube que ia jogar. Aí, o treinador fica bem a vontade. O importante é conversar não só com quem está vindo, mas conversar com o Kauê, por exemplo, que ficou na reserva do Pedroso. É preciso explicar que tem processos.

Técnico e coordenador da base do Coritiba explica processo de transição na base

Técnico e coordenador da base do Coritiba explica processo de transição na base

8 - Como funciona a relação com o Thiago Kosloski?

Conversamos o máximo que podemos. Logo que cheguei, o Kosloski separou uma tarde para sentar comigo, junto com os analistas, e falou de atleta por atleta, mostrou o que vinha sendo feito. Ali, ganhamos três meses de adaptação. Esse processo faz parte do título. É difícil você chegar e, em três meses, ser campeão.

9 - O sub-20 precisa ter o mesmo esquema do time profissional?

— Acho que não precisa jogar igual ao profissional, cada elenco tem sua particularidade. O que eu tenho é que mostrar um cardápio com todos os jogadores, de todas as posições. Preciso mostrar um primeiro volante, um segundo, um terceiro homem de meio de campo, um armador. Esse, sim, é o meu papel. Mostrar a individualidade de cada atleta para, o treinador do profissional, poder usar da melhor forma.

— As equipes que comando não se sobressaem coletivamente. Mas, o atleta, está muito bem tecnicamente, ele resolve os problemas. Não sou um treinador que puxa a parte tática, eu gosto de trabalhar o atleta. No profissional é outra história, mas prefiro deixar o jogador bem preparado para o Kosloski escolher as funções.

10 — Queria que você falasse um pouco do Kaio César, que vai disputar o Pan-Americano.

— O Kaio César é muito talentoso. Ele dará muitos frutos ao Coritiba. O um contra um dele é sua maior virtude, dribla como poucos, tem uma tomada de decisão boa, uma finalização letal. Ele tem tudo para amadurecer. O jogador de drible é muito raro, resolve a partida.

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