Feminicídios aumentam 33% em janeiro, no RJ
O número de mulheres vítimas de feminicídio no Estado do Rio de Janeiro aumentou 33% no mês de janeiro deste ano, na comparação com janeiro de 2023.
No primeiro mês de 2024, 12 mulheres foram vítimas do crime. Em janeiro do ano passado, foram 9 vítimas. Os dados são do Instituto de Segurança Pública, do governo do RJ.
O total de casos registrado em janeiro de 2024 também já é o maior da série histórica desde 2019, comparando apenas os meses de janeiro de cada ano.
A lei 13.104, de 9 de março de 2015, incluiu o feminicídio como qualificador do crime de homicídio e no rol dos crimes hediondos.
"Feminicídio:
VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino:
§ 2º -A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve:
I - violência doméstica e familiar;
II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher."
Feminicídios no Rio de Janeiro - Janeiro
- 2019: 5 vítimas
- 2020: 6 vítimas
- 2021: 9 vítimas
- 2022: 11 vítimas
- 2023: 9 vítimas
- 2024: 12 vítimas
O número de tentativas de feminicídio em janeiro deste ano no estado também é maior que o total de casos registrados desse tipo de crime no mesmo mês de 2023.
Foram 35 vítimas deste crime em 2024, e no ano passado, em janeiro, 23. O aumento, nestes casos, foi de 53%.
Tentativas de feminicídio no Rio de Janeiro - Janeiro
- 2019: 38 casos
- 2020: 29 casos
- 2021: 24 casos
- 2022: 29 casos
- 2023: 29 casos
- 2024: 35 casos
“A violência de gênero está fortemente enraizada na percepção que a gente tem sobre as relações de gênero, familiares, domiciliares. A gente precisa de campanhas educacionais e da mudança dessa percepção das relações de gênero e a prevenção precisa estar nestas campanhas. Se algo acontecer, precisamos ter certeza de que essa vítima vai ser protegida, acolhida e vai denunciar, porque ela tem segurança no serviço público, na justiça criminal”, disse a professora da Universidade Federal de Juiz de Fora Laura Schiavon, especialista em avaliação de políticas de redução da violência contra a mulher.
Casos recentes
Homem atropela a ex duas vezes no Rio e é procurado por tentativa de feminicídio; VÍDEO
No dia 8 de janeiro, Mariana dos Santos Baptista da Silva, de 20 anos, foi morta com golpes de faca em Campo Grande, na Zona Oeste do Rio. O principal suspeito é o namorado dela, preso em flagrante por feminicídio depois de ter sido achado ferido e levado em estado grave para um hospital.
No dia 19 do mesmo mês, Marcele Pereira da Silva foi assassinada a facadas na Comunidade Agrícola, no Alto da Boa Vista, na Zona Norte do Rio. A família acusa o ex-marido da vítima, que, segundo parentes, já a ameaçava e a agredia. Marcele deixou uma filha de 7 e outra de 21 anos.
Letícia Barbosa Leite da Silva, de 29 anos, foi encontrada morta no dia 26 de janeiro, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Parentes contaram à polícia que Letícia estava enterrada no quintal da casa do ex-marido, principal suspeito pela morte.
Ele não é visto desde o dia 16 de janeiro, quando Letícia desapareceu. Ela tinha saído para trabalhar e não chegou ao serviço naquele dia. Parentes também contaram que ele já havia feito ameaças a Letícia quando soube que ela estava em um novo relacionamento.
No dia 7 de fevereiro, uma mulher foi atropelada duas vezes pelo ex-companheiro em Curicica, na Zona Oeste do Rio. Um vídeo mostra quando o suspeito atropela a ex duas vezes. Ela sobreviveu.
No dia 21 de fevereiro, uma mulher de 36 anos foi assassinada a facadas em Angra dos Reis, no Sul Fluminense. O suspeito é o companheiro, de 50 anos, preso em flagrante. O crime aconteceu no banheiro da casa em que o casal morava.
A vítima foi ferida no pescoço e na mão e não resistiu. O filho do suspeito, de 18 anos, disse à polícia que a madrasta havia voltado de uma aula de zumba e que o pai estava em casa, e, após começarem a discutir, o pai teria cometido o crime.
No dia 25 de fevereiro, Ana Luana de Souza Carvalho, de 33 anos, foi morta em casa, a facadas. Segundo a Polícia Civil, o suspeito é o ex-companheiro. O crime aconteceu em Saquarema, na Região dos Lagos do Rio.
O marido teria se jogado da janela do terceiro andar após esfaquear a vítima, segundo familiares. Ele também morreu. Os dois estavam separados, segundo a polícia, mas moravam na mesma casa. Os dois teriam discutido durante a madrugada.
Ciclo da violência
Segundo especialistas, na maioria das vezes, o autor do crime é o próprio companheiro ou ex-companheiro das vítimas. Os sinais de alerta, segundo especialistas, podem ser identificados no ciclo da violência, que precisa ser rompido.
Tudo começa com o aumento da tensão, momento em que o agressor se mostra mais tenso e irritado por qualquer coisa, humilha e faz ameaças à vítima, além de destruir objetos.
Depois da tensão, que pode durar dias ou anos, vem a fase do ato da violência, que é o mesmo que a explosão do agressor, que comete violência verbal, física, psicológica, moral e/ou patrimonial.
O último ato do ciclo é o arrependimento do agressor, que passa ser mais amável e dizer que ‘vai mudar’. Se não rompido o ciclo, a violência pode chegar ao feminicídio.
“Eu sou fruto da violência. Eu vivi violência doméstica toda a minha juventude. Até os meus 16 anos, não soube o que foi viver sem apanhar. Culpada? Muitas vezes sim. Quando você é abusada. Violência doméstica também é abuso, né”, comentou uma vítima atendida pelo Projeto Menina-Moça, Mulher.
O projeto funciona na Lapa, no Centro do Rio de Janeiro, e promove acolhimento às mulheres em situação de vulnerabilidade, o que inclui as vítimas de violência doméstica.
O projeto Menina-Moça, Mulher foi desenvolvido pelo Instituto Carlos Chagas. As mulheres recebem atendimento médico clínico, ginecológico e psicológico, podem retirar documentos, participam de cursos de capacitação profissional e de suporte emocional.