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Por Fred Gomes e Letícia Marques — Rio de Janeiro


"Isso não existe, deu muito mole".

A frase que expressa o sentimento unânime de perplexidade que dominou o Ninho do Urubu na sexta-feira não tem apenas um dono. Foi repetida por alguns jogadores na resenha dentro do CT. A crise criada a partir de uma foto de Gabigol com a camisa do Corinthians pegou mal com quase todo o elenco. Poucos mostraram indiferença, mas não apareceu ninguém para minimizar.

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Incomodado com a situação, grande parte do elenco estava muito mais preocupada com eventuais punições a funcionários presentes ao evento na casa do jogador. Além do supervisor Márcio Santos e do roupeiro Sidnei Bernardes, que aparecem na foto em que Gabigol está vestido com a camisa do Corinthians, havia outros colaboradores na casa do agora ex-camisa 10. Márcio levou uma advertência, mas não houve demissões.

A pergunta que todos se faziam era: por que cometer uma gafe dessas e jogar por terra toda a tranquilidade conquistada por duas vitórias marcadas por atuações consistentes? Tal sentimento ganhou eco na comissão técnica. Não tinha ninguém satisfeito com a situação.

Gabigol em primeiro treinamento do Flamengo após 36 dias afastado — Foto: Marcelo Cortes / CRF

Decisão comunicada em 30 minutos

Gabigol manteve a rotina de ser um dos primeiros a chegar ao CT. Entrou nas dependências do clube às 14h, uma hora antes do previsto para todo o elenco, e começou os trabalhos na fisioterapia e o pré-treino.

Por volta de 15h30, quando a comissão técnica já começava a preparar o treinamento, Marcos Braz chamou o ainda camisa 10 para conversar. Em papo que durou cerca de meia-hora, Braz comunicou a Gabigol a perda do número histórico, a multa de 10% do salário na carteira de trabalho e ainda a dispensa do treinamento desta sexta.

Perda de prestígio com o elenco

Um dos quatro remanescentes de 2019 ao lado de Bruno Henrique, Arrascaeta e Gerson, Gabigol perdeu representatividade dentro do elenco do Flamengo. Quando ainda tinha a companhia de lideranças como Diego, Diego Alves, Rafinha, Filipe Luís e Everton Ribeiro, o atacante era considerado como uma delas pelo que entregava em campo e também devido ao tamanho conquistado com os grandes resultados individuais até 2022.

Conforme esses líderes que transitavam em todos os grupos foram saindo, Gabigol passou a ficar mais sozinho. Ainda tinha o respeito e o carinho de muitos companheiros, mas o fato é que estava mais isolado.

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Sem visitas de atletas e euforia zero no retorno

A volta após o longo período de suspensão pelo ato de indisciplina cometido durante exame antidoping ilustra bem o quanto a imagem de Gabigol mudou em relação ao elenco. Se o Flamengo divulgou imagens de funcionários e dirigentes o recebendo com uma calorosa salva de palmas, tal manifestação não se estendeu ao grupo. Não houve nada de especial com os companheiros.

Um dos episódios que fez Gabigol perder esse espaço foi a briga com Marcos Braz em julho, no vestiário do Maracanã, durante a vitória por 2 a 0 sobre o Fortaleza. O então camisa 10 torceu o tornozelo por causa do gramado, reclamou com Braz, e a discussão ficou áspera, com troca de ofensas e palavrões. Na ocasião, um dos principais motivos do desentendimento foi o fato de o médico Márcio Tannure ter informado que Gabigol, substituído no intervalo por causa da torção, teria de ficar no estádio para realizar exame antidoping.

Ao ver que até mesmo o dirigente que sempre deu um tratamento de filho a Gabigol perdeu a paciência, alguns jogadores entenderam que poderiam "seguir sem ele".

A linha do tempo de gols e títulos de Gabigol no Flamengo — Foto: Reprodução / Globo Esporte

A foto em que Gabigol aparece vestindo a camisa do Corinthians aconteceu em evento organizado pelo jogador com o intuito de agradecer às pessoas que o visitaram durante o período de suspensão pelo Tribunal de Justiça Desportiva Antidopagem (TJD-AD). Vários funcionários foram à casa dele nos dias em que ainda não podia frequentar as dependências do clube. Marcos Braz, Bruno Spindel, Tite e membros de todos os departamentos.

Curiosamente, durante o longo período de ausência, Gabigol não recebeu visita de atletas.

Mestre de cerimônia que sempre teve o microfone em mãos nas grandes comemorações e figura que esteve ininterruptamente nos braços da maioria esmagadora da torcida nesses cinco anos de Flamengo, Gabigol encaminha-se para um fim de passagem mais à margem do elenco e numa situação inimaginável até a última quarta-feira: sem o apoio popular.

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