Mesmo desfalcado, Brasil cumpre papel no Mundial de Judô

Seleção vai ao Catar sem os medalhistas olímpicos Daniel Cargnin e Mayra Aguiar, mas mantém histórico de medalhas, conquista dois bronzes e segue embalada para as Olimpíadas

Por Guilherme Costa — Doha, Catar


A seleção brasileira de judô conquistou duas medalhas de bronze no Campeonato Mundial da modalidade, encerrado neste domingo, no Catar. O resultado ficou exatamente dentro das expectativas para o time, que viajou sem a atual campeã mundial Mayra Aguiar e o medalhista de bronze nas Olimpíadas de Tóquio Daniel Cargnin, ambos lesionados. Larissa Pimenta, que seria candidata ao pódio, também não esteve no Mundial. Coube a Rafael Silva e Beatriz Souza irem ao pódio e manter a escrita do Brasil, que conquistou medalhas nas últimas dez edições.

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Antes do Mundial, era possível indicar duas favoritas ao pódio na delegação: Rafaela Silva, campeã mundial e líder do ranking, e Beatriz Souza, que foi ao pódio nas edições de 2021 e 2022 da competição. Rafa acabou perdendo na estreia em uma das maiores zebras da competição, enquanto Bia manteve o favoritismo e foi bronze.

Uma equipe é grande e imponente quando consegue suprir as decepções dos favoritos. E o judô fez isso no Mundial. Sem a medalha de Rafaela, que era esperada por todo o retrospecto dela nos últimos meses, Rafael Silva, que não estava entre os favoritos, e sim no grupo de "candidatos", levou o bronze entre os pesados.

Rafael Silva conquista o bronze no Mundial de Judô

Um Mundial de Judô é sempre palco de surpresas. Tanto que apenas um líder do ranking mundial confirmou o status e foi campeão em Doha. Nas outras 13 categorias, apenas dois líderes foram ao pódio. Aliás, quatro líderes do ranking foram eliminados logo na estreia da competição. Dos 35 medalhistas olímpicos em Tóquio que estiveram em Doha, só 12 foram pódio no Mundial. Ou seja, 23 atletas que foram ao pódio na última Olimpíadas ficaram sem medalha em Doha.

Rafael Silva conquista o bronze no Mundial de Judô 2023 — Foto: Emanuele Di Feliciantonio/IFJ

Outro dado que corrobora para o equilíbrio do judô: dez campeões mundiais de 2022 estavam em Doha tentando repetir o feito (os outros, machucados não estiveram na competição, caso da brasileira Mayra Aguiar). Destes dez, só três levaram o bicampeonato. Seis sequer foram ao pódio, caso da Rafaela Silva, brasileira eliminada na estreia.

Voltando ao Brasil: além das duas medalhas de bronze conquistada pelos pesos pesados, o país conseguiu algumas boas atuações, ainda que sem pódio: Amanda Lima, na categoria até 48kg, era 24ª do ranking mundial, venceu duas top 10 e ficou em sétimo lugar. Rafael Macedo, no peso 90kg, ganhou do medalhista olímpico Kritian Toth, da Hungria, mas caiu para um russo na sequência. William Lima conseguiu duas boas vitórias, e caiu nas oitavas de final em um combate com decisão polêmica dos juízes em prol ao francês.

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Outros atletas brasileiros precisam de ajustes para chegarem com chances reais de pódio em Paris 2024: Ketleyn Quadros, mais experiente da seleção, venceu uma luta no Mundial, mas caiu nas oitavas para uma atleta de Kosovo. Sua categoria (63kg) foi a com mais surpresas da competição, com o pódio inteiro sendo composto por atletas fora do top 10 do ranking mundial.

Guilherme Schmidt, de apenas 22 anos, caiu na estreia do Campeonato Mundial. Número 4 do ranking, fez um 2021 muito bom, vencendo três campeões mundiais em competições espalhadas pelo circuito. Em 2022 e 2023 ainda não encaixou boas competições, mas é um talento a ser lapidado para o ciclo.

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Falta um ano e três meses para as Olimpíadas e, pelo andar da carruagem, o judô brasileiro vai chegar como favorito a duas ou três medalhas, e com chances em pelo menos dez categorias. A modalidade foi ao pódio em todas as edições desde 1984, e a escrita deve ser mantida.

Até lá, são alguns objetivos: conseguir colocar o máximo possível de atletas como cabeças de chave, para conseguirem sorteios mais favoráveis em Paris; evitar que atletas cheguem lesionados às Olimpíadas; classificar atletas nas 14 categorias, duas (60kg masculino e 70 kg masculina) são as que correm mais perigo.

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Por fim, algumas categorias ainda estão com pelo menos dois atletas na briga por uma vaga. Essa disputa interna pode fortalecer o atleta classificado, mas ao mesmo tempo desgastar demais o físico e mental. São os casos, principalmente, das categorias 48kg e 70kg (feminino) e 100kg (masculino).

A situação do judô brasileiro atualmente é essa: se ganhar três medalhas em Paris 2024 será uma ótima campanha. Duas medalhas é uma projeção realista. Menos que isso, seria uma decepção.

Guilherme Costa Brasil em Tóquio blog — Foto: Reprodução