Brasileiro é um dos poucos árbitros homens na ginástica rítmica: "Falavam que não era para mim"

Homens representam só 2% do quadro de arbitragem da Federação Internacional de Ginástica, mas Leonardo Palitot participa de competições importantes, como a Copa do Mundo

Por Juliana Lima — Rio de Janeiro


Com participação em torneios importantes, Leonardo Palitot tem se destacado na ginástica rítmica. O potiguar é um dos três homens brasileiros habilitados para arbitrar no cenário internacional da modalidade, que tem pouca participação masculina. Dos 1.301 juízes, só 25 são homens. Se levarmos para um recorte maior, mulheres ocupam 98% do quadro de arbitragem da Federação Internacional de Ginástica (FIG).

– É um esporte praticado por mulheres, pelo menos em caráter oficial, então é natural que haja um predomínio feminino. É muito comum, em várias competições internacionais, eu ser o único homem. Entendo a situação e vejo que o mundo delas se abriu para nos aceitar – disse Palitot, em entrevista ao ge.

Leonardo Palitot posa com atletas brasileiras da ginástica rítmica — Foto: Reprodução Redes Sociais

Natural de Natal, no Rio Grande do Norte, e hoje com 41 anos, Leonardo fez faculdade de direito. Mas, desde criança, é fã de ginástica artística e viu na arbitragem uma forma de ficar perto da modalidade.

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No início da carreira, a ideia de quebrar um padrão o assustava. Palitot, que faz parte do seleto grupo de 2% de árbitros homens da ginástica rítmica no mundo, chegou a ser vítima de comentários preconceituosos.

- Tinha o meu próprio preconceito, que me deixava temeroso, mas também algumas pessoas falavam que aquilo não era pra mim, que nunca haveria espaço para um homem. Lembro que minha primeira grande competição internacional, a Copa do Mundo de Sofia em 2018, eu fui com muito medo de não ser acolhido e a minha experiência foi completamente diferente. Vi que aquilo que falavam não era real e que há espaço para homens sim, até creio que isso é um trunfo. Elas são muitas, de vários países, e muitas vezes elas não se conhecem entre si, mas fica muito mais fácil de saber que o árbitro do Brasil é um homem. E daí eu vou criando as relações, estreitando os laços, interagindo, fazendo as pessoas olharem para o Brasil, coisa que antes elas não faziam do mesmo jeito.

O amor pela ginástica começou ainda na escola, quando sempre acompanhava treinos, o que contribuiu para que conhecesse regras, nomes dos elementos e dos aparelhos. Era presença certa em todas as competições de Natal e conseguia identificar erros e acertos nas séries apresentadas.

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O interesse pela arbitragem começou por conta do incentivo de amigos. Com apenas 20 anos, Palitot foi convidado para arbitrar um torneio nacional e, então, decidiu fazer curso. A partir daí, começou a se destacar no cenário brasileiro e atuou como presidente de mesa em diversas competições.

Apoiado por companheiros de profissão, Palitot ingressou no curso internacional e hoje é um dos dois profissionais com a maior categoria dentre todos os árbitros brasileiros, chamada de brevet 2, tanto para as provas individuais, como para as de conjunto. Isso o credencia a atuar em qualquer competição internacional, incluindo os Jogos Olímpicos.

Leonardo Palitot é árbitro de ginástica rítmica — Foto: Arquivo pessoal

Nas Olimpíadas, os árbitros convocados são aqueles com melhores avaliações ao longo das principais competições do ciclo. Palitot reúne as condições para estar em Paris mas, como cada país só pode levar um árbitro, o Brasil terá como representante Márcia Aversani, membro do Comitê Técnico da Federação Internacional de Ginástica.

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Ao longo de 21 anos como árbitro, Palitot acumulou experiência e viveu episódios marcantes, mas valoriza o momento atual da ginástica rítmica brasileira. O ano de 2023 foi especial para o país, que conquistou diversas medalhas em Copas do Mundo, alcançou vagas olímpicas via Mundial pela primeira vez e ainda teve 100% de aproveitamento nos Jogos Pan-Americanos de Santiago.

– (O crescimento) É fruto de muito esforço e dedicação. Um trabalho de equipe, cada um no seu lugar, dando o máximo. É um orgulho que não cabe no peito ver que estamos alcançando aquilo a que sempre nos propusemos e fincando de vez a ginástica rítmica do Brasil como uma das grandes do cenário mundial – celebrou.

Leonardo Palitot posa com atletas brasileiras da ginástica rítmica — Foto: Reprodução Redes Sociais

Em 2024, Palitot será o representante brasileiro na Copa do Mundo de Ginástica Rítmica, começando por Faliro, na Grécia, de sexta a domingo. Também participará da etapa de Sofia, na Bulgária, da de Portimão, em Portugal, e finalizará a temporada em Cluj-Napoca, na Romênia, em julho. O árbitro ainda estará no Grand Prix da França, que acontecerá entre 29 e 31 de março.