TIMES

Por Rodrigo Coutinho — Rio de Janeiro


Maior vencedor da história do Brasileirão e atual bicampeão, o Palmeiras é um dos favoritos ao troféu mais uma vez. Entretanto, começa o torneio de 2024 com questões importantes indefinidas. A maior garantia é a continuidade do trabalho de Abel Ferreira, que completará quatro anos de clube em novembro e parece cada vez mais disposto a cumprir o contrato até dezembro de 2025.

Abel Ferreira comemora título paulista do Palmeiras — Foto: Marcos Ribolli

O último campeonato nacional é o melhor exemplo do quanto esse tempo do português no clube faz o ajuste do time ser mais rápido e certeiro. Em alguns momentos ao longo das últimas temporadas, o Verdão precisou de novas soluções. Mudanças de esquema tático, entrada e saída de jogadores, aproveitamento de peças em novas funções.

É por isso que as dúvidas citadas anteriormente não deixam uma grande preocupação. A primeira delas diz respeito ao rendimento do time. O Palmeiras não se desorganizou, mas teve uma queda de regularidade em alto nível. A quantidade de jogos convincentes e de imposição caiu na atual temporada. Retomar é fundamental para vencer um campeonato que premia a constância.

A breve irregularidade tem a ver com o funcionamento de determinados pontos coletivos da equipe. Fatores ofensivos e defensivos que passaram a oscilar mais. Parte disso se deve também à queda técnica recente de alguns dos pilares do time. Weverton, Gustavo Gómez, Piquerez e Raphael Veiga já viveram momentos mais produtivos, apesar de terem feito grande final de Paulistão.

Endrick beija a bola antes de pênalti na final entre Palmeiras e Santos — Foto: Marcos Ribolli

Outro ponto-chave passa por Endrick. O jovem iniciou a temporada com a seleção pré-olímpica e demorou a voltar ao time. Foi escalado em duas funções diferentes desde então. Segue decisivo, assim como foi na reta final do último Brasileirão, mas a variação em sua escalação pode ter ligação com o que Abel pensa para a equipe sem a presença dele.

Aliás, esse é um problema. O camisa 9 tem mais dois meses de clube, e não há um substituto a altura neste momento. Dudu, que tem características diferentes mas poderia liderar tecnicamente o setor ofensivo, recupera-se de grave lesão. Bruno Rodrigues, uma das contratações da temporada para o ataque, também se machucou com seriedade.

Sobrariam Rony – longe de seu melhor momento -, Breno Lopes e Flaco López, além dos garotos oriundos da base. Flaco, inclusive, vive grande fase em 2024. Aproveita-se daquilo que a equipe faz de melhor ofensivamente. É a peça de definição dos cruzamentos rápidos e precisos realizados dos dois lados.

O argentino fez vários de seus gols na temporada atacando a segunda trave, o espaço entre o zagueiro e o lateral do lado contrário em que o cruzamento se realiza. Além de López, há uma ocupação muito eficaz da área rival, seja em transições rápidas ou após trocas de passe mais duradouras.

Time-base do Palmeirs que deve iniciar o Brasileirão 2024 — Foto: Rodrigo Coutinho

A velocidade para circular a bola e criar mecanismos de jogadas combinadas pelos flancos, outra marca desta equipe, ganhou um reforço de peso. Aníbal Moreno mexe a pelota com qualidade e rapidez. Acrescenta passes precisos para que as tabelas sejam feitas. O modelo de ataque posicional segue, com cada jogador ocupando um setor específico em fase ofensiva.

A saída de três tem tido Marcos Rocha como um dos elementos na maioria dos jogos, mas também pode ser feita por três zagueiros de origem. Luan e Murilo vêm muito bem. Piquerez e Mayke têm sido os jogadores a gerarem amplitude ao time quase sempre, e Veiga e Endrick jogam mais próximos a Flaco López.

As maiores dificuldades de produção ofensiva ocorrem em dois cenários. O primeiro é quando o adversário consegue bloquear as combinações feitas pelo Palmeiras nos lados do campo. E também quando há uma pressão eficaz na saída palestrina. Geralmente a alternativa é o passe longo em profundidade, mas López não possui essa característica.

É necessário evoluir em superar ‘’pressões altas’’ rivais com mais aproximação e trocas de passe curto, apoios constantes desde o próprio campo. Defensivamente, o time segue levando poucos gols e apresentando problemas pontuais em determinados jogos, nada que se transforme em um padrão e chegue a preocupar de fato.

Sem Endrick, uma tendência pode ser mais liberdade a Zé Rafael e o meio encorpado com a presença de Richard Rios — Foto: Rodrigo Coutinho

O melhor cenário possível para o Palmeiras vem quando o adversário deixa espaços para suas rápidas e organizadas transições ofensivas. Weverton aciona rapidamente um dos lados do campo e o jogo vertical entra em cena. Os jogadores têm enraizados os conceitos de mudança de atitude entre defender e atacar. Muita gente se envolve nesta ação, e a área rival é atacada em poucos segundos.

Há o padrão de inverter o jogo de lado rapidamente ao roubar uma bola no próprio campo, tirá-la da zona pressionada e acelerar. Vários gols são construídos assim. Outra maneira frequente de balançar a rede é em bolas paradas aéreas. O repertório de jogadas em escanteios e faltas laterais é extenso, assim como a qualidade dos batedores e dos finalizadores.

Outra alternativa é o recuo de Piquerez para fazer a saída de três e a entrada de Vanderlan pela esquerda. Na final do Paulista o uruguaio atuou muito bem nesta função. Lázaro ou Caio Paulista também podem fazer a função mais adiantada pela esquerda — Foto: Rodrigo Coutinho

Assim como outros clubes que miram o título, o efeito Copa América pode atrapalhar bastante os planos do Palmeiras. Há pelo menos cinco jogadores com alta participação em campo com chances de disputar o torneio. O Brasileirão não vai parar. Pontuar o máximo possível e criar gordura nas primeiras rodadas será decisivo.

Veja também