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Por Adriano Leonardi

Médico do esporte e ortopedista especialista em traumatologia do esporte e cirurgia do joelho. Membro da Sociedade Paulista de Medicina Desportiva

São Paulo


Conhecida como osteoartrose ou osteoartrite, a artrose atinge, atualmente, 15 milhões de pessoas no país. A doença consiste na perda da cartilagem articular, tanto pelo seu envelhecimento quanto pelo mau uso da articulação, como por erros de treinamento, obesidade e por pós-operatorios de cirurgias prévias como a remoção de meniscos. No mundo, ela é a quarta enfermidade que mais reduz a qualidade de vida, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).

A dor é um dos primeiros sintomas da artrose — Foto: Getty images

Apesar de ser considerada uma doença da terceira idade, o crescente número de casos entre esportistas tem sido preocupante e tem despertado a atenção da ciência, levando a inúmeras pesquisas na área. E, para quem pratica esportes, várias dúvidas podem ocorrer. Seguem aqui as que mais ouço em meu consultório:

1. Qualquer um pode desenvolver a doença?

Todos nós podemos ter artrose em algum momento de nossas vidas. A degeneração articular faz parte de nosso envelhecimento. Mas estudos indicam que obesidade, sedentarismo, doenças reumáticas e fraqueza muscular aumentam as chances de uma pessoa mais nova desenvolver a lesão.

2. Meu joelho já foi operado: isso aumenta a chance de eu ter artrose?

Sim. Estatisticamente, quem já foi submetido a cirurgias como a reconstrução do ligamento cruzado anterior, posterior e, principalmente, retirada parcial ou total dos meniscos, nossos principais “amortecedores”, tem maior chance de desenvolver a artrose, mesmo que esta ocorra em apenas um ponto do joelho.

3. Mulheres têm maior chance de desenvolver artrose?

Sim. Devido a fatores anatômicos, onde a pelve mais larga faz um ângulo com o fêmur maior que no homem na vertical (em média, 17º na mulher e 14º no homem). Isso faz com que haja uma distribuição anormal de peso, com maior tendência a sobrecarga na região externa do joelho, principalmente na porção externa da patela. Alguns estudos mostram que mulheres atletas têm aproximadamente o dobro de propensão em comparação com os homens, e tratando-se de mulheres negras, essas têm o dobro de propensão à artrose no joelho em comparação a mulheres brancas.

4. O que se sente quando se desenvolve artrose de joelho?

Artrose no joelho — Foto: Istock Getty Images

A dor de caráter progressivo usualmente é o primeiro sintoma. Geralmente, acentua-se com a atividade física (degraus, subida e descida de escadas, esportes de contato e movimentos repetitivos) e é diretamente proporcional ao excesso de peso.

O joelho inchado (derrame articular) é o segundo sintoma e é muito frequente em pessoas que têm a doença e praticam esportes. Outro sintoma marcante é a perda progressiva do movimento e rigidez articular. Os efeitos da artrose no esporte vão desde queixas moderadas, como inchaço e dores leves após esporte, à incapacitação plena a atividades da vida diária.

5. Sou sedentário(a). Não praticar esportes protege meus joelhos?

Não. Com o passar dos anos, por motivos profissionais e familiares, muitas pessoas tornam-se menos ativas. Infelizmente, o sedentarismo leva à atrofia muscular, com perda da capacidade de absorção de energia cinética e redução da resposta neuromotora dos movimentos, com consequente sobrecarga articular e degeneração.

6. Pratico muito esporte. Isso acelera o desenvolvimento da artrose em meu joelho?

Esta é uma das questões mais intrigantes para a ciência, e a resposta é: depende! Sabe-se hoje que os exercícios aeróbicos, como corrida, ciclismo e natação, melhoram a saúde do coração e permitem que os músculos trabalhem de forma mais eficiente, protegendo os joelhos. A Sociedade Americana de Reumatologia recomenda 30 minutos por dia, cinco dias por semana - ou seja, 2,5 horas por semana. Espera-se melhora de sintomas após aproximadamente seis a oito semanas de exercícios regulares.

No entanto, pessoas que praticam esporte sem a preparação prévia, sem orientação e com volume e intensidade acima da capacidade fisiológica individual têm enorme risco de acelerar a degradação cartilaginosa, com consequente artrose precoce.

7. Quem pratica corrida de rua tem maior chance de desenvolver a doença em relação a outros esportes?

Recentemente, um estudo envolvendo 11 universidades francesas e realizado com corredores mostrou que quanto maior o volume do treino, maior a concentração sanguínea de produtos da degradação cartilaginosa, também chamados biomarcadores da cartilagem. Isso, segundo os autores, indicaria uma maior propensão à degradação cartilaginosa, e talvez uma maior chance do desenvolvimento da doença entre corredores.

Um outro estudo realizado na Baylor College of Medicine, do Texas, constatou, entretanto, menor incidência de artrite nos corredores, independentemente da idade, sexo e tempo no esporte.

Tudo isso leva a crer que uma boa preparação física, volumes de treino adequados e respeito ao “recovery” induziriam a uma resposta biológica de proteção articular.

8. A musculação protege meus joelhos contra o desenvolvimento da artrose?

Assim como qualquer atividade física, a resposta também é: depende!

O que tenho visto cada vez mais em meu consultório é que muitas pessoas que ingressam em academias, principalmente aquelas que começam a treinar sem orientação de um profissional de educação física, acabam desenvolvendo lesões por sobrecarga no joelho, muitas vezes graves.

Exercícios praticados fora da chamada angulação de proteção, com aumento da carga acima dos limites fisiológicos, podem sobrecarregar a cartilagem e acelerar seu processo degenerativo.

A musculação, no entanto, sendo bem prescrita e praticada respeitando a resposta anabólica individual, tem sido uma das melhores ferramentas para a proteção articular.

9. Tem como prevenir a artrose de joelho?

Sim. Alimentação saudável, prática regular de exercícios e controle do peso são, estatisticamente, peças fundamentais na prevenção. Avaliações periódicas com aplicação de testes funcionais e de equilíbrio muscular, como o teste isocinético, por exemplo, são, ao meu ver, de suma importância.

Também a criação de um canal de comunicação entre equipe de saúde e o profissional de educação física deve ser estabelecido para a prescrição do treino, respeitando a capacidade fisiológica individual.

10. Quem tem artrose no joelho deve parar de praticar esportes?

Felizmente, graças aos recentes avanços em medicina esportiva, a resposta tem sido cada vez mais: não!

Adequada reabilitação, associada ou não a intervenção médica com procedimentos como a infiltração do joelho com ácido hialurônico, parece ter efeito benéfico sobre a cartilagem. Pesquisas publicadas nos últimos cinco anos em revistas científicas médicas mostraram efeitos como a redução da ativação de células inflamatórias responsáveis pelo desencadeamento da cascata inflamatória que causa destruição articular da artrose, estímulo da produção do próprio ácido hialurônico (endógeno), com melhoria da viscosidade do liquido sinovial e ação direta e receptores de dor articular causando analgesia prolongada .

Para os casos mais avançados da doença, técnicas cirúrgicas como a osteotomia, artroscopia e, recentemente lançada no meio médico, a subcondroplastia tem tido excelentes resultados e, quando aliadas a uma boa reabilitação auxiliam em um retorno seguro ao esporte.

Pesquisadores desenvolvem tratamento para ajudar pacientes com artrose

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Referência:

* As informações e opiniões emitidas neste texto são de inteira responsabilidade do autor, não correspondendo, necessariamente, ao ponto de vista do ge / Eu Atleta.

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