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Por Tiago Lemos — Salvador


Na verdade, nós nem temos volante praticamente. São todos [camisas] oito no mínimo. Não tem um cinco. São [camisas] dez e oito que jogam juntos".
— Rogério Ceni, sobre meio-campistas do Bahia

O "jogo de números" na declaração de Rogério Ceni durante entrevista coletiva após a vitória sobre o Bragantino, no último domingo, pode confundir. Mas, para resumir, o treinador explicava que não conta com um meio-campo formado por jogadores com características defensivas. E, de fato, a vocação ofensiva tem feito a diferença nos jogos do vice-líder do Brasileirão. O ge, então, resolveu explicar as engrenagens.

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O ponto alto do sucesso do Bahia está no bom desempenho do quarteto do meio-campo formado por Caio Alexandre, Jean Lucas, Everton Ribeiro e Cauly. Comentaristas do Grupo Globo, Cabral Neto e Rodrigo Coutinho analisaram como funciona a equipe, que, na verdade, tem "seis meias".

- A equipe joga, praticamente, com seis meias que se complementam e que variam suas funções ao longo da partida. Everaldo é centroavante, mas é meia de recomposição pela direita e é segundo atacante na fase intermediária da construção. Thaciano é meia esquerda no início das jogadas, às vezes é volante e aparece bastante como segundo atacante de infiltração na área - destacou Cabral Neto.

Caio Alexandre, Cauly, Everton Ribeiro e Jean Lucas formam quarteto criativo do Bahia — Foto: Divulgação/EC Bahia

O comentarista Rodrigo Coutinho acrescentou que o Bahia usa um losango no meio-campo, na fase ofensiva, e conta com a dupla de ataque formada por Thaciano e Everaldo na marcação.

- Se a gente for pensar na estrutura do meio-campo, vejo ali quase sempre um losango quando o time tem a bola. Caio Alexandre um pouco mais atrás, Everton Ribeiro e Jean Lucas mais como meias, e o Cauly um pouco mais próximo daquilo que vira dupla de ataque, que são Everaldo e Thaciano. Sem a bola, o Everaldo e o Thaciano voltam pelos lados para marcar os laterais, mas quando o time tem a bola no campo de ataque, eles fazem basicamente uma dupla de ataque ali.

"Isso faz com que o jogo do time seja um jogo muito central, muito pautado no centro do campo mesmo, de troca de posição, de livre movimentação entre os jogadores".

Confira o posicionamento do Bahia na fase ofensiva:

Everton Ribeiro
Bahia

Everton Ribeiro

Santiago Arias
Bahia

Santiago Arias

Everaldo
Bahia

Everaldo

Marcos Felipe
Bahia

Marcos Felipe

Thaciano
Bahia

Thaciano

Kanu
Bahia

Kanu

Jean Lucas
Bahia

Jean Lucas

Gabriel Xavier
Bahia

Gabriel Xavier

Caio Alexandre
Bahia

Caio Alexandre

Luciano Juba
Bahia

Luciano Juba

Cauly
Bahia

Cauly

De acordo com Cabral Neto, Rogério Ceni conseguiu unir uma ótima ideia de jogo a jogadores talentosos. Na visão dele, o Tricolor "funciona com brilho e sem perda de competitividade".

- Caio Alexandre “finge” ser o primeiro volante, que vira o terceiro homem na saída de bola, mas aparece como segundo homem de meio na fase final do ataque. Jean Lucas é o motor desse setor, é o cara que empurra o time pra frente e puxa pra trás, ocupa espaços pra criar linha de passe ou pra interceptar jogadas do adversário e ainda chega ao ataque pra apoiar a jogada ou para disputar o rebote.

"Cauly e Everton Ribeiro são os intelectuais da turma, destravam o jogo, fazem o inesperado acontecer, são geradores contínuos de soluções ofensivas".

Onze inicial do Bahia já foi repetido quatro vezes nos últimos jogos — Foto: Letícia Martins / EC Bahia

Organização compensa vocação ofensiva

Cabral Neto avalia que a "dedicação com e sem a bola" e a "intensa movimentação dos atletas" são aspectos fundamentais do Tricolor.

- Se apresentam para o jogo o tempo inteiro, mudam seu posicionamento em momentos estratégicos e se aproximam para gerar conteúdo na criação.

Rogério Ceni conversa com trio de meio-campo Jean Lucas, Caio Alexandre e Everton Ribeiro — Foto: Tiago Caldas/EC Bahia

Diante de tanta qualidade no meio-campo, foi questionada a capacidade do Bahia conseguir sobreviver defensivamente. Cabral acredita que um time que tem força na marcação "não precisa, necessariamente, ter um meio-campo com jogadores prioritariamente de pegada".

