Por Thauany Melo, Gabriela Macêdo, g1 Goiás


Grazielly da Silva Barbosa e a receita dada por clínica em que ela atuava, em Goiânia — Foto: Reprodução/Globo

A médica Eny Aires se revoltou ao descobrir que o registro dela foi colocado em um carimbo usado em uma receita da clínica em Goiânia onde uma influenciadora fez procedimento e morreu. Aline Ferreira pagou R$ 3 mil para realizar o procedimento com Grazielly da Silva Barbosa. A polícia informou que, ao todo, deveriam ter sido realizadas três sessões de aplicação do polimetilmetacrilato (PMMA), mas Aline morreu após a primeira sessão.

"Esse CRM [usado por ela] é antigo. Eu tenho quase 20 anos de formada, formei em 2005. Meu CRM foi falsificado, eu nem conheço essa pessoa, nunca nem a vi", disse a médica.

"Estou arrasada, triste, nervosa. Um turbilhão", disse a médica.

A médica registrou um boletim de ocorrência nesta sexta-feira (5) por falsificação de documento particular. A profissional atua no Hospital Municipal de Santa Madalena, em uma UPA 24h em Campos Belos de Goiás e no Hospital Municipal Anjo Rodrigues Galvão.

O advogado Thiago Hauscar afirmou que a defesa de Grazielly Barbosa estuda o processo para decidir os próximos passos em relação aos pedidos de oitivas. Além disso, o advogado expressou solidariedade à família de Aline.

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Grazielly Barbosa foi presa pela Policia Civil na quarta-feira (3). Na quinta-feira (4), a Justiça homologou o flagrante e decretou a prisão preventiva dela.

Eny Aires reforçou que não conhecia a vítima ou a suspeita do crime e que a dona da clínica alterou os dados do nome e número do registro. Além disso, a médica afirmou que nomes de medicamentos foram escritos de forma errada e que o uso de caneta vermelha não é feito em documentos emitidos por médicos - veja abaixo carimbo da médica e receita dada por dona da clínica.

Carimbo foi mostrado pela médica Eny Aieres para mostrar os dados corretos. Receita com os dados de Eny Aires foram usados por clínica de Grazielly da Silva Barbosa, presa após a morte da influencer; — Foto: Reprodução/Globo

A delegada Debora Melo informou que a dona da clínica se apresentava como biomédica. No entanto, a mulher nunca cursou Biomedicina e não apresentou nenhum diploma de curso superior.

Segundo a polícia, Grazielly informou ter feito cursos livres na área da estética e cursado três semestres de medicina no Paraguai. No entanto, nenhum certificado, diploma ou forma de comprovação foram apresentados.

Em relação à clínica, a Vigilância Sanitária identificou que o local não possuía alvará sanitário nem profissional com habilitação técnica responsável. Além disso, a delegada contou que não foram encontrados prontuários de pacientes atendidos pela clínica no local.

"Lá não tinha prontuário de paciente nenhum. A pessoa pagava, fazia o procedimento e ia embora. Não eram requisitados exames prévios e não tinha contrato de prestação de serviço formalizando a relação entre o prestador e o consumidor", explicou Débora Melo.

Grazielly é investigada pelos crimes de lesão corporal seguida de morte, exercício ilegal da medicina, execução de serviço de alta periculosidade e crime contra a relação de consumo (ao induzir os consumidores ao erro), apontou a investigação.

Entenda o caso

Clínica Ame-se, localizada em Goiânia, Goiás — Foto: Divulgação/Polícia Civil

À Polícia Civil, o marido de Aline contou que a influenciadora morreu em 2 de julho, em um hospital particular de Brasília, onde estava internada desde 29 de junho. O procedimento foi realizado em 23 de junho, quase uma semana antes, na clínica de estética de Grazielly em Goiânia.

O marido da influenciadora afirmou que a cirurgia foi rápida e que eles retornaram para Brasília no mesmo dia, com Aline aparentando estar bem. No entanto, no dia seguinte, ela começou a ter febre.

Ele detalhou ter entrado em contato com a clínica, que justificou que a reação "era normal" e que Aline "deveria tomar um remédio para febre". Mesmo medicada, a influenciadora continuou com febre, e na quarta-feira (26), começou a sentir dores na barriga.

Segundo o marido, na quinta-feira (27), Aline piorou e desmaiou. Ele a levou ao Hospital Regional da Asa Norte (Hran), onde ficou por um dia. Depois, Aline foi transferida para um hospital particular da Asa Sul, onde morreu.

Aplicação de PMMA

Dona de clínica de estética é presa após morte de influencer

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Segundo apurado pelo g1 DF, no procedimento ao qual Aline foi submetida, foi aplicado 30ml de PMMA em cada glúteo. PMMA é a sigla para polimetilmetacrilato, uma substância plástica com diversas aplicações na área da saúde e em outros setores produtivos.

Atualmente, o PMMA tem sido utilizado para preenchimentos em tratamentos estéticos faciais e corporais, especialmente para aumentar os glúteos. A composição do PMMA pode provocar reações inflamatórias que, por sua vez, podem resultar em deformidades e necrose nos tecidos onde a substância foi aplicada.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) classifica o PMMA como de risco máximo e, por isso, recomenda que seja administrado apenas por profissionais médicos capacitados. Além disso, de acordo com a Anvisa, o produto possui uma aplicação muito específica, que é a correção de pequenas deformidades corporais após tratamentos como AIDS ou poliomielite.

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