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Por Rodrigo Coutinho — Rio de Janeiro


Dono de um dos principais elencos do país, o Atlético Mineiro inicia o Brasileirão 2024 repaginado. Depois de fazer um campeonato de recuperação com Luiz Felipe Scolari no ano passado, o alvinegro demitiu o treinador em março. O desempenho do time, de fato, vinha deixando a desejar, e Gabriel Milito é a aposta para tirar o futebol pretendido do estrelado elenco do Galo.

O treinador argentino chega credenciado por um bom trabalho de três temporadas com o Argentinos Juniors. Não conquistou títulos com o modesto material humano que tinha para isso, mas incomodou equipes de maior expressão no futebol portenho e fez duas Libertadores muito competitivas.

Jogadores do Atlético-MG comemoram gol — Foto: Gilson Lobo/AGIF

Se com poucos ingredientes Milito montou um ''belo prato'', dá para esperar algo maior dele com nomes como Hulk, Paulinho, Zaracho, Scarpa e Guilherme Arana. Os primeiros jogos são animadores. Do mesmo jeito que é cedo demais para ver os conceitos bem assimilados e desenvolvidos pelos jogadores, afinal de contas são duas semanas de trabalho, os resultados têm oferecido tranquilidade.

O principal deles foi a conquista do pentacampeonato mineiro, de virada, diante do Cruzeiro. O time teve altos e baixos no jogo de ida, a estreia do treinador, mas mostrou sinais animadores na primeira etapa. E, a partir de ousadas mexidas de Milito, conseguiu transformar um cenário bem desfavorável em campo no último domingo.

Gabriel Milito, técnico do Atlético-MG — Foto: Pedro Souza / Atlético

A principal missão de Milito é fazer um time que explore melhor as características dos talentosos jogadores do clube. Mesmo nos melhores momentos com Felipão, isso não era considerado realidade. Um time que fique com a bola, que tenha o funcionamento ofensivo mais bem elaborado coletivamente, e menos refém de individualidades ou contra-ataques.

O novo comandante pauta seus trabalhos exatamente nisso. Por mais que tenha o costume de realizar mexidas de um jogo para o outro, geralmente monta uma equipe que trabalhe com três jogadores na primeira linha de construção. Esses atletas não precisam ser necessariamente zagueiros. Já utilizou laterais de origem nesta função.

Estimula que esses defensores, caso tenham liberdade, conduzam a bola até atrair a marcação de um adversário, e aí passem a bola ao companheiro mais próximo livre, e assim sucessivamente. Outras alternativas bastante utilizadas são os passes em profundidade - algo que deve ser explorado com Paulinho - e as bolas para uma referência ofensiva com mais potencial físico - caso de Hulk.

Possível time-base do Galo para iniciar a competição. Saravia fazendo a saída com os zagueiros e Gustavo Scarpa em amplitude pela direita. Sem a bola, o time se defende um 4-4-2 — Foto: Rodrigo Coutinho

A construção com aproximações e passes curtos é a preferência. Seria pouco surpreendente, por exemplo, se Saravia ganhar continuidade na equipe como um dos elementos do trio de zaga. Bruno Fuchs, defensor do elenco com mais qualidade nas saídas de bola, certamente ganhará protagonismo.

O mesmo se aplica a Guilherme Arana. Em poucos jogos já foi possível notar a total liberdade de avanço dada a ele. Sempre bem aberto pela esquerda, atacando a linha de fundo e tomando as boas decisões que costuma executar no campo rival. Alan Franco é outro jogador que deverá ser mais utilizado em relação ao que ocorria com Felipão.

O equatoriano consegue atuar como um dos volantes ou como um dos meias. A formatação do meio-campo varia com Milito. Em alguns casos, veremos Paulinho mais recuado em relação a Hulk, sendo integrante de um ‘’quadrado central’’ por trás do camisa 7. Em outros momentos, uma trinca de meio-campo por trás de uma dupla de ataque formada por Paulinho e Hulk.

Outra hipótese é ter Saravia na ala-direita e Mariano como zagueiro, mesmo sendo um jogador de baixa estatura. Paulinho nem sempre se alinhará com Hulk. Pode compor um quadrado de meio-campo — Foto: Rodrigo Coutinho

Essas adaptações são feitas de acordo com fragilidades e pontos fortes dos adversários. Os encaixes de marcação também são pensados a partir disso. Milito gosta de trabalhar defensivamente de maneira semelhante à de Cuca. Define alvos de marcação para seus jogadores, e eles precisam segui-los até o término de cada jogada, voltando ao setor de origem neste momento.

Não é exatamente uma marcação individual. Acontecem trocas de alvos de acordo com as jogadas e os momentos diferentes das partidas, mas não existe um foco tão extenso em proteger cada zona, algo que também era feito em menor escala com Felipão.

Ter Paulinho e Hulk próximos em campo é algo que parece já ter sido compreendido por Milito. Ele não escalou o camisa 10 como ponta em nenhum dos jogos que dirigiu. Ou Paulinho fez dupla com Hulk ou atuou por dentro, aproximando-se do artilheiro da equipe. Isso é determinante para o Atlético fazer bons jogos desde o ano passado. A sintonia entre eles segue muito fina.

Paulinho demorou um pouco a balançar as redes em 2024 e andou perdendo chances claras, mas gera muito volume ao time. Hulk tem quase uma participação direta em gol por jogo na temporada. É a dupla com maior poder de destruir defesas no Brasil atualmente.

Mais uma variação que o Galo pode ter — Foto: Rodrigo Coutinho

Há boa expectativa também sobre o rendimento de Gustavo Scarpa depois que pegar o ritmo de jogo esperado. Fez dois gols nos últimos dois jogos e ganhou moral com isso. Terá mais tranquilidade por um tempo para conquistar o seu espaço no time. A briga no meio-campo promete. Além dele, Igor Gomes, Zaracho, Alan Franco, Battaglia, Otávio, Edenilson e Pedrinho lutam por três vagas.

Campeão em 2021, 3º colocado em 2023, o Galo é um dos candidatos ao troféu do Brasileirão 2024 e pode alcançar isso do jeito que vem idealizando há pelo menos três temporadas.

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