Por Guilherme Mazui, Bruna Miato, Gustavo Garcia, Mariana Laboissière, g1 — Brasília e São Paulo


'Só temos uma coisa desajustada no Brasil: é o comportamento do Banco Central', diz Lula

'Só temos uma coisa desajustada no Brasil: é o comportamento do Banco Central', diz Lula

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta terça-feira (18) que o comportamento do Banco Central do Brasil, que define a taxa básica de juros da economia brasileira, a Selic, é a única "coisa desajustada" que existe no país neste momento.

Em entrevista à Rádio CBN, Lula voltou a criticar o presidente da instituição, Roberto Campos Neto. Para o petista, o presidente do BC tem "lado político" e "trabalha para prejudicar o país".

"Nós só temos uma coisa desajustada no Brasil neste instante: é o comportamento do Banco Central. Essa é uma coisa desajustada. Um presidente do Banco Central que não demonstra nenhuma capacidade de autonomia, que tem lado político e que, na minha opinião, trabalha muito mais para prejudicar o país do que para ajudar o país. Não tem explicação a taxa de juros do jeito que está", declarou Lula.

"Temos uma situação que não necessita essa taxa de juros. O Brasil não pode continuar com taxa de juros proibitiva de investimento no setor produtivo. É preciso baixar a taxa de juros compatível com a inflação. Inflação está totalmente controlada. Fica se inventando discurso de inflação do futuro, que vai acontecer. Vamos trabalhar em cima do real", completou o presidente.

Sucessão de Campos Neto

Ainda em relação a Campos Neto, Lula disse que o presidente do BC, cujo mandato termina neste ano, tem pretensões políticas.

"A quem esse rapaz é submetido? Como vai a festa em São Paulo quase assumindo candidatura a cargo no governo de SP? Cadê a autonomia dele?", indagou.

Sobre o sucessor de Campos Neto, Lula disse que indicará para a presidência do Banco Central uma pessoa que tenha "compromisso com o crescimento do país".

Ao criticar Campos Neto, Lula afirmou acreditar que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, tem influência sobre o presidente do BC. E citou evento do qual Campos Neto participou em São Paulo recentemente.

"A festa foi do Tarcisio pra ele [Campos Neto]. Homenagem do governo de São Paulo para ele, certamente porque governador de SP acha maravilhoso taxa de juros de 10,5%. Quando ele se 'autolança' a um cargo. Vamos repetir o Moro? Presidente do BC está disposto a fazer o mesmo papel que Moro fez? Paladino da justiça com rabo preso", disse.

Essa não é a primeira vez que Lula critica abertamente Campos Neto. As reclamações contra o presidente do BC começaram logo no início do terceiro mandato de Lula, que nunca concordou com o patamar elevado das taxas de juros no Brasil.

Vale lembrar que o mandato de Campos Neto acaba em 2024 e que, desde 2021, a legislação brasileira determina a autonomia do BC, que deve tomar suas decisões sem interferência política.

A legislação determina que o presidente e os diretores do BC terão mandatos de 4 anos não coincidentes com a presidência da República - um novo presidente assume o BC, então, no terceiro ano de mandato de cada presidente da República.

Cabe ao presidente da república indicar nomes para o comando do BC, mas estes só serão aprovados com aval do Senado Federal.

Gleisi aciona Justiça contra Campos Neto

Nesta segunda-feira (17), a presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PR), apresentou um ação popular na Justiça Federal do DF, na qual pede que o Poder Judiciário obrigue Campos Neto a não se manifestar politicamente em eventos públicos.

Ela apresentou a ação após Campos Neto ser homenageado na Assembleia Legislativa de São Paulo, na semana passada. Na ocasião, o presidente do BC defendeu o Estado mínimo e ações em prol da previsibilidade para agentes do mercado financeiro.

Taxa Selic deve continuar elevada

O presidente Lula já disse diversas vezes que não há razão para que a taxa Selic continue alta e afirmou que esperava que Campos Neto fosse mais "rápido" e "prudente" no ciclo de cortes.

Atualmente, a taxa Selic está em 10,50% ao ano e a expectativa do mercado financeiro é que os juros sejam mantidos neste patamar na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, prevista para esta quarta-feira (19).

Nesta segunda-feira (17), inclusive, o Boletim Focus — relatório do BC que reúne as expectativas de economistas do mercado para indicadores econômicos — mostrou pela primeira vez que os especialistas não projetam mais nenhum corte para a taxa Selic em neste ano.

Até então, as instituições financeiras projetavam uma redução de 0,25 ponto percentual (p.p.) no juro básico, para 10,25% ao ano — estimativa que foi abandonada. Vale lembrar que, no começo do ano, o mercado acreditava que a taxa Selic encerraria 2024 a 9% ao ano.

No Focus dessa semana, os economistas também passaram a prever uma inflação maior para 2024, a 3,96% no fim do ano. Até semana passada, as projeções eram de uma inflação de 3,90%. O mesmo vale para as estimativas para a taxa de câmbio: economistas acreditam que o dólar vai fechar o ano a R$ 5,13, contra R$ 5,05 na última semana.

Vale destacar que esses fatores se relacionam. Um dólar mais caro pressiona a inflação brasileira, já que a nossa economia importa muitos produtos. Com preços maiores, o BC não consegue continuar reduzindo as taxas de juros.

Juros elevados por muito tempo, porém, são prejudiciais para o crescimento econômico. Isso porque, com taxas altas, o custo para financiamentos, tomada de crédito e empréstimos fica mais caro tanto para empresas, quanto para a população, o que reduz os níveis de consumo e investimentos no país.

Redução de gastos

Na entrevista, Lula foi questionado sobre corte de gastos do governo. Ele afirmou que o governo prepara uma proposta de Orçamento para encaminhar ao Congresso, mas não deu detalhes sobre redução de despesas.

Perguntado sobre gastos com previdência, despesas com saúde e educação e aposentadoria de militares, Lula disse que nenhuma medida de contenção de gastos "é descartável".

""Não, nada é descartável. Eu sou um político muito pragmático. Na hora que as pessoas me mostrarem as provas contundentes de que coisas estão equivocadas ou estão erradas, a gente vai mudar", declarou.

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