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Por Rodrigo Coutinho — Rio de Janeiro


O Botafogo é certamente uma das equipes que mais geram expectativas neste início de Brasileirão. E, por tudo o que aconteceu com o clube recentemente, elas são diversas. A começar por basicamente estrear o técnico português Artur Jorge em pleno Brasileirão. Ele herda uma boa transição comandada pelo interino Fábio Matias, que perdeu apenas um jogo em 40 dias de trabalho.

Tiquinho é a maior esperança de gols do Botafogo — Foto: Vitor Silva / Botafogo

O Glorioso conseguiu alcançar o principal objetivo do primeiro trimestre: garantiu a vaga na fase de grupos da Libertadores. Isso serviu para amenizar a sensação negativa de ter ficado mais uma vez fora das semifinais do Carioca. Se há algo de benéfico nisso, foi o tempo maior para treinar e a rotatividade do elenco em jogos de menor exigência da Taça Rio.

Chegou a parte mais complicada da temporada. Jogos sequenciais de nível alto e por competições diferentes. É o momento de retomar de vez a confiança da machucada torcida alvinegra. A relação com alguns jogadores ficou péssima desde o desmoronamento da equipe nos últimos meses de 2023. A boa notícia é que determinadas peças vêm se recuperando.

Marlon Freitas talvez seja o melhor exemplo. É desejado pelo Vasco, mas encaixou uma sequência de boas atuações novamente e tem sido titular com mais frequência do que Tchê Tchê na função de volante mais ofensivo. Marçal é outro que vem duelando por vaga com Hugo. O jovem lateral é, inclusive, o líder de assistências do time na temporada. Já o camisa 21 defende melhor.

Um provável time-base do Botafogo para iniciar o Brasileirão 2024 — Foto: Rodrigo Coutinho

As brigas por posição prometem esquentar o início de Brasileirão e evidenciam um elenco de bom nível. Rafael se recuperou de lesão grave e vai incomodar o uruguaio Damián Suárez, contratado para ser o titular da lateral direita. A disputa Gatito x John no gol é outro exemplo.

Danilo Barbosa e Gregore devem protagonizar ótima batalha pelo posto de primeiro volante do time. Kauê ganhou espaço com boas atuações, em briga que ainda tem Tchê Tchê e Patrick de Paula, este último voltando de lesão grave. Óscar Romero chegou para ser a sombra de Eduardo. Pablo e Lucas Halter certamente brigarão por um posto ao lado de Barboza.

O zagueiro argentino chegou com autoridade à defesa alvinegra e vem caindo nas graças da torcida. Muito firme, tem espirito de liderança, imposição nas bolas aéreas e coragem para sair jogando com sua perna esquerda. O maior destaque, no entanto, é o impressionante Júnior Santos. Artilheiro disparado e ferramenta que potencializa aquilo que o time faz de melhor.

Hoje ele é titular absoluto em um plantel que ainda tem Luiz Henrique, Jeffinho e Savarino para atuar como extremos. O jovem Yarlen vem pedindo passagem quando entra na equipe. Muito rápido e oportunista! Emerson Urso também fez boas apresentações.

Recuos de Tiquinho geram espaços de infiltração para os pontas e para Eduardo — Foto: Rodrigo Coutinho

O Botafogo vinha recuperado características dos áureos momentos do Brasileirão passado. A principal é a velocidade para definir os ataques. Seja em transição ou em fase ofensiva, o alvinegro é vertical, e Júnior Santos é um trator ao ser lançado em profundidade. Com a bola dominada, em progressão, também faz estragos ao partir da direita em direção à área.

O time não hesita em forçar a jogada em Júnior Santos quando há qualquer possibilidade de ganhar vantagem através da sua maneira de jogar. Tenta preparar movimentos que gerem tal condição. O recuo de Tiquinho para a intermediária, com o intuito de atrair a atenção da última linha defensiva adversária e liberar espaços para o camisa 11 atacar, é um dos exemplos.

Deixar os pontas sempre abertos para ‘’espaçar’’ zagueiros e laterais rivais, trabalhar constantemente e de forma ágil as inversões de lado, também são alternativas para ‘’verticalizar’’ o passe. Outra marca da equipe tem sido o volume de jogadores dentro da área rival para arrematar os cruzamentos diante de defesas mais recuadas. Neste cenário, os laterais ganham mais liberdade de avanço.

Artur Jorge conversa com Fábio Matias em treino do Botafogo — Foto: Vitor Silva/Botafogo

A imposição física da equipe aparece ainda nas bolas paradas aéreas ofensivas. Faz gols regularmente, quase sempre em batidas voltadas à segunda trave. Possui jogadores altos e bons nesta valência. As pressões pós-perda no campo de ataque também merecem menção pela intensidade adotada.

Nos aspectos defensivos, o Botafogo tem mais a evoluir do que na parte ofensiva. Foram diferentes os problemas apresentados até aqui. É verdade que eles se tornaram menos frequentes com Fábio Matias, sinal de que havia uma evolução em curso, mas certamente não estão sanados, principalmente diante de equipes mais qualificadas. Ficou nítido na estreia da Libertadores.

O principal desses problemas é a oscilação no combate ao adversário com a bola. Em vários momentos há pouca agressividade para pressioná-lo, e isso permite progressões com a bola dominada ou passes em profundidade. E aí a coordenação da última linha de defesa mostra-se longe do ideal, principalmente entre Halter e Suárez.

A flutuação das linhas para o lado da jogada quando há uma inversão também pode melhorar. Outro detalhe de melhoria urgente é a proteção das costas da defesa em cruzamentos na segunda trave. Os dois laterais têm contado com pouca ajuda dos pontas para dobrar a marcação em bolas aéreas.

Esse espaço entre Lucas Halter e Damián Suárez é constantemente explorado pelos adversários. É um pontos de falta de coordenação — Foto: Rodrigo Coutinho

As bolas paradas aéreas já causaram mais problemas, mas ainda são um ponto de atenção, sobretudo na proteção da primeira trave. Melhorar o trabalho defensivo potencializará muito os excelentes contragolpes puxados. O Glorioso não explora só a velocidade dos atacantes ou a inteligência de Tiquinho para se mexer e acertar passes em profundidade. Há padrões coletivos identificáveis!

Um deles é a rápida mudança de atitude de um número considerável de jogadores quando a bola é retomada. Outro é a inversão imediata do jogo. Se rouba de um lado, inverte para o outro. Tenta fazer o adversário correr ainda mais ao superar a primeira pressão. Requisitos que Artur Jorge precisa manter.

O português, ex-Braga, foi o escolhido para ser o treinador efetivo do clube após o período com Fábio Matias. Ele venceu uma Taça da Liga, e por dois anos terminou entre os quatro primeiros da liga nacional. Levou o Braga a uma fase de grupos da Champions League. Montou um time muito ofensivo, mas relativamente exposto defensivamente. A ver como desenvolverá o trabalho no Botafogo.

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