Por Guilherme Mazui, g1 — Brasília


Lula e Haddad conversam durante evento de lançamento do Plano Safra para agricultura familiar. — Foto: Reprodução/TV Globo

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse nesta quarta-feira (3) que "responsabilidade fiscal é compromisso" e que o governo "não joga dinheiro fora". A declaração, dada durante o anúncio do Plano Safra da agricultura familiar, vai na contramão de outras falas de Lula, que tem resistido a cortar gastos e chegou a dizer que é necessário avaliar "se a saída é o corte de gastos ou um aumento na arrecadação".

Nos últimos dias, o mercado financeiro tem passado por turbulência devido às declarações do presidente, que incluíram críticas ao Banco Central, e também à alta do dólar (leia mais abaixo). Nesta quarta, o dólar operava em queda de 2% até por volta de 14h40, após reunião de Lula e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (leia mais abaixo).

"Aqui, nesse governo, a gente aplica o dinheiro que é necessário. A gente gasta com educação e saúde, naquilo que é necessário. Mas a gente não joga dinheiro fora. Responsabilidade fiscal não é uma palavra, é um compromisso desse governo desde 2003. E a gente manterá ele à risca", disse Lula.

Antes de o evento começar, Lula foi questionado sobre o dólar e respondeu que falaria sobre "arroz e feijão" (veja vídeo abaixo). Nesta tarde, ele deve lançar a segunda parte do Plano Safra, voltada ao agronegócio e aos grandes produtores.

Lula diz que vai falar sobre 'arroz e feijão' ao ser questionado sobre dólar.

Lula diz que vai falar sobre 'arroz e feijão' ao ser questionado sobre dólar.

Haddad questionado sobre dólar

O ministro Haddad, que também participou do evento, foi questionado por jornalistas na saída sobre possíveis intervenções para valorizar o real em relação ao dólar.

"O câmbio vai acomodar. [Com] Tudo que nós estamos fazendo e entregando, e os compromissos do presidente", disse.

Questionado sobre eventuais medidas que o governo poderia anunciar para tranquilizar o mercado, Haddad evitou detalhar propostas. Ele disse apenas que a responsabilidade fiscal é um "compromisso de vida" de Lula.

LEIA MAIS

Pauta econômica

Mais cedo, Lula participou de uma reunião ordinária do Conselho da Federação, órgão criado para reunir governo federal, governadores e representantes de entidades municipalistas.

Em um tom parecido com o da declaração desta tarde, o presidente falou sobre a responsabilidade nos gastos do governo.

"Toda vez que a gente apresentar uma proposta de política de maior benefício no município, é importante que a gente apresente com que dinheiro vai ser financiada essa questão", afirmou.

Reunião com Haddad

No início da manhã, o presidente se reuniu com o ministro Fernando Haddad, fora da agenda oficial. Segundo assessores, o encontro foi para discutir a questão fiscal do país.

Era esperado que os dois conversassem também, entre outras coisas, sobre a alta do dólar e sobre as críticas feitas por Lula ao Banco Central e ao presidente da instituição, Roberto Campos Neto.

Após a reunião entre Lula e o ministro da Fazenda, o dólar caiu mais de 2%. A moeda americana vive semanas de disparada e, nesta terça (2), encerrou o dia cotada a R$ 5,66, depois de bater R$ 5,70 durante a tarde.

Uma nova reunião de Lula com a equipe econômica deve ocorrer no Palácio do Planalto às 16h30. Além de Haddad, foram chamados os ministros Rui Costa (Casa Civil), Simone Tebet (Planejamento e Orçamento), Esther Dweck (Gestão e Inovação).

Responsabilidade fiscal e taxa de juros

Um dos pontos centrais da responsabilidade fiscal é o equilíbrio entre a arrecadação e os gastos públicos.

A situação das contas públicas é algo que é acompanhado Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, responsável por definir a taxa básica de juros, a Selic.

Lula tem resistido ao corte de gastos. Em entrevista nesta semana, o presidente chegou a dizer que é necessário avaliar "se a saída é o corte de gastos ou um aumento na arrecadação".

Lula reclama de decisão do Banco Central sobre taxa de juros

Lula reclama de decisão do Banco Central sobre taxa de juros

Críticas ao BC

Ao longo dos últimos dias, o presidente concedeu entrevistas e deu declarações em eventos públicos em que criticou o Banco Central e o presidente da instituição, Roberto Campos Neto.

Nesta segunda (1º), por exemplo, Lula afirmou que, quando for escolher o novo presidente do BC, buscará alguém que "olhe para o país do jeito que ele é", e não "do jeito que o sistema financeiro fala".

O argumento do presidente é que o BC está mantendo a Selic (taxa básica de juros) em patamares altos — atualmente 10,5% ao ano — sem necessidade. Segundo ele, isso prejudica o crescimento do país, uma vez que fica mais caro captar dinheiro no sistema financeiro.

Por outro lado, o BC diz que o governo não cumpre a contento sua função de controlar os gastos públicos, o que faz persistir o risco de inflação e torna necessário manter juros mais altos.

Desde 2021, o Banco Central tem autonomia. Isso significa que Lula não pode tirar Campos Neto do cargo. O mandato do atual presidente do BC, indicado no governo Jair Bolsonaro, termina em dezembro. Lula poderá indicar o próximo.

Veja também

Mais lidas

Mais do G1
Deseja receber as notícias mais importantes em tempo real? Ative as notificações do G1!