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Por Rodrigo Capelo — São Paulo


Rodrigo Capelo explica os detalhes do contrato do Corinthians com a LFU

Rodrigo Capelo explica os detalhes do contrato do Corinthians com a LFU

O Corinthians anunciou a desfiliação da Libra, bloco do qual era membro desde a fundação, e a entrada para a Liga Forte União (LFU). Com a mudança, o clube fez a opção de vender seus direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro de 2025 a 2029 com o grupo.

A comercialização das partidas da LFU é coordenada pela agência Livemode, que assessora o bloco desde a sua formação, e hoje é uma de suas principais investidoras, sendo representante comercial e inclusive detentora de um percentual sobre as receitas futuras a serem obtidas.

O acordo foi finalizado em reunião na quinta-feira da semana passada, no Parque São Jorge. Representantes da Livemode e da XP Investimentos, que também assessora a LFU e participa da operação financeira, reuniram-se com Pedro Silveira, novo diretor financeiro do Corinthians, e Augusto Melo, presidente corintiano, entre outros assessores.

Augusto Melo, presidente do Corinthians — Foto: Rodrigo Coca/Agência Corinthians

Detalhes do contrato

Ao negociar a sua entrada na LFU, o Corinthians concordou com as mesmas regras do bloco para a distribuição do dinheiro dos direitos de transmissão — as mesmas a que todos os outros clubes se submeteram, incluindo Botafogo, Cruzeiro, Fluminense, Internacional e Vasco.

O sistema de distribuição adotado é um 45-30-25, sendo que a receita obtida por meio dos direitos comerciais da Série A se distribui assim:

  • 45% igualitariamente
  • 30% conforme posição na tabela
  • 25% de acordo com apelo comercial (audiências)

A diferença do Corinthians para os outros clubes do bloco é que, para garantir a sua entrada, os assessores da LFU ofereceram um empréstimo de R$ 150 milhões. O dinheiro é ofertado pela XP Investimentos na forma de uma CCB (cédula de crédito bancário). Não se trata, portanto, de uma antecipação ou de um adiantamento de receitas, e sim de crédito.

O clube terá de começar a pagar as parcelas desse empréstimo mensalmente a partir do início do campeonato, em maio de 2025. Juros serão acrescidos ao final de cada ano. A taxa adotada é de CDI (taxa básica para operações entre bancos) mais 3% — o que representa um crédito barato, sobretudo para os padrões dos clubes de futebol.

O benefício adicional que o Corinthians terá, apelidado pelos assessores de "colchão" e antecipado pelo ge em fevereiro, é uma proteção para o caso de a LFU não alcançar a projeção de receitas que a Livemode vem prometendo aos dirigentes, de R$ 1,7 bilhão na soma de todos os clubes.

Corinthians, Livemode e XP montaram uma tabela que prevê pagamentos para o clube, a depender da posição que ele terminar no campeonato e das audiências projetadas para as transmissões dele.

Na melhor hipótese, caso o time termine em 1º no Brasileirão, a receita ficará próxima de R$ 250 milhões. Na pior hipótese estimada, de 14º lugar ou classificação para a Sul-Americana, R$ 175 milhões.

Agora considere que a Livemode não tenha conseguido R$ 1,7 bilhão com a comercialização dos direitos de transmissão da LFU. Com menos dinheiro, todos os clubes arrecadarão menos. O Corinthians terá benefício em relação aos demais, pois poderá manter os valores pré-determinados, e a diferença será perdoada do empréstimo feito pela XP.

O mecanismo não chega a ser uma "garantia mínima" no sentido convencional, pois está limitado aos R$ 150 milhões. Uma vez que o empréstimo for zerado, o Corinthians correrá o risco de receitas abaixo do projetado junto dos outros clubes, durante o período do contrato, de 2025 a 2029. Isso iria contra o discurso de igualdade que a LFU prega.

Por fim, na pior das hipóteses, em caso de rebaixamento, o Corinthians não tem uma verba garantida. Os valores negociados para a primeira divisão só valem enquanto o clube estiver nela. Na Série B, seria necessária nova venda dos direitos de suas partidas como mandante.

Bastidores da decisão

Foram mais de cinco meses de indecisão, por parte do Corinthians, sobre o que fazer em relação aos direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro. Enquanto o Santos de Marcelo Teixeira se decidiu em poucas semanas sobre a permanência na Libra, Augusto Melo levou tempo.

Negociações foram mantidas com três partes simultaneamente. Na Libra, com o publicitário Silvio Matos e com executivos da Globo. Na LFU, com profissionais da Livemode e da XP. E com sócios da agência de marketing esportivo Brax, que se interessou pela compra dos direitos.

As tratativas esquentaram e esfriaram várias vezes — a própria LFU chegou a dar a conversa como encerrada, quando a Brax tomou a dianteira, em março. Augusto insistia em obter garantias mínimas para as receitas do Corinthians. Ele conseguiu somente o "colchão" da XP.

A Brax se manteve na disputa até o último minuto. Na semana passada, sócios da agência de marketing esportivo estiveram reunidos com Augusto para uma última proposta, mas não tiveram sucesso.

Já Silvio Matos escreveu uma longa mensagem para o presidente corintiano, dizendo que também conseguiria um crédito de R$ 150 milhões no mercado financeiro, bem como a antecipação de R$ 65 milhões, sem juros, do contrato já assinado pela Libra com a Globo.

Augusto não tinha simpatia pela Libra desde a sua posse na presidência do Corinthians. Ele via a presença no bloco como um legado do antecessor Duilio Monteiro Alves, a quem contraria, e também desconfiava de um suposto benefício do grupo ao Flamengo. As tentativas feitas para que o clube paulista permanecesse foram em vão.

Impacto na Libra

Enquanto a entrada do Corinthians na LFU tem um benefício apenas projetado — a Livemode aumentou a sua promessa de receita com os direitos de transmissão de R$ 1,5 bilhão para R$ 1,7 bilhão, após a adesão dos paulistas —, a saída da Libra tem consequência definida.

O contrato da Libra com a Globo, originalmente estipulado em R$ 1,3 bilhão por ano, prevê a redução em 10% em caso de ausência do Corinthians e em mais 11% caso o grupo não tenha pelo menos nove integrantes na Série A do Campeonato Brasileiro. Hoje, o bloco tem oito.

A saída do Corinthians reduz o acordo em R$ 273 milhões, portanto, e leva o valor-base para R$ 1 billhão por temporada. Essa quantia passa a ser dividida pelos oito clubes que compõem a Libra, entre 2025 e 2029.

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