A compensação para apostar apenas em atletas de qualidade técnica vem da organização coletiva e da dedicação individual".
— Cabral Neto

Bahia na fase defensiva:

Everton Ribeiro
Bahia

Everton Ribeiro

Santiago Arias
Bahia

Santiago Arias

Everaldo
Bahia

Everaldo

Marcos Felipe
Bahia

Marcos Felipe

Thaciano
Bahia

Thaciano

Kanu
Bahia

Kanu

Jean Lucas
Bahia

Jean Lucas

Gabriel Xavier
Bahia

Gabriel Xavier

Caio Alexandre
Bahia

Caio Alexandre

Luciano Juba
Bahia

Luciano Juba

Cauly
Bahia

Cauly

Jogadores que se complementam

Rodrigo Coutinho também destacou a versatilidade e movimentações em campo de Jean Lucas como outro ponto interessante deste Bahia.

- Por exemplo, nesse jogo contra o Bragantino, como o Bragantino marca muito a saída de bola adversária, ele [Jean Lucas] muitas vezes era o cara que atacava os espaços nas costas da linha de defesa. Alguém fazia a ligação direta para o Everaldo, que aparava a bola, que batia no pé do Cauly, do Everton Ribeiro. Em um segundo momento eles tentavam achar o Jean Lucas em profundidade, correndo nas costas dos zagueiros. Em outros momentos é um cara que vai abrir mais para o lado esquerdo, dar mais amplitude quando é necessário fazer isso, diante de equipes que marcam mais atrás - explicou Coutinho.

A junção de Jean e todas as suas valências físicas com Caio Alexandre, Everton Ribeiro e Cauly, que têm por principais características a retenção da bola, formam um meio-campo muito forte e completo, de acordo com o comentarista.

São quatro jogadores que meio que se completam. Mesmo tendo três deles características mais próximas, retenção de bola e articulação, até eles têm algumas diferenças. Cauly é mais finalizador que o Everton Ribeiro. Everton é mais cerebral que o Cauly, dita mais e controla o ritmo, velocidade do jogo. Caio Alexandre consegue aliar capacidade física e técnica, Jean Lucas já é mais físico".

Sistema de jogo para Cauly

Entre os quatro jogadores de alto nível técnico do Bahia, Cauly já foi exaltado pelo técnico Rogério Ceni como atleta que não tem substituto. O camisa 8 tem função mais avançada no Tricolor, sobra como camisa nove na fase defensiva e vira armador central quando o time está no campo de ataque.

- Todas as ideias que estão em campo são minhas. Eu que crio o sistema de jogo a partir dos jogadores que tenho. O Everaldo não joga de ponta. Ele joga como segundo atacante voltando para marcar. Eu tento privilegiar o Cauly. Construí esse sistema de jogo para ele. Sempre espero uma grande jogada, então tento deixar ele mais centralizado - detalhou Ceni.

"Cauly joga nessa função porque ele é diferente. Quando eu tiro ele, tenho que trazer novas ideias".

Cauly durante treino do Bahia — Foto: Tiago Caldas/EC Bahia

Cauly explica que não faz função diferente do que executava na temporada. O camisa 8 conta que a única novidade é seu posicionamento como camisa 9 na fase defensiva.

- Acho que pra mim é uma posição assim que eu sempre joguei, né?! Muitos acham que estou, talvez, mais na frente, mas, na verdade, é só na parte defensiva que eu pressiono, fico ali marcando mais como um nove, mas com a bola eu faço o papel que eu sempre fiz. E o Rogério me dá bastante liberdade para mexer, pedir a bola e é isso que vem dando confiança, né?! Ele espera sempre criatividade da gente no meio, por isso que ele escolheu esse sistema, e eu acho que está dando certo - explicou o meia.

Em números, Cauly tem cinco gols marcados em 2024 e é vice-líder da equipe em assistências, com cinco no total. Foi do camisa 8 o passe para o gol de Thaciano, na vitória sobre o Bragantino. Ele também foi decisivo e balançou a rede no triunfo tricolor sobre o Fluminense [assista no vídeo abaixo].

Aos 15 min do 2º tempo - gol de dentro da área de Cauly do Bahia contra o Fluminense

Aos 15 min do 2º tempo - gol de dentro da área de Cauly do Bahia contra o Fluminense

Cauly de camisa 9, Everton, Jean Lucas e Caio Alexandre de 8... Seja qual for o número na camisa ou função em campo, o Bahia comandado por Rogério Ceni vai bem neste início de Brasileiro. Mas ainda há muito a se fazer.

Após o adiamento de duas rodadas do Brasileirão em virtude das enchentes no Rio Grande do Sul, o Bahia volta a campo na próxima quinta-feira, contra o Criciúma, no jogo de volta da terceira fase da Copa do Brasil.

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