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Por Daniel Leal — Recife


O Sport ainda tentava se reencontrar, poucos meses após ter encerrado de forma honrosa a participação nas oitavas de finais da Libertadores. Na zona de rebaixamento, o Leão buscava na quinta rodada a primeira vitória no Brasileirão. A tarde de domingo em 7 de junho de 2009, 15 anos atrás, ficou marcada pela histórica virada sobre o Flamengo: 4 a 2. Graças a uma memorável atuação de Weldon.

Sport vira o jogo contra o Flamengo em apenas oito minutos, pelo Campeonato Brasileiro

Sport vira o jogo contra o Flamengo em apenas oito minutos, pelo Campeonato Brasileiro

Aposentado da carreira de atleta profissional desde 2020 - a última passagem foi no Santos-AP -, Weldon, 43 anos, atualmente vive na cidade natal, Santo André, em São Paulo, onde trabalha como agente de jovens jogadores. Ele conversou com o ge para recordar as três passagens pelo Sport (2003, 2007 e 2009) e momentos mais marcantes da carreira.

Weldon fez uma das partidas mais inesquecíveis ao fazer o "hat-trick" pelo Leão, três gols em apenas oito minutos, garantindo a vitória da equipe pernambucana diante do Flamengo, na Ilha do Retiro.

- Eu recordo que os atacantes éramos eu e o Ciro. Acho que em oito minutos, o Flamengo fez 2 a 0, foram dois gols do Emerson Sheik (5 e 9 minutos do primeiro tempo). Aí eu falei: "Ciro, se a gente não conseguir fazer logo, agora, o Flamengo vai nos golear, vamos tomar quatro, cinco aqui. A gente precisa de um gol para acalmar" - relembra.

Weldon marcou três gols, em 2009, contra o Flamengo — Foto: Reprodução/TV Globo

- O Fumagalli bateu uma falta pela lateral e o Durval fez o gol de cabeça: 2 a 1. Aí nós crescemos no jogo, apareceram as oportunidades para mim. Fiz 2 a 2, 3 a 2 e 4 a 2, um atrás do outro. Uma emoção muito grande de fazer três gols naquele jogo - completa Weldon.

Dos três gols, aos 27, 30 e 34 minutos do primeiro tempo, foi o último - coincidentemente também o último com a camisa do Sport - que Weldon achou o mais bonito.

- Ciro dá um chapéu, se eu não me engano no Ronaldo Angelim, e eu grito "Ciro, Ciro!", pedindo a bola para ele. Ele foi e tocou para mim. Eu peguei de bate-pronto. E eu só não fiz o quarto gol porque o Ciro saiu cara a cara com o goleiro Bruno e eu pedindo a bola e ele me falou: "Não! Eu vou tentar fazer um, né!?" - detalha.

- Eu teria feito quatro gols aquele jogo, mas atacante é assim mesmo, chega a cara a cara com o goleiro e quer fazer o gol - reconhece Weldon.

Os gols de Sport 4 x 2 Flamengo pela 5ª rodada do Brasileirão 2009

Os gols de Sport 4 x 2 Flamengo pela 5ª rodada do Brasileirão 2009

O técnico Emerson Leão, contratado para substituir Nelsinho Baptista, assistiu ao jogo dos camarotes. A vitória tirou o Sport momentaneamente da zona de rebaixamento e afastou o Flamengo dos líderes.

- Eu me lembro que o Adriano Imperador estava no Inter de Milão e tinha voltado para o Flamengo naquele ano. O Flamengo estava com o maior timão, foi campeão brasileiro - diz Weldon.

O Sport, por outro lado, apesar da lembrança positiva daquele jogo, acabou rebaixado ao final do Brasileiro.

- Independentemente de qualquer coisa, eu tenho um carinho muito grande pelo Sport, eu gosto demais do Sport. Gosto muito, muito, muito. Gostaria de ter encerrado a carreira no clube, mas dependia da diretoria. Mas até hoje mantenho contato com os diretores, com os presidentes - disse.

