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Por Fabi Alvim, Marcel Merguizo e Marcelo Barreto — São Paulo e Rio de Janeiro


Como uma rajada de vento que muda a rota do seu barco, Isabel Swan foi surpreendida nesta semana com a própria demissão do Comitê Olímpico do Brasil (COB). Não que a velejadora medalhista olímpica estivesse navegando em mares tranquilos, pelo contrário. Mas o desligamento da coordenadoria da área de Mulher no Esporte veio com um tufão apenas uma semana depois de a equipe feminina do Brasil ser protagonista em uma campenha histórica do país no Pan. Isabel, aos 39 anos, vai buscar vaga para as Olimpíadas de Paris 2024.

- Realmente aconteceu isso essa semana. Fiquei um pouco surpresa por causa dos avanços que a área vem conquistando. Mas, com certeza, sou muito grata ao COB por ter confiança de dois anos e meio no meu trabalho. Consegui desenvolver a área através de uma política de equidade. Hoje a gente tem uma Comissão da Mulher. Temos um aumento de médicas ginacologistas fazendo várias ações, desde palestras a canal de whatsapp para as meninas que estão no processo de conhecer o corpo para melhorar a performance. A mulher precisa de um bem estar para poder se sentir incluida e treinar, para efetivamente performar. Então sou muito grata a esse perído – disse Isabel em entrevista ao programa Ça Va Paris, do sportv.

Isabel Swan é a coordenadora de esportes femininos do COB desde junho de 2021 — Foto: Rômulo Simões/COB

Segundo o COB e a própria velejadora, não houve um fato crucial ou um problema específico para o desligamento. O ge apurou que Isabel estava com dificuldade de trabalhar sob o comando da diretoria de desenvolvimento esportivo, liderada por Kenji Saito. E houve desgaste na relação.

- Infelizmente, acredito que houve uma dificuldade na questão de discordância na tomada de decisão. Tive algumas dificuldades de implementar alguns projetos. Acredito que o foco cada vez mais vai ser na parte esportiva. E, com certeza, trabalhei mais na parte de governança e no mapeamento diagnóstico da situação da mulher olímpica no Brasil. Efetivamente houve uma discordância e acabei sendo desligada do comitê olímpico. Mas meu coração e meu sentimento de amizade, excelência e respeito são muito firmes e acredito que esses dois anos e meio foram muito produtivos – explicou Isabel.

Em nota, o COB disse que "por decisão executiva, optou por realizar mudanças na área Mulher no Esporte. Duas novas colaboradoras, já integradas à equipe, serão responsáveis por conduzir os programas pertinentes. Além da manutenção dos projetos pré-existentes, a área concentrará ainda mais esforços na formação de atletas e treinadoras, com a expansão do Programa de Desenvolvimento do Esporte Feminino (PDEF), cujo orçamento será praticamente dobrado para 2024."

Julia Silva e Soraya Nobre, ligadas ao vôlei e ao basquete, respectivamente, dividirão a coordenadoria a partir de agora. Elas já trabalham no COB.

Isabel Swan Vela — Foto: Getty Images

A demissão de Isabel veio menos de duas semanas depois de o Time Brasil quebrar o recorde de medalhas de ouro (66) e no total (205) nos Jogos Pan-Americanos de Santiago. A velejadora estava em Santiago. Ela viu as mulheres serem protagonistas da campanha. Pela primeira vez na história dos Pans, o Brasil ganhou mais medalhas com atletas e equipes femininas do que masculinas. Foram 33 ouros e 95 no total para elas, contra, respectivamente, 30 e 91 para eles. Ainda foram 3 ouros e 18 pódios no total em provas mistas.

- Acredito que a área possa ter influenciada indiretamente. Porque existem os gestores esportivos, existe a diretoria de alto rendimento, a de desenvolvimento esportivo, que cuidam exatamente dessa parte de performance esportiva. Eu acabei entrando para preencher uma lacuna, que é a questão de políticas. Eu tive a oportunidade de trabalhar em uma consultoria, em uma Big 4 (Ernst & Young), então aprendi muito sobre governança, sobre ações importante para sedimentar e pensar sobre ações de equidade, que vão trazer, que vão levar à equidade de gênero que o esporte, despois de 104 anos, a gente chega no mesmo número de atletas homens e mulheres em uma Olimpíada. Mas quando a gente fala de chefes de equipes, fala de treinadoras, esse número é muito baixo. Hoje no Brasil a gente tem 6% de treinadoras de alto rendimento. E a minha área pensou nisso – avaliou Isabel.

Para assumir o cargo em 2021, a velejadora deixou a vaga para a qual tinha sido eleita na Comissão de Atletas do COB. Ela não pode reassumir o posto. Ela é a única brasileira na Comissão de Atletas da PanAm Sports, entidade responsável pelos Jogos Pan-Americanos.

Isabel Swan é a nova representante brasileira na Comissão de Atletas da Panam Sports — Foto: Reprodução

- Efetivamente a gente avançou. Criamos uma cartilha de equidade. O mais importante foi que a gente trouxe informação. Entendendo que a mulher tem que ter programas próprios, pensando de forma individual. Cada uma tem seu ciclo, sua história, e é preciso que tudo isso funcione bem para a mulher ter performance. Acredito que a área trouxe valores simbólicos, mais do que resultados esportivos, pois isso o COB já trabalha há anos com seus gestores esportivos, além da estrutura de viagens e missões. Mas a área da mulher no esporte é uma área transversal, que passa desde o RH, com a contratação de mais mulheres, até a administrativa, criando infraestruturas para a gente ter mulheres podendo fazer a amamentação, treinar com seus filhos. São pontos que a área tocou. Sem dúvida a semente foi plantada – disse Isabel.

Medalhista olímpica de bronze na vela em Pequim 2008, aos 39 anos Isabel segue como atleta em busca de mais uma participação nos Jogos, agora na classe 470.

- Eu nunca deixei de velejar. Velejar é um esporte que é possível ser praticado até qualquer idade. Com meu nível, em função do histórico, posso competir o Campeonato Mundial. Hoje faço dupla com o Henrique Haddad, na classe 470, corremos os dois últimos mundiais, e fomos a melhor dupla no Mundial da Holanda, que fiz durante minhas férias, e agora pode ser uma possibilidade mais forte em função de ter mais tempo livre para treinar. Minha ideia era até ter uma licença, mas acabei saindo mesmo. O que vejo em um primeiro cenário é treinar e conseguir uma vaga pros Jogos de 2024. Mas isso ainda é um projeto que está sendo estruturado – concluiu.

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