Por Sofia Mayer e Luana Amorim, g1 SC e NSC


Empresário e advogado de Florianópolis é preso em São Paulo

Empresário e advogado de Florianópolis é preso em São Paulo

A jovem do Oeste catarinense que teria sido dopada e estuprada por um empresário e advogado de 48 anos, morador de Jurerê, em Florianópolis, contou que desenvolveu depressão e que precisou se mudar da cidade após o crime, em 2019.

A vítima, que não quer ser identificada, tinha 20 anos na época. André Luis Galle Dal Pra, suspeito de cometer o abuso, está preso desde junho deste ano.

Ao g1 SC, em 24 de junho, o advogado Osvaldo Dunke, que faz a defesa do empresário, disse que o caso está em segredo de justiça e, por isso, não vai comentar sobre o processo. "Informamos que, por respeito ao Judiciário, apenas nos manifestaremos nos autos, mas que em breve ficará comprovado que os fatos narrados são inverídicos e que será demonstrada a inocência do acusado", declarou.

À reportagem, a mulher contou que conheceu o homem em um aplicativo de relacionamento, quando ela ainda morava em Florianópolis. Após dias de conversa, André teria a convidado para jantar na casa dele. Como os dois estavam se conhecendo, aceitou o convite.

"Ele falou que ia cozinhar. Cheguei na casa dele e começamos a tomar um vinho, enquanto ele cozinhava. Foi nesse período, durante a conversa, que eu comecei a sentir algumas coisas estranhas. Eu olhei a taça e percebi como se fosse algumas sujeirinhas, mas na minha cabeça, nunca imaginei que fosse outra coisa", relata.

Após tomar a bebida, ela conta que começou a sentir calor, tontura e a boca seca. A última coisa que lembra daquela noite é de sentar na mesa, iniciar o jantar e continuar a conversa com o homem.

"Eu comecei a sentir essas sensações, pedi água. Me senti mal, estranha, nunca na minha vida usei qualquer tipo de droga, não sei qual a sensação. Eu fiquei bem perturbada. O que eu lembro é de iniciarmos o jantar e, em determinado momento, as coisas começam a ficar bagunçadas. Eu não lembro sequer se eu terminei o jantar", afirma.

'Meu mundo caiu'

A vítima relata que lembra de acordar no quarto do homem por volta das 6h do dia seguinte, sem saber o que tinha acontecido. Em desespero, ela questionou o empresário sobre a noite anterior.

"Ele olhou para mim e disse que tínhamos aproveitado a noite, que eu tinha levado drogas, tinha insistido. Quando ele falou isso, eu fiquei mais desesperada e pensei: 'O que esse cara fez?'. Nunca tive contato com droga. Quando ele falou isso, meu mundo caiu", desabafa.

A jovem diz que, então, levantou e começou a recolher suas coisas para ir embora. No caminho, o suspeito teria enviado vídeos que mostravam o rosto dela em um ato sexual.

"Eu fiquei ainda mais desesperada, porque eu não imaginava, não tinha noção do que estava acontecendo. Eu precisava chegar em casa, precisava ir para o hospital", complementa.

A mulher foi até uma unidade saúde e, no mesmo dia, registrou um boletim de ocorrência sobre o caso, que foi investigado pela Polícia Civil. Dal Pra é suspeito de praticar crimes de estupro de vulnerável (já que a vítima estava dopada), além de registrar e compartilhar imagens do ato sexual sem o consentimento da jovem.

Homem foi preso em São Paulo pela Polícia Civil — Foto: Polícia Civil/ Divulgação

Segundo o Ministério Público de Santa Catarina (MPSC), ele teria colocado um comprimido de MDA em uma taça de vinho e servido à vítima. Depois, a estuprou e divulgou imagens da prática sexual.

Por conta do abuso, a jovem desenvolveu depressão e ansiedade. Ela também precisou mudar de cidade devido aos julgamentos por conta do ocorrido.

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"É um trauma que você não consegue esquecer. Durante um período, não conseguia ter relação com ninguém. Fiquei durante um tempo assim, mas a dor que eu sentia diminuía, mas as lembranças... Para mim não é muito fácil ter que relembrar isso, sem saber se vai ter justiça ou não", comenta.

O caso segue em segredo de justiça. De acordo com a advogada da vítima, Bruna dos Anjos, a previsão é de que as audiências de instrução e julgamento sejam retomadas em 1º de setembro.

O trauma

Durante dias a jovem teve que fazer uso de medicamentos recomendados para vítimas de estupro. "Toda a vez que eu tomava aquele medicamento, eu lembrava de tudo. É um trauma que você não consegue esquecer", diz.

Dal Pra foi preso preventivamente em 23 de junho, em um hotel em São Paulo. O pedido de prisão foi feito pelo MPSC porque havia a suspeita de que ele estaria tentando coagir uma das testemunhas a confirmar a versão dele dos fatos.

"Como se observa da análise das conversas extraídas e documentadas em ata notarial, o réu se julga 'acima do bem e do mal', ignorando a ação da Justiça buscando 'manipular' e coagir testemunhas, ao indicar o que poderia ser perguntado durante a instrução criminal, objetivando, obviamente, montar uma estratégia de defesa, visando alterar a verdade sobre os fatos", disse o promotor Affonso Ghizzo Neto nos autos do processo.

Denúncia

De acordo com o MPSC, os crimes ocorreram em 14 de novembro de 2019, entre 22h30 e às 6h do dia seguinte, em Jurerê. Além de dopar e estuprar a vítima, o empresário filmou e fotografou os atos sexuais ilegais com um celular.

Para atrair a mulher, segundo a denúncia, ele a convidou para um jantar na casa dele e ofereceu uma taça de vinho a ela com a droga. Após beber, a vítima sentiu um mal-estar, calor, boca seca e desorientação. Ela também não se lembra do que aconteceu depois, apenas em flashes.

Ainda conforme a denúncia, o estupro, a droga colocada na bebida dada à vítima e a filmagem foram comprovados em laudos periciais.

Ao acatar pedido de prisão do MPSC, o juiz Rafael Brünning disse que identificou, ainda, boletins de ocorrência que relatam episódios de perseguição e ameaça do empresário à ex-esposa. Ele também teria ameaçado por meios virtuais, inclusive de morte, a babá das filhas do ex-casal e o atual namorado da ex-companheira.

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