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Por Rafael Lopes

Comentarista de automobilismo do Grupo Globo

Voando Baixo — Rio de Janeiro

Divulgação/W Series

A segunda temporada da história da W Series começou no último fim de semana com a primeira corrida de duas no Red Bull Ring, na pequena Spielberg, na Áustria. A categoria 100% feminina, criada pela inglesa Catherine Bond-Muir, teve seu primeiro ano disputado em 2019 com o título da inglesa Jamie Chadwick. Para discutir o papel dela no automobilismo, convidei Clarice Ammann e Isabela Katopodis, fundadoras do projeto W Series Brasil, para escrever sobre o tema. Leia abaixo!

por Clarice Ammann e Isabela Katopodis

Clarice Ammann e Isabela Katopodis escrevem sobre a W Series no Voando Baixo — Foto: Arquivo Pessoal

Você se lembra de ligar a televisão domingo de manhã e ver uma mulher no grid de uma corrida de Fórmula 1? Dependendo da sua idade provavelmente a resposta será não. Sabe por quê? Porque a última vez que uma mulher participou de uma corrida de Fórmula 1 foi em 1976, com a italiana Lella Lombardi no GP da Áustria. Nestes 45 anos, as mulheres não chegaram nem perto de colocar seu nome na história da categoria. A categoria tem 71 anos e conta com mais de 900 pilotos em sua trajetória, porém, apenas cinco eram mulheres. Além de Lombardi e Maria Teresa de Filippis, que conseguiram largar, Divina Galica, Desiré Wilson e Giovanna Amati também foram inscritas em fins de semana de corridas, mas não conseguiram disputar uma prova oficial.

A presença feminina se iniciou na F1 com Maria Teresa de Filippis em 1958, participando de apenas três provas. No GP da França do mesmo ano, Maria foi proibida de correr por ser mulher. O diretor de provas Toto Roche marcou uma entrevista coletiva, na qual mostrou uma foto de Maria Teresa afirmando que "uma jovem tão bonita como aquela não deveria usar nenhum capacete a não ser o secador do cabeleireiro". Anos depois, tivemos a presença da italiana Lella Lombardi em 1974, que se tornou a primeira mulher a pontuar em um GP de Fórmula 1, com a sexta posição no GP da Espanha de 1975 e meio ponto marcado (a corrida foi encerrada antes dos 75% regulamentares).

A pioneira Maria Teresa de Filippis sentada em seu Maserati nos anos 1950 — Foto: Barratts/PA Images via Getty Images

Nos últimos anos, a W Series foi criada com o propósito de mudar essa realidade. O campeonato é 100% feminino, com 18 pilotos titulares e cinco reservas. As atletas atuais passaram por uma seleção com 54 participantes e as escolhidas têm total apoio financeiro da organização. O campeonato começou em 2019 com seis etapas. A primeira campeã foi a britânica Jamie Chadwick. Agora, em 2021, a temporada contará com oito provas entre Europa e América do Norte, com o principal objetivo de dar visibilidade para as mulheres no meio automobilístico e potencializar o talento das pilotos para que um dia possam chegar à F1.

Em janeiro de 2020, a Federação Internacional de Automobilismo (FIA) anunciou que a W Series valerá pontos para a superlicença das oito primeiras colocadas. É o mesmo patamar, por exemplo, de categorias como a Indy Lights, Fórmula Renault Eurocup e a Euroformula Open. A pontuação é feita do primeiro lugar até o oitavo: 15, 12, 10, 7, 5, 3, 2 e 1 - para chegar à Fórmula 1 é necessários conquistar 40 pontos.

A festa do pódio da primeira etapa da temporada 2021 da W Series em Spielberg, na Áustria — Foto: Dan Istitene/F1 via Getty Images

Com o crescimento da categoria, surgiram várias oportunidades para as pilotos. A campeã Jamie Chadwick, por exemplo, assinou um contrato para se tornar piloto de desenvolvimento da Williams, trabalhando na fábrica da equipe e aprimorando seu desenvolvimento nos simuladores. Além deste contrato, a britânica conseguiu patrocínio também para correr na Fórmula Regional Europeia e na Extreme E. E a Aston Martin, também da Fórmula 1, anunciou há algumas semanas a contratação de Jessica Hawkins para o cargo de embaixadora da equipe.

A W Series, com toda certeza, veio para amenizar a desigualdade, porém ainda está muito longe de acabar com ela. Afinal, com um campeonato de carros competitivamente iguais, as pilotos podem mostrar seu talento sem influência externa. O grid cumpre a promessa de ter representatividade feminina, pois apresenta diversos tipos de mulheres como a finlandesa Emma Kimiläinen, mãe de duas crianças, assim como as britânicas Abbie Eaton, Sarah Moore e Jessica Hawkins, que fazem parte da comunidade LGBTQIAP+. Esse tipo de oportunidade já é difícil de se ver fora do automobilismo, dentro era quase impossível. Muitas meninas desistem do sonho de ser piloto apenas pelo fato de serem mães, mas Emma está lá para provar que sim, é possível ser bem-sucedida profissionalmente no esporte e mãe ao mesmo tempo.

Bruna Tomaselli se prepara para entrar no carro da W Series nos testes em Anglesey, no País de Gales — Foto: Drew Gibson/W Series

Outro exemplo de representatividade é a brasileira Bruna Tomaselli, de 23 anos, nascida em Caibi, interior de Santa Catarina, uma das pilotos do grid atual. Com 15 anos, ela teve sua primeira participação na Fórmula Júnior e na Fórmula 4 Sul-Americana. Em 2019, Bruna se classificou para competir na W Series para a temporada de 2020, mas infelizmente a temporada foi cancelada devido à pandemia da Covid-19. A catarinense é uma inspiração para várias jovens pilotos brasileiras que estão começando agora, mostrando que há sim lugar para mulheres no automobilismo, abrindo cada vez mais esse horizonte.

A cada ano, a presença feminina a partir da Fórmula 4 é cada vez menor. Parte disso se deve ao pouco patrocínio que as meninas possuem, a outra se deve ao pouco incentivo que elas têm na infância. Segundo um estudo, a atual divisão da licença de kart para maiores de 16 anos é de 1.794 meninos para apenas 139 meninas. Uma diferença drástica que tem suas consequências na vida adulta e nas categorias maiores.

Jamie Chadwick comemora o título da W Series de 2019 no pódio do circuito de Brands Hatch, na Inglaterra — Foto: Dan Istitene/Getty Images

Portanto, acreditamos que a representatividade feminina nas categorias de monopostos, como a Fórmula 1 e a Fórmula E é necessária para que jovens meninas se identifiquem e desenvolvam o interesse em iniciar sua carreira no kartismo. Com a W Series, elas vêm cada vez mais acreditando e desenvolvendo interesse em se tornarem profissionais no automobilismo, cumprindo a proposta do campeonato. Esperamos que, com essa iniciativa, mulheres sejam capazes de chegar à F1, após esses 40 anos, e assim a participação feminina seja mais presente no esporte.

Nesse sentido, criamos o Projeto W Series Brasil, para trazer visibilidade para a categoria no Brasil, com o intuito de inspirar o máximo de meninas possível para essa nova etapa do automobilismo.

* Clarice Ammann e Isabela Katopodis são apaixonadas por automobilismo e criaram o projeto W Series Brasil (Instagram @WSeriesBR e Twitter: @WSeriesBRA).

Perfil Rafael Lopes — Foto: Editoria de Arte/GloboEsporte.com

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