O caso da russa Kamila Valieva chamou a atenção do mundo durante as Olimpíadas de Inverno de Pequim, realizada em fevereiro de 2022. Erro atrás de erro, algumas quedas e o choro antes mesmo de saber o resultado na prova individual não condiziam com o talento de uma jovem com então 15 anos. Valieva havia sido provisoriamente banida das Olimpíadas por um teste positivo no exame antidoping com a substância trimetazidina (trimetazidine), um medicamento para angina que tem função vasodilatadora. Entretanto, com recursos, a jovem pôde participar da prova individual. Ainda assim, a competidora teve o desempenho técnico e emocional nitidamente abalados.
Diante das consequências causadas em uma atleta tão nova, a ISU - International Skating Union - votou e, com 100 países a favor e somente 16 contrários, a associação aprovou que a idade mínima para competidores em eventos seniores será de 16 anos para a temporada 2023-24 e 17 para 2024-25. O motivo foi justamente a busca pela "proteção da saúde física e mental e o bem-estar emocional" dos patinadores.
Kamila Valieva chora na pista em Pequim — Foto: Getty Images
Eric Radford, ex-patinador artístico canadense e membro da Comissão de Atletas da ISU, comentou a decisão e se mostrou perplexo diante da comparação entre ganhar uma medalha em detrimento da saúde de um jovem atleta.
- A vida de um atleta é curta e intensa e sua experiência nesta curta fase define a base para o resto de suas vidas - fisicamente, espiritualmente emocionalmente. Enquanto eu ouço as preocupações de algumas nações sobre a dificuldade imediata que eles podem enfrentar com esta proposta sendo aprovada ... uma medalha realmente vale a vida de um jovem atleta? - disse Radford.
Eric Radford, patinação, PyeongChang — Foto: Carlos Gorito
Relembre o caso Valieva
Tudo começou após a equipe do Comitê Olímpico Russo conquistar a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim. Dois dias depois do triunfo, os jornais russos RBC e Kommersant noticiaram que a estrela de apenas 15 anos havia sido pega no exame antipoding.
Kamila Valieva acabou fora do pódio em Pequim — Foto: Getty Images
Imediatamente, o Comitê Olimpíco Internacional (COI) optou por adiar a cerimônia de premiação sem dar muitos detalhes, mas afirmando que atendia a um pedido formal da Federação Internacional de Patinação.
Dois dias depois da suspensão da entrega de medalhas, a Agência Internacional de Testagem (ITA, na sigla em inglês) confirmou o doping da patinadora russa. Valieva testou positivo em 25 de dezembro de 2021, em teste feito durante o Campeonato Russo de Patinação Artística. A contraprova feita com a mesma amostra, em 8 de fevereiro, também deu positivo para trimetazidina. A técnica da patinadora, Eteri Tutberidze, defendia a inocência da atleta, apesar de reconhecer que a situação era "muito controversa e difícil".
Do mesmo lado, a Rusada, a Agência Antidoping da Rússia, alegava um surto de ômicron na justificativa do atraso da contraprova. Entre idas e vindas, a Corte Arbitral do Esporte (CAS) liberou a participação de Valieva na prova individual, quando a atleta competiu abalada pelo que estava acontecendo e cometeu diversos erros.
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