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Por Rodrigo Coutinho — Rio de Janeiro/RJ

André Durão

Por mais que a liturgia do futebol impeça qualquer profissional do Flamengo de falar sobre o tema, o clube já pode ser considerado o campeão carioca de 2024. Três anos depois da última conquista estadual, o troféu da competição voltará às mãos de quem mais o obteve. Não há novidade nisso, principalmente pelo potencial de investimento do clube. Mas sim a forma como foi conquistado.

Quem acompanhou a equipe com atenção neste Estadual sabe que a naturalidade da construção dos 3x0 sobre o Nova Iguaçu, no primeiro jogo da final, pautou o desempenho rubro-negro em basicamente todas as partidas. Apenas no duelo contra o Vasco, com o time realizando os ajustes defensivos naturais a um início de temporada, houve oferta considerável de chances de gol ao rival.

O normal foi assistir a uma equipe que controla os adversários com a posse, que reage rapidamente às perdas de bola no campo de ataque e desarma novamente na maioria dos lances. O natural foi constatar a compactação entre os setores ao marcar a saída de bola oponente, ou ao recuar o bloco para o próprio campo.

O corriqueiro é ver a área tão bem protegida, que o Flamengo está a um jogo de confirmar a conquista com um dado surreal. Se somarmos todos os 14 duelos da campanha, a equipe sofreu menos finalizações na direção da meta em relação ao número de gols marcados: 26 x 23.

Flamengo no Estadual 2024

Adversário Gols Marcados Finalizações rivais na meta rubro-negra
Audax - 1ª Rodada 4 1
Nova Iguaçu - 2ª Rodada - Time Sub-23 1 2
Volta Redonda - 3ª Rodada 3 1
Portuguesa - 4ª Rodada - Time Sub-23 0 3
Sampaio Corrêa - 5ª Rodada 2 1
Vasco - 6ª Rodada 0 2
Botafogo - 7ª Rodada 1 1
Bangu - 8ª Rodada 3 1
Boavista - 9ª Rodada 4 2
Fluminense - 10ª Rodada 2 2
Madureira - 11ª Rodada 3 2
Fluminense - 1ª Semifinal 2 0
Fluminense - 2ª Semifinal 0 0
Nova Iguaçu - 1ª Final 3 5

O dado se explica por todo o contexto de organização defensiva implementado por Tite e sua comissão técnica, mas sobretudo por um aspecto que sempre marcou a carreira do treinador. Assim como a seleção brasileira entre 2016 e 2022, por exemplo, o Flamengo protege de forma baiscamente perfeita o ''funil''. O espaço entre a meia-lua e a marca do pênalti.

Grande parte das finalizações que terminam em gol são oriundas dali, e pouquíssima ocorrências desta natureza afetaram a defesa rubro-negra em 14 partidas. Ocupar o setor com ao menos dois zagueiros e um volante facilita a interceptação de passes e cruzamentos para esta zona e o bloqueio de finalizações.

Na pior das hipóteses, a presença dos defensores, atentos e intensos, força decisões erradas e precipitadas na hora de arrematar. O cabeceio por cima da meta, de Carlinhos, logo aos três minutos do jogo deste sábado, é um ótimo exemplo.

Fabrício Bruno e Rossi em Flamengo x Fluminense, pelo Campeonato Carioca — Foto: André Durão

O nível de pelo menos 70% dos jogos disputados no Carioca está abaixo daquilo que o Flamengo enfrentará nos principais desafios da temporada, mas o que se espera de uma equipe tão qualificada e cercada de altas expectativas é exatamente tamanha imposição.

Até mesmo em confrontos mais relaxados defensivamente, como foi a postura da equipe em momentos do jogo contra o Nova Iguaçu - não curiosamente o duelo em que o adversário mais finalizou na meta de Rossi -, há segurança para construir resultados expressivos.

Rossi nao será instransponível durante a temporada toda. Num ano que promete ter cerca de 70 jogos, é impossível não oscilar ou deixar de ter momentos ruins. O torcedor rubro-negro, no entanto, pode ter a certeza que o que foi orquestrado até aqui foge do senso comum, e tem chances de trazer grandes retornos.

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