Weldon ao lado da família em Santo André, São Paulo — Foto: Arquivo Pessoal

Hat-trick também na Ponte Preta

Atleta criado nas divisões de base do Guarani, Weldon foi o carrasco do clube que deu a ele a primeira oportunidade do futebol. No Brasileirão 2004, ele marcou os três gols da vitória da Ponte Preta, por 3 a 1, no derby campineiro, no estádio Moisés Lucarelli.

Ponte Preta bate Guarani com três gols de Weldon no Brasileirão 2004

Ponte Preta bate Guarani com três gols de Weldon no Brasileirão 2004

- Esse jogo foi inesquecível. Porque foi meu primeiro derby como profissional. Estava uma chuva. O Viola era só centroavante do Guarani. Eu fiz três gols, entrei para a história - relembra.

O gol do Bugre foi marcado por Valdir Papel, ex-companheiro de Sport de Weldon, um ano antes. Os dois atuaram juntos pelo Leão na Série B 2003.

Weldon passou pela Ponte Preta em 2004 — Foto: Reprodução EPTV

Saídas do Sport sob chamados de Jorge Jesus

Weldon viveu os melhores momentos da carreira em Portugal, sob o comando do técnico Jorge Jesus. Nas duas saídas do Brasil, coincidentemente, deixou o Sport após a convocação do "mister" português.

"Primeiro, eu treinei com ele no Belenenses, em 2007, e fiz 14 gols. Aquele cara gostou demais de mim. Ele falou: 'Weldon, onde eu for vou te levar'. Ele me disse isso dentro do vestiário. Eu ia ficar lá, mas tinha dois anos de contrato com o Cruzeiro", conta Weldon.

Segundo Weldon, o Belenenses não tinha o dinheiro para comprá-lo, algo em torno de dois milhões de euros na época.

- O Belenenses não tinha esse dinheiro e tive que voltar para o Cruzeiro em 2008. Lembra do Marcelo Moreno? Ele foi vendido para a Ucrânia (Shakhtar Donetsk), e eu vim para o lugar dele.

No Cruzeiro, porém, Weldon jamais conseguiu se firmar. Após passagem sem brilho pela Raposa, foi novamente emprestado para o Sport, no ano seguinte.

Weldon pelo Cruzeiro, em 2008 — Foto: Arquivo ge

- O Cruzeiro tinha um timão, mas não fui muito aproveitado. Tinha o Fred... Cheguei no Cruzeiro em 2005, no ano seguinte fui para a França, depois voltei e fui para o Belenenses, depois voltei para o Cruzeiro em 2008. Depois, fui emprestado para o Sport. Aí o Jesus já queria me levar para o Braga, mas o Cruzeiro não deixou - recorda.

- Quando eu estava no Sport, ele me ligou numa sexta-feira, eu estava no Shopping Recife. Me perguntou do Ramires, o volante do Cruzeiro. Aí, depois, ele me disse: "Quero trazer você primeiro e depois o Ramires". E eu fui logo depois daquele jogo contra o Flamengo - acrescenta.

Naquela altura, Jorge Jesus já era o comandante do Benfica. Juntos, Jesus e Weldon conquistaram o Campeonato Português e a Taça da Liga. Ele também defendeu o time na Liga UEFA.

- Nós ganhamos tudo. Ele fez aquele time de Di María, David Luiz, Luizão, Saviola, Pablo Aimar. Era um timaço - diz, saudoso, Weldon.

- O ataque era Saviola e Óscar Cardoso, eu era o reserva. Eram os dois que jogavam, eu era o reserva, tinha o Allan Kardec também, o Keirrison que ficou seis meses e foi embora. O Jesus não gostava dele porque era muito parado. É como o Gabigol, que não dá certo na Europa porque é muito parado. Lá, centroavante não joga assim - observa.

Ao longo da carreira, Weldon somou passagens pelo futebol, árabe, chinês, romeno e francês. Ele afirmou que não deixou arrependimentos pelo caminho.

- Eu tinha dois sonhos quando comecei a minha vida: o primeiro era ser jogador profissional e o outro era jogar no São Paulo, meu clube do coração. Mas acho que o maior sonho era ser jogador. Não tem arrependimento, porque todas as oportunidades que tive, eu aproveitei todas. Fui feliz - garante.

Weldon é apresentado na Tiva e destaca o desafio na carreira ao disputar primeira Série D

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