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Por Rodrigo Coutinho — Rio de Janeiro


Há exatos dez anos o Criciúma era rebaixado da Série A do Brasileirão. Chegou a amargar a Série C nacional e a segunda divisão do estadual nas últimas temporadas, mas, num ressurgimento impressionante, promete surpreender em seu retorno à elite. Talvez menos pelo potencial de uma grande campanha e mais pela forma como joga.

Jogadores do Criciúma comemoram gol na final do Catarinense — Foto: Celso da Luz/ Assessoria de imprensa C.E.C

Poderia se esperar uma equipe mais defensiva, sem tanta elaboração de jogadas ofensivas, composta por atletas físicos e rápidos. O Tigre não é assim. Se vai assumir outro caráter ao longo do campeonato não se sabe. Mas chega ao Brasileirão como um time que cuida bem da bola, que se sente mais confortável com ela nos pés do que se defendendo.

Existem duas formas de encarar isso. A positiva, por valorizar jogadores de qualidade que possui em fase ofensiva. Por prezar a técnica de determinadas figuras do elenco e oferecer um tipo de jogo mais afeito ao gosto do torcedor. E a negativa. Talvez não haja material humano para competir em pé de igualdade e em um nível alto de exposição na Série A.

Claudio Tencati é o treinador e comanda o melhor projeto de futebol de Santa Catarina das últimas três temporadas. Aos 51 anos, ele terá a primeira oportunidade de trabalhar na Série A. E o melhor, ajudou a construir o caminho do Carvoeiro desde a Série C. O acesso à Série B em 2021 é o bonito pontapé inicial de uma trajetória que o treinador divide com alguns jogadores.

Cláudio Tencati conquistou mais um Catarinense pelo Criciúma — Foto: Celso da Luz/ Assessoria de imprensa C.E.C

Os goleiros Gustavo e Alisson, o zagueiro Rodrigo, o lateral/meia Claudinho, o meia Fellipe Mateus, e o atacante Eduardo Melo fizeram parte do elenco daquele acesso. Todos eles, exceto Eduardo, permaneceram no clube de forma ininterrupta. A continuidade estabeleceu interessante conexão com a arquibancada do Heriberto Hülse, que promete ser um fator a mais de força nos jogos em casa.

O lado direito é o mais forte da equipe. Rodrigo é um zagueiro firme protegendo a área, mas acrescenta boas participações com a bola. Encaixa passes em profundidade nas costas da defesa - quase sempre com Renato Kayzer como alvo -, inversões para Marcelo Hermes ou passes verticais para Claudinho, sempre bem aberto pela direita.

Claudinho pode jogar como lateral ou meia pela direita no losango que Tencati tem o hábito de escalar. De uma forma ou de outra, o comportamento dele não muda ofensivamente. Vai ficar aberto no setor, gerando amplitude e esperando uma forma de colocar a sua agressividade a serviço do time. Fez três gols e deu três assistências na temporada.

Time-base do Criciúma como Claudinho na lateral-direita — Foto: Rodrigo Coutinho

Quando Claudinho atua como meia, o experiente Jonathan assume a lateral-direita. É uma opção mais cautelosa e que deve ser utilizada mais vezes na Série A. Joga mais preso à linha defensiva, basicamente compondo uma ‘’saída de três’’ com os zagueiros. Marquinhos Gabriel e Fellipe Mateus, os jogadores mais criativos do time, procuram bastante o lado direito também.

Marquinhos e Fellipe deverão ser vistos ao mesmo tempo no time em partidas dentro de casa ou em situações de busca pelo resultado. Assim como elevam a qualidade da equipe com a bola, fazem a intensidade cair e contribuem pouco defensivamente para o exigido na Série A. Por isso, devem brigar pela vaga de peça mais adiantada do losango de meio.

Higor Meritão ganhou espaço na meia-esquerda e virou titular por justamente oferecer equilíbrio junto a Barreto, o primeiro volante. Tem boa técnica e consegue compor fisicamente o setor, algo de que a equipe necessita.

E aqui com Jonathan na lateral e Claudinho no meio-campo — Foto: Rodrigo Coutinho

Muitas vezes o Criciúma oferece espaços quando os adversários circulam rápido a bola de um lado a outro do campo. A flutuação da equipe pode ser mais rápida, assim como a ocupação do centro do campo ao defender com um losango. As transições defensivas também merecem atenção especial. Nem sempre há um ‘’perde, pressiona’’ tão competitivo, e os contra-ataques rivais acontecem.

A bola parada aérea defensiva precisa de ajustes. A equipe levou gols e sofreu em lances assim na campanha do titulo catarinense. Outro ponto negativo recorrente no Tigre é a oscilação de comportamento nos jogos. Dentro de uma mesma partida alterna níveis de intensidade e concentração além do normal, algo que pode ser fatal na Série A.

No ataque, a disputa promete ser boa pelas duas vagas que costumam ser ofertadas por Tencati. Éder é titular absoluto dentro do que consegue oferecer fisicamente. Reencontrou-se tecnicamente e se mexe bastante no ataque carvoeiro. Mas tem um limite de minutos por semana, e isso abre concorrência no setor.

Ocupação de espaços do Criciuma ao atacar. Claudinho abre o campo pela direita. Jonathan quase sempre alinhado aos zagueiros — Foto: Rodrigo Coutinho

Renato Kayzer tem sido titular com mais frequência do que Felipe Vizeu, que é o artilheiro da equipe em 2024, mas entrega menos mobilidade para um esquema com dupla de ataque. Kayzer tem oferecido bons movimentos de ataque à profundidade e aumentou a capacidade de contragolpe do time, algo que pode ser fundamental neste Brasileirão.

Ainda há a chegada do congolês Bolasie. Aos 34 anos, ele soma participações na Premier League por temporadas consecutivas. Uma das contratações mais inusitadas desta temporada.

A lateral-esquerda e o zagueiro que atuará ao lado de Rodrigo também têm disputas em aberto. Hoje, Marcelo Hermes é o titular da primeira vaga, mas convive com a sombra do peruano Trauco, que já jogou até Copa do Mundo. Na zaga, o venezuelano Wilker Ángel pulou na frente, mas o português Tobias Figueiredo, ex-Fortaleza, é o primeiro suplente do setor.